Era o horário de visita noturna do CTI. No silêncio do corredor vazio, passos apressados chamaram a atenção das três mulheres que já aguardavam na sala de espera. Logo uma jovem ofegante apareceu e perguntou se as visitas já haviam começado. Ela tinha o olhar assustado, característico de quem teme o que irá encontrar do outro lado da porta.
Motivadas a preencher o tempo livre da espera, as quatro mulheres naturalmente começaram a conversar. Independente das diferentes relações pessoais que as levaram até ali – filha, irmãs, esposa, o sofrimento comum as igualava e logo uma solidariedade espontânea manifestou-se entre elas. Começaram a trocar suas próprias experiências diante da dor.
Alguns relatos eram ricos e a jovem de olhar assustado ouvia atentamente. Comparava, admirada, a calma das outras três mulheres com o seu próprio desassossego interno, ao pensar no estado grave em que seu pai se encontrava. Acabou contando que na sua primeira visita chorou muito e ficou desesperada, chegando mesmo a sentir-se mal. Criou uma confusão sem querer! Por isso estava com receio de entrar e tudo acontecer outra vez.
Imediatamente seu sofrimento foi compreendido e acolhido pelas demais com bondade. Algumas delas relataram passagens da própria vida, que ela nem sequer poderia imaginar antes, as quais foram superadas com atitudes de coragem e confiança diante da adversidade. Com seus exemplos de força e otimismo ensinaram que devia, acima de qualquer outra coisa, confiar na vitória da vida, ao contrário de temer a morte. Precisava transmitir vida e esperança com a voz, ao falar com seu pai, para fortalecê-lo frente à doença. Se seus ouvidos físicos não pudessem ouvi-la, seu espírito certamente receberia e canalizaria essas forças em prol da sua recuperação. Ela a tudo ouviu com grande interesse e seu espírito ávido por aprender ofereceu a terra fértil de sua sensibilidade para receber as porções de bem que cada uma delas oferecia às demais.
Quando finalmente o atendente intensivista abriu as portas para dar início às visitas, cada uma delas dirigiu-se ao Box onde estava seu ente querido. Sentiam-se diferentes daquelas que chegaram ali. A jovem, em especial, já não tinha o olhar assustado. Durante toda a visita conseguiu manter-se serena e conversou de forma amorosa com seu pai. De vez em quando olhava com alegria e gratidão para suas companheiras de corredor.
Apesar da informalidade, tudo indicava que aquela conversa havia sido especial!
Quatro desconhecidas haviam dividido pedaços de sua própria história para promover uma mudança de visão e de atitude nas demais. Com as experiências trocadas, elas compreenderam que a compaixão diante do sofrimento alheio sempre deve ser maior que o próprio sofrimento. Formaram uma corrente de irradiação do bem que, ao ser compartilhado, retornara mais forte e amparara seus corações enfraquecidos pela dor.