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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Meus Traços...



Com a ponta preta do lápis
No branco espaço da folha
Construo caminhos de vida
No contorno sinuoso das letras.

Sobe e desce a mão,
O traço se estica na linha.
Salpico espaços entre cada palavra
Como quem salpica no escuro do céu,
um punhado de estrelas.

Nesse mundo de traços,
Dou forma aos meus versos -
Na cadência do tempo, de antes ou depois.
No presente de agora encontro outros temas,
Que pintei de esperança e deixei pra você.

Mas... na pausa do verso, no pulo da linha,
O olhar escorrega, faz outros caminhos.
Nos traços que hoje desenham meu corpo
Encontro segredos, leio outras histórias –
Se a vida escreveu, as letras perpetuaram.

Verdades Escondidas




Cada ser guarda dentro de si a sua própria verdade. O que um sabe, não necessariamente o outro precisa ou pode saber de igual forma. A não ser que haja permissão e confiança mútuas e se perceba no outro a disposição de ouvir, sem restrições, um lado diferente da história. Ninguém pode dizer que nunca guardou um segredo, que pensou não revelar a ninguém. Por experiências várias, cada um já comprovou que a verdade nem sempre é a ponte que o aproxima dos demais. Ainda mais que por ela também podem passar algumas decepções de volta. Por esse motivo é que às vezes se omite pequenos detalhes de um fato ou de uma informação, pois dizer toda a verdade pode não ser o melhor que se tem a oferecer a alguém. Esses pequenos segredos são guardados a sete chaves, como se eles fossem a fortaleza que protege a parte da alma, ainda vulnerável, frente ao olhar inquiridor dos demais. Isto não significa que esta atitude esconda um fato ou um ato ilícito, uma conduta condenável. Pode ser apenas um sonho louco que nunca foi esquecido, uma dor escondida que deixou suas marcas, um sentimento impossível que teima em não morrer. Ou apenas meras perguntas, que nem todos os livros reunidos e nem todos os tempos vividos souberam, ao certo, responder!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

História em quatro tempos



aquela menina franzina
que nasceu no interior de minas
brincava de pique, de pular corda,
de corre cutia, de cirandinha,
de fazer tudo que o rei mandava
- criança, era feliz e nem sabia!

a menina cresceu, virou mocinha,
descobriu um dia que o amor existia
deixou de lado as brincadeiras
deitou na grama, olhou a lua
pegou vaga-lumes, pensando em estrelas
- acreditou que tinha tudo que queria!

o tempo passou, a vida correu
aquela mocinha, senhora se tornou
sem atrativos a vida ficou
trabalho, filhos, marido - tudo mudou!
ela tentou, nunca alcançou
- perdeu o amor eterno que jurou! ‎

mas, a história assim não terminou.
adormecida, enfim a bela despertou
nas lutas da vida, conquistou sua paz
com o lucro das tristezas vencidas
comprou passagem de ida pra “Passárgada”
agora, já não volta mais – sabe que é feliz!

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Banho de Chuva

 
 
Ela olhava a chuva que, literalmente, desabava do céu! Nuvens escuras se alternavam com pequenas ilhas azuis, por onde escapavam alguns tímidos raios de sol, que pareciam brincar de pique esconde no céu. Trovões ecoavam ameaçadores, intimidando aqueles que ainda pensavam se arriscar a sair de casa. O barulho era ensurdecedor e sugeria uma grande briga no céu! Mas, quando seus olhos desceram para buscar a terra, capturaram uma cena, no mínimo surpreendente! Na rua que ficara deserta precipitadamente, três crianças saltavam sobre as poças d’água que se formaram no asfalto. Seus vultos, desenhados contra um resto de luz, espalhavam a água da enxurrada no ar que, transformada em pequenas gotículas, se misturava outra vez com a chuva. Os pequenos corpos encharcados, assim livres, movimentavam-se se como se estivessem a ensaiar o balé de uma sinfonia inaudível. Braços e mãos para cima, pareciam fazer uma prece de agradecimento à natureza. A luz mortiça do dia escurecido prematuramente tornava a cena quase irreal e mexeu com a sua imaginação. Capturada pelos olhos, chamou outras imagens similares, que estavam guardadas no seu coração de mulher, que também já foi ...

