- Mãe, porque dói tanto sair do casulo?
- Qual casulo?
- O casulo da vida... como as borboletinhas... desabrochar para a vida...
- Sair do casulo é necessário à sobrevivência delas, independente da dor. A qual casulo se refere na vida humana?
- Ao amadurecimento....
- Dói sim... Não queremos perder a proteção e a inconsciência do casulo. O sofrimento favorece e acelera o amadurecimento. Podemos amadurecer naturalmente, mas isto é raro. A alegria não deixa espaço pra isto. A dor provoca a reflexão. Sabe que sem essa passagem as borboletas não sobrevivem? É a dor que as torna fortes para viver e voar.
- Tomara que me deixe forte mesmo, mãe, porque às vezes eu acho que sem você, sem o papai, eu desmoronaria. Porque eu não me sinto madura ainda. Não sei o que a vida me reserva...
- Então, está passando da hora - nosso tempo esta acabando. Esta é minha maior angústia em relação a você. Não sei o que será de você se formos antes que se independa completamente...
- Mas vocês não vão, não é?
- Só Deus sabe esta resposta, filha, nunca sabemos quando iremos partir. Quero deixar você bem. Eu te amo tanto!
- Eu te amo muito também, mãe! Gosto de ter você por perto.
- Eu também.
- Você me conhece. Sabe que, mesmo eu não sendo tão presente, não é por falta de amor nem vontade. É porque eu sou assim mesmo, desligada. Não é por mal!
- Preocupo-me por você não estar ainda independente. Tudo pode mudar de uma hora para outra.
- Eu penso sobre isto também, por isso tenho tanto medo. A vida é muito frágil!
- Sim.
- Tenho medo de ficar sem as pessoas que eu amo, sou apegada demais.
- Eu era assim com meus pais. Especialmente minha mãe. Tive que me adaptar.
- Eu também sou assim, especialmente com você. Você é tão igual a mim! Eu sei que é! Só não entendo como, mesmo sendo tão iguais, eu ainda seja tão imatura. Mesmo você sempre me aconselhando tão bem, me dando todas as coordenadas que eu preciso. Eu só consigo aprender sofrendo, não consigo naturalmente.
- Talvez o sofrimento tenha me ajudado a amadurecer mais rápido. Pode acontecer o mesmo com você. A luta faz parte do processo da vida.
- Mas eu sofro com isto. Sofro por ser assim.
- Então decida mudar - só você pode fazer isto.
- É verdade!
- Comece por pequenas coisas, pequenos problemas, não aceite ser prejudicada. Reaja, exija seus direitos!
- Pois é, eu sou assim, só consigo resolver coisas pequenas. Quando a coisa aperta eu peço ajuda pra alguém.
- Ser ajudada faz parte do aprendizado. Mas de vez em quando você tem que aprender a voar sozinha.
- Mas eu sempre quero além da ajuda, quero que alguém faça por mim. Eu quero mudar pois é ruim essa coisa que eu sinto às vezes de estar num casulo.
- Se já sabe isto, fica mais fácil mudar. Pior seria se você não enxergasse isto!
- Isto é verdade!
- Faça enquanto estamos por perto para ampará-la, se for preciso. É como um ensaio e ensaio não é a peça oficial. Esta vai começar quando não estivermos mais por perto. Mas, ainda há muito tempo, não fique triste. Estou-estamos por aqui ainda...
- E estarão para sempre no meu coração. Eu te amo, mãe. É tão bom poder contar com você!
- Eu te amo filha, muito mesmo!