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domingo, 29 de julho de 2012

Quando Tudo Era Brincadeira



Menina nascida no interior de Minas, lembro-me com saudade dos folguedos que faziam a festa entre a criançada e que eram, na sua grande maioria, diferentes desses que a garotada gosta de brincar nos dias atuais. Tudo era simples e as brincadeiras realmente infantis, onde a improvisação supria o que os pais de famílias numerosas não pudessem comprar. A nossa imaginação fazia o resto. Telefones sem fio eram feitos de latas de leite condensado, furadas no fundo e unidas por um longo fio de barbante. Até hoje não tenho certeza se o som era mesmo transmitido pela vibração no fio esticado ou se era nossa empolgação que nos fazia falar mais alto que o normal, deixando que nosso parceiro de brincadeira escutasse à distância. Para fazer bolhas de sabão, depois de derrete-lo na água, fazíamos um canudinho com o talo da folha de mamoeiro, que é oco por dentro. Era uma alegria ver as bolinhas multicoloridas subirem no ar até estourarem. Para brincar de “piloto”, usávamos uma parte do cabo de uma vassoura velha, que era transformado em bastão. O restante era apontado dos dois lados e, quando o bastão batia sobre uma delas, o toquinho de madeira fazia piruetas e era rebatido no ar. Jogávamos Cinco Marias com pedrinhas ou saquinhos de pano cheios de arroz ou areia, passávamos anel de mão em mão para os outros descobrirem em qual delas havíamos depositado a prenda. Quando as chuvas chegavam, a terra úmida e macia se tornava o campo perfeito para brincar de finca ou bolinhas de gude. Confesso que até hoje não sei as regras que faziam traçar os caminhos no chão, de um jeito e não de outro. Carrinhos de rolimã surgiam dos restos de um caixote de madeira, onde se colocavam rodinhas nas duas barras transversais. Obedecendo a fila, uma criança ficava sentada enquanto outra empurrava e, na corrida, as rodinhas riscavam o passeio de fora a fora. Outras vezes usávamos aros velhos de bicicletas, que eram conduzidos pela rua, equilibrados de um lado e outro por uma vareta. As apostas de corrida eram incentivadas pela gritaria da torcida. Para brincar de amarelinha ou pular maré, como se chamava no interior, riscávamos os quadrados na calçada, aos pares ou um só, finalizando com uma casa em forma de arco, que era o céu. Saltávamos com um ou com os dois pés e, a cada vitória, as “casas” eram enfeitadas, marcando nela o nome do ganhador. Jogávamos queimada com bola de meia e corríamos para não sermos atingidos pelo lado adversário. Além de defendemos nossa posição, evitávamos a bolada, que sempre doía muito! Quando um “rei” assumia o comando, fazíamos tudo que ele mandava. Também brincávamos de roda, nas noites frias e enluaradas, cantando cantigas que falavam do céu estrelado, o que faríamos se “esta rua fosse minha”, que o “cravo brigou com a rosa”, que a canoa virou, que a Teresinha de Jesus, numa queda, foi ao chão. Recitávamos “corre cotia, de noite e de dia, debaixo da cama de dona maria”, enquanto corríamos atrás do menino ou menina que havia deixado um objeto qualquer atrás de nós. Tinha pique pega, pique esconde, estátua, rouba bandeira, que antes era só na brincadeira. Empinávamos pipas de papel de seda colorido, evitando ao máximo que a nossa linha fosse cortada pelo cerol da pipa vizinha. E, enquanto tudo isto acontecia, aprendíamos a conviver, a nos defender, a dividir e compartilhar - a fazer e manter novas amizades, conservando os velhos amigos. Se existiam brigas, fazíamos as pazes em igual proporção. Ríamos, brincávamos, corríamos até cansar! Éramos crianças felizes... e sabíamos disso!

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