Naquele dia, como se
fosse uma criança, o vento acordou logo cedo, com vontade de brincar. Soprou a
roupa branca do varal da Maria e levou para bem longe, onde ela custasse a
encontrar. Carregou o chapéu de Seu João e foi depositar nos braços da vizinha,
que ele admirava de longe, sem ter coragem de se aproximar. Pegou o laço de
fita da Joaninha e desmanchou. Ela voltou para casa chorando e pediu para a mãe
arrumar. Levantou a saia da moça bonita que andava devagar, só para encantar o
rapaz que espiava da janela, o que o fez suspirar com suas prendas. Desenhou redemoinhos com as folhas das árvores espalhadas pela calçada da praça,
recriando um balé sem pernas e sem braços. Derrubou alguns doces deliciosos que
a Cidinha colocou para secar sobre a mesa do quintal, para a alegria das
crianças, que antes, nem perto podiam chegar. Espalhou as rosas que a Vera
deixou no parapeito da varanda, enquanto foi buscar o vaso. Cada uma delas caiu
no colo de alguém que precisava viver essa alegria. Fez voar para bem alto e
bem longe a pipa que Pedrinho ganhou, até ela virar um pontinho no céu. Naquele
dia ele se sentiu o melhor empinador de pipas da região!
Mas, esse vento brincalhão não pertence aos dias de hoje. Ele existiu nos meus tempos de menina, lá pelas serras de Diamantina, quando a natureza também gostava de brincar! Hoje ela já não está tão feliz. De tão sofrida e judiada, perdeu sua graça e devolve, com força multiplicada, as agressões que o homem lhe faz.
Mas, esse vento brincalhão não pertence aos dias de hoje. Ele existiu nos meus tempos de menina, lá pelas serras de Diamantina, quando a natureza também gostava de brincar! Hoje ela já não está tão feliz. De tão sofrida e judiada, perdeu sua graça e devolve, com força multiplicada, as agressões que o homem lhe faz.