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quinta-feira, 21 de abril de 2011

Companheiras de Corredor



Era o horário de visita noturna do CTI. No silêncio do corredor vazio, passos apressados chamaram a atenção das três mulheres que já aguardavam na sala de espera. Logo uma jovem ofegante apareceu e perguntou se as visitas já haviam começado. Ela tinha o olhar assustado, característico de quem teme o que irá encontrar do outro lado da porta. Motivadas a preencher o tempo livre da espera, as quatro mulheres naturalmente começaram a conversar. Independente das diferentes relações pessoais que as levaram até ali – filha, irmãs, esposa, o sofrimento comum as igualava e logo uma solidariedade espontânea manifestou-se entre elas. Começaram a trocar suas próprias experiências diante da dor.
Alguns relatos eram ricos e a jovem de olhar assustado ouvia atentamente. Comparava, admirada, a calma das outras três mulheres com o seu próprio desassossego interno, ao pensar no estado grave em que seu pai se encontrava. Acabou contando que na sua primeira visita chorou muito e ficou desesperada, chegando mesmo a sentir-se mal. Criou uma confusão sem querer! Por isso estava com receio de entrar e tudo acontecer outra vez.
Imediatamente seu sofrimento foi compreendido e acolhido pelas demais com bondade. Algumas delas relataram passagens da própria vida, que ela nem sequer poderia imaginar antes, as quais foram superadas com atitudes de coragem e confiança diante da adversidade. Com seus exemplos de força e otimismo ensinaram que devia, acima de qualquer outra coisa, confiar na vitória da vida, ao contrário de temer a morte. Precisava transmitir vida e esperança com a voz, ao falar com seu pai, para fortalecê-lo frente à doença. Se seus ouvidos físicos não pudessem ouvi-la, seu espírito certamente receberia e canalizaria essas forças em prol da sua recuperação. Ela a tudo ouviu com grande interesse e seu espírito ávido por aprender ofereceu a terra fértil de sua sensibilidade para receber as porções de bem que cada uma delas oferecia às demais.
Quando finalmente o atendente intensivista abriu as portas para dar início às visitas, cada uma delas dirigiu-se ao Box onde estava seu ente querido. Sentiam-se diferentes daquelas que chegaram ali. A jovem, em especial, já não tinha o olhar assustado. Durante toda a visita conseguiu manter-se serena e conversou de forma amorosa com seu pai. De vez em quando olhava com alegria e gratidão para suas companheiras de corredor. Apesar da informalidade, tudo indicava que aquela conversa havia sido especial!
Quatro desconhecidas haviam dividido pedaços de sua própria história para promover uma mudança de visão e de atitude nas demais. Com as experiências trocadas, elas compreenderam que a compaixão diante do sofrimento alheio sempre deve ser maior que o próprio sofrimento. Formaram uma corrente de irradiação do bem que, ao ser compartilhado, retornara mais forte e amparara seus corações enfraquecidos pela dor.

Trilha de Sonhos



Passei pela vida espalhando sonhos por todos os lugares onde passei, desejando com eles marcar um caminho que, talvez um dia, pudesse voltar a percorrer. Essa trilha deixada foi a parte mais real de tudo que já vivi e senti. Por isso, mesmo que precise seguir em frente, de vez em quando sinto necessidade de olhar para trás. Provavelmente porque ainda deseje que, por uma graça de Deus ou obra de magia, tudo possa mudar de repente e a vida retome a antiga trilha.
Mas, enquanto os antigos sonhos não se concretizam, crio e espalho novos sonhos. A presença deles em meu coração dá sentido à minha vida e faz-me querer acordar a cada manhã. Bem sei que é necessário muito mais que um simples querer para fazer com que as coisas aconteçam. É preciso ação para realizar, concentração e determinação para vencer, além de uma grande dose de valentia para não desistir jamais! E a capacidade de extrair algo de bom de todas as situações vividas. Afinal, nenhuma situação é absoluta!

Queira Ficar Comigo!



Seu olhar ausente atravessa meu coração e, por mais que ele queira, não consegue prendê-lo por muito tempo nos meus. Você fecha seus olhos e fico sem saber onde encontrá-lo, como trazê-lo de volta para perto de mim. Talvez se refugie em algum lugar do passado, em busca de alívio e aconchego entre suas surradas lembranças, para amenizar a dureza do momento atual! Pergunto-me o que poderia lhe devolver a vontade de lutar. “Colo de mãe e ombro de pai”, penso eu. Mesmo sendo tão firmes em nossas necessárias correções, seus braços amorosos sempre se estenderam para nos consolar nos momentos difíceis. Mostravam-nos que a vida acontecia em várias direções e que sempre podíamos escolher qual a melhor para trilhar. Agora já não temos mais tantas opções e vivemos um dia de cada vez. Olho para você e meu coração se enternece, pois não sei o que o amanhã irá nos trazer! Quisera passar para você todo amor que a sua existência me desperta no calor do meu abraço. Quisera poder assumir o mesmo papel que, muitas vezes e durante muito tempo, você desempenhou na minha vida. Meu protetor, meu porto seguro, meu irmão e meu amigo. Fique comigo! Queira ficar comigo! Porque, se você decidir partir, deixará uma lacuna cada vez maior dentro de mim, ao se apagar mais um ponto de referência em minha vida!


Na figura de um, faço uma homenagem a todos os meus irmãos.

Alto risco



Quanto mais certa e próxima da vitória, mais cuidadosa devo ser para evitar que a embriaguez do triunfo coloque tudo a perder. Esta advertência é válida para todas as situações do dia a dia.  
Para isto, é importante saber administrar os resultados positivos que conquisto. É necessário ter cautela, para evitar ser surpreendida pela volta da adversidade. Geralmente, por descuido, vaidade, excesso de confiança ou crença pessoal, coloco em risco todo esforço empregado. Uma reflexão lógica, porém nem sempre fácil de identificar ou realizar na prática, pela simples pressa de atingir a meta almejada.


