A
pequena bailarina, vestida com collant e tutu em forma de pétalas, saltita de
um lado para o outro do minúsculo palco, sustentada por imaginários e finos
fios. Braços em arco, suas pernas sobem e descem harmoniosamente. Ora faz
piruetas, ora mantém um frágil equilíbrio na ponta dos pés, enquanto é
conduzida pelas mãos firmes e hábeis de seu criador.
Por
um instante me compadeço dela, vendo-a assim atada ao querer de quem a conduz.
Afinal, toda bailarina sonha com uma apresentação onde ensaie seus próprios passos,
com a necessária liberdade para expressar sua arte. Nesses momentos, sua alma
de artista se desprende das limitações do corpo e alça voos mais altos,
deixando-se levar apenas pela inspiração que guia seu coração.
Como
esta pequena bailarina, eu também já fui atada aos fios de todos os pensamentos
ancestrais que determinaram meus passos e não foi tarefa fácil conquistar a
liberdade para fazer o ensaio de minha própria dança. A dúvida e o medo do
desconhecido mantinham-me tão presa quanto os fios que limitam agora seus
movimentos. Antes de rompê-los, foi necessário um esforço contínuo para aprender
a sustentar-me sozinha sobre meus próprios pés.
Enquanto
essas imagens e pensamentos se desenvolvem no refúgio de minha mente, no palco
à minha frente a pequena bailarina encerra sua apresentação e se curva
graciosamente diante da plateia. Vários pares de olhinhos atentos estão presos
ao seu encantamento que, para acontecer, não pode ainda se soltar dos fios...
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