“aquela menina franzina,
que nasceu no interior de minas,
brincava de pique, de pular corda,
de corre cutia, de cirandinha,
de fazer tudo que o rei mandava
- criança, era feliz e nem sabia!”

Um Salto no Escuro




Algumas luzes já estão acesas nos edifícios à frente e fazem um contraste bonito contra o céu enfumaçado de outono. Já é madrugada! O resto de noite no céu faz lembrar que logo o dia vai nascer por completo e a luz vai revelar as intimidades que ela criou. Ele caminha até a enorme janela e seu olhar se alonga para além do horizonte. Segura entre as mãos uma xícara de café fumegante e bebe o líquido escuro vagarosamente. Naquela instante de pausa forçada, tenta afugentar o resto de sono que pesa sobre suas pálpebras. Tem muito trabalho a cumprir, antes que o dia termine outra vez. Precisa escrever o último capítulo do livro para entregá-lo à editora e não sabe como reconciliar os protagonistas principais da história. Criou tantas dificuldades para eles durante a trama que está complicado desfazê-las sem que as ações pareçam irreais.
Mas, já aprendeu que no papel sempre há um jeito de remediar as dificuldades, enquanto que na vida as coisas não são tão simples assim.
Esta reflexão imediatamente atrai uma imagem de mulher para sua mente e sua boca se contrai imperceptivelmente. Recorda, com um toque de amargura, seu olhar carinhoso e seu sorriso contagiante. Ele a amou por um longo tempo! Mas, contra todos os prognósticos, aquele fora apenas o seu sonho. Depois de tudo, ela seguiu o seu próprio sonho e, infelizmente, ele não fazia parte dele. O amor que foi por tanto tempo dividido se transformou num monólogo solitário, compartilhado apenas com as lembranças que ela deixou. Não há mais nada que possa fazer!
- Talvez, ele pensa, esta seja uma das razões para gostar tanto de escrever. Uma forma sutil de recompensar-se pelo que não tem como resolver na sua vida.
Agora as formas do outro lado da janela já estão mais definidas. O movimento de pessoas e carros indo e vindo pela rua começa a ficar mais intenso. Ele respira profunda e calmamente o ar mais morno da manhã que começa. Depois de alguns minutos volta ao computador e recomeça a escrever. Trabalha intensamente. A tarde ainda está a meio quando finaliza o último capítulo.
- Tudo foi resolvido, bem ao gosto do leitor! Apenas a vida continua como um grande salto no escuro!

Ingredientes da Vida



O grande sonho de todos os seres humanos é ter uma receita única e perfeita para viver bem. Infelizmente, ninguém pode dizer que já conseguiu criá-la! Sobram fórmulas milagrosas e faltam resultados realmente efetivos. Ainda estamos no estágio de identificar, selecionar e experimentar a combinação de diversos ingredientes, na busca de resultados felizes e compensadores. Por vezes os ingredientes que mais gostamos, ao serem misturados, não dão os resultados esperados. Erramos na proporção de cada um em relação aos demais e os planos não se concretizarem conforme nossos objetivos. Ou exageramos, ou reduzimos a dosagem e a receita desanda! Outras vezes não sabemos escolher ingredientes de qualidade e usamos qualquer um que esteja diante de nossos olhos, o que torna a mistura intragável, sendo necessário recomeçar tudo outra vez. Nessa procura, avançamos e retrocedemos inúmeras vezes; comemoramos resultados felizes e sofremos decepções. Em todas as situações, a busca de uma vida plena e feliz é colocada como nosso ideal maior. O que nos mantém alertas é pensar que chegará o momento em que finalmente saberemos selecionar e utilizar corretamente todos os ingredientes que nos foram disponibilizados por Deus. Mas, os resultados sempre serão proporcionais ao nosso desempenho no decorrer de todas as tentativas!