 

domingo, 10 de abril de 2011

Pausas...

 
 
A cada dia recebo uma nova surpresa da vida e preciso me adaptar às mudanças que ela provoca dentro de mim. Nunca tenho certeza se realmente obtenho sucesso nessa empreitada ou se apenas escondo meus medos, inseguranças, tristezas e até algum inconformismo diante de certas situações, sob uma falsa aparência de tranqüilidade. Realmente não sei! Diante de algumas dessas surpresas chego a ter a sensação estranha de que preciso cumprir com um dever de casa incômodo e que, quanto mais rápido isto acontecer, mais depressa ficarei quite com um débito que nem eu sei qual é sua origem.
Entretanto, mesmo sem saber identificar onde está a verdade, preciso acompanhar o ritmo da vida. Ora mais lento, por vezes mais acelerado, mas cada um com a sua importância. Percebo que tão instrutivos quanto eles são as pequenas pausas que acontecem entre um evento e outro. Nesses pequenos intervalos de tempo sedimento o que vivi e extraí de cada situação que a vida me colocou. É quando entro em contato com o mais profundo e verdadeiro que existe dentro de mim, vejo de onde venho e aonde quero chegar. É também quando cultivo novas esperanças e até sonho com um futuro melhor, que eu seja capaz de construir. Essas pequenas pausas duram o tempo suficiente para eu me preparar para a nova etapa que vai começar!

Despedidas...



A única certeza que podemos ter nessa vida é que nossos seres queridos não ficarão junto de nós para sempre! Não importa a ordem, muito menos os motivos que os tiram de nosso convívio. O que sabemos é que um dia todos nós, alguns antes que os outros, iremos partir! Este fato acontece todos os dias, em todos os lugares sobre a face da terra. Apesar dessa inexorabilidade da morte frente à transitoriedade da vida, não podemos evitar a dor e a saudade implícitas na despedida.
Algumas delas ocorrem de forma serena, depois de uma vida que foi bem vivida e produtiva. Outras são dramáticas e nos pegam desprevenidos, provocando grandes comoções internas. Outras ainda são sofridas, prolongadas e tiram, dia após dia, um pedacinho de nosso coração. Em todos os casos, quando acontece a partida, acreditamos que nunca mais seremos inteiros novamente, mas que precisamos sobreviver!
Contudo, as leis da criação são generosas! Elas permitem que esse pedacinho de nosso coração que foi tirado, se recomponha com as lembranças dos momentos felizes vividos com aqueles que foram a razão de nosso afeto. O bem que ofertamos e recebemos com a simples convivência com esses seres é suficiente para restaurar nosso coração partido, até que uma nova despedida aconteça e recomecemos todo o processo outra vez... Muitas vezes!
Assim, as lembranças felizes que deixamos nos corações daqueles que passaram por nossa vida são o derradeiro bem que podemos fazer aos nossos seres queridos, quando um dia também chegar a nossa vez de partir.


Homenagem a todas as despedidas da minha vida!

Qual a Hora Certa?



Diante das atuais circunstâncias meu coração se aperta, ao prever que novas mudanças podem ocorrer. Quisera ter algum poder de segurar o tempo ou voltar os ponteiros do relógio, para fazer com que os acontecimentos tivessem promovido resultados diferentes dos atuais. Infelizmente, só percebo que eles não são os melhores quando já estão a meio caminho e não é possível mais voltar atrás.
Na vida basta, muitas vezes, uma decisão tomada na hora certa para mudarmos o curso dos acontecimentos. Um telefonema, uma palavra de afeto, um abraço, um pedido de perdão, um sorriso, uma prevenção, uma pequena atenção; uma corajosa verdade ou uma caridosa omissão. Entretanto, a falta de condições para avaliar todas as possibilidades termina por levar-nos a resultados que nem sempre são os mais felizes.
Olho hoje para você e quisera ter-me adiantado ao tempo, para evitar seu sofrimento atual. Quisera tê-lo amado ainda mais e impedido que os fatos chegassem ao ponto que chegaram - bastaria ter cortado o mal pela raiz! Mas, dentro de minhas limitações humanas, fui falível e cega diante das evidências e não consegui salvá-lo de você mesmo!

Para o meu irmão/amigo/pai/padrinho...

Para o Resto de Nossas Vidas...



No transcorrer da vida, a cada dia passamos pelas mais variadas experiências. Encontros e separações, notícias felizes, momentos de dor, batalhas perdidas, problemas enfrentados e resolvidos etc. Uma diversidade de fatos motivam ações e reações correspondentes, e promovem as mais diferentes emoções. Muitas delas esqueceremos rapidamente, enquanto outras serão lembradas para o resto de nossas vidas. Entre estas últimas, aquelas que despertam gratidão são as mais inesquecíveis, porque mantêm perto do nosso coração, seres que muitas vezes já estão longe fisicamente.
Recordar esses momentos e esses seres traz implícito o amor que permeia toda a criação e que chegou até nós quando mais precisávamos dele! Os nomes desses seres ficarão gravados com letras de ouro no livro de nossa história, mesmo que tenham ficado apenas o tempo suficiente para fazer-nos um bem e depois tenham seguido seus próprios caminhos. Afinal, o bem não se mede pelo seu tempo de duração, mas por sua intensidade e pelas repercussões positivas que promove em nossa maneira de enxergar nossos semelhantes e a vida.


Para todos aqueles que fizeram a diferença na história da minha vida!