No primeiro momento, foi a expressão de seu rosto, que o outro olhar à distância capturou. Misturada com a multidão, ela estava completamente enfeitiçada pelo ser quase sobrenatural que se movimentava no centro do círculo. Ele tinha a pele e a vestimenta, à moda francesa do final do século XIX, pintadas de dourado envelhecido. Usava um chapéu D’orsay sobre a cabeça e o conjunto lhe dava a aparência de um cavalheiro recém-saído de algum livro de contos antigos. Os olhos dela acompanhavam atentamente seus movimentos entrecortados, à semelhança de um boneco de corda. Por um instante mágico ela foi atraída e presa pelo seu olhar penetrante e levada a outro tempo, onde ela era a dama e ele seu aristocrático cavaleiro.
De repente ela pareceu voltar ao mundo real e procurou à sua volta, em busca do rosto conhecido que a resgataria daquele encantamento. A surpresa primeiro, depois um traço de pânico, ficaram marcados na segunda imagem. Seus olhos expressavam o receio de todos os perigos a que se via exposta em terras estrangeiras, enquanto vagavam de um lado a outro, em busca daquele que, em silencio e em segredo, estava a observá-la.
No terceiro momento, o foco de seu olhar encontrou o foco dos olhos dele à distância. Esta primeira troca de olhares registrou o momento que antecede o reconhecimento, à sensação de alívio e segurança de saber-se reintegrada à realidade.
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