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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Só uma parte da história


A vida nem sempre é o que sonhamos, nem o que acreditamos ser verdade. Nossos olhos vêem pequenas partes do todo e nunca a história integral. Mesmo sabendo disso, sua mente sentiu-se atraída pela imagem à sua frente. Na plataforma vazia da estação de trem um rapaz aguardava. Tinha expressão séria, reforçada pelos óculos de lentes escuras, quase pretas. O contexto lhe pareceu intrigante e, inevitavelmente, atiçou sua imaginação. Naquele rosto jovem e bonito havia uma história a ser contada, mesmo que não fosse possível decifrá-la apenas com o olhar. Suspirou, enquanto seus olhos vagavam pelo local. Com tempo disponível para criar, começou a tecer conjecturas.
Que circunstancias e fatos haviam conspirado para criar aquele momento? Que motivos teriam levado o rapaz até aquela cidade? Por que estava ali sozinho? Teria se atrasado para o horário de partida do trem? Ou simplesmente havia se antecipado? Teria deixado para trás alguém triste com a sua partida? Ou teria alguém ansioso a esperar por ele em outra plataforma do caminho? Teria vindo até ali por um amor, um trabalho ou um amigo? Ou partia em busca de seu amor, cansado da própria solidão? Voltava ao seu ponto de partida? Ou partia dali para ganhar o mundo?
Naquela simples imagem havia causas e consequências a avaliar... Ela lhe fez lembrar um episódio semelhante, que parecia a cena de algum filme ou de uma história esquecida no tempo.
“Ele desceu do trem apressadamente, desviando-se das pessoas que se amontoavam ao longo da estação. Olhava atentamente os rostos que passavam ao seu lado. Parecia estar à procura de apenas um, que ainda não conseguira encontrar. Olhou de um lado para outro, com olhar quase angustiado. Indiferente à ansiedade expressa em seu olhar, a plataforma começou a se esvaziar pouco a pouco. Depois de alguns instantes, pareceu aceitar os fatos e dispôs-se a esperar. O som ritmado do telex, que saia de alguma das portas que se abriam para o saguão, quebrava o silencio de tempos em tempos. Depois de alguns instantes, recostou o corpo contra a parede e aquietou-se, equilibrando-se ora em uma perna, ora em outra. Depois, tirou um papel dobrado de seu bolso e abriu-o cuidadosamente. Seus olhos detiveram-se em algum ponto, com se quisesse certificar-se de algum pequeno detalhe que lhe passara despercebido. Seu semblante pareceu suavizar. Tudo indicava que seu conteúdo era a causa para estar ali – talvez, um apelo impossível de ser ignorado.
Em certo momento levantou rapidamente o rosto, como se tivesse pressentido uma presença. Seu olhar cruzou com o olhar da moça que caminhava em sua direção. No mesmo instante seu semblante desanuviou. Ainda permaneceu imóvel algum tempo, como se não soubesse o que fazer - ficava onde estava, caminhava ao encontro dela ou corria, com a mesma pressa que sentia seu coração? No rosto da mocinha surgiu um sorriso tímido, como se também estivesse insegura quanto ao que deveria fazer. Até que os dois se desarmaram e aconteceu o abraço, o beijo, misturado com lágrimas de alívio e felicidade. Neste exato instante se ouviu o trem apitar distante, avisando sua passagem.”
De volta à cena presente, ela olhou mais uma vez para o jovem desconhecido. Nesse exato momento ele se virou, como se alguém tivesse chamado seu nome. Um grupo barulhento de jovens caminhava em sua direção, conversando e gesticulando animadamente. Um grande sorriso surgiu no seu rosto! Logo todos estavam reunidos e suas vozes alegres preencheram o silencio da plataforma.
Aos poucos começaram a chegar novos passageiros. O trem apitou à distância, anunciando sua chegada!

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