blog

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Travessuras de um Vento Antigo



Naquele dia, como se fosse uma criança, o vento acordou logo cedo, com vontade de brincar. Soprou a roupa branca do varal da Maria e levou para bem longe, onde ela custasse a encontrar. Carregou o chapéu de Seu João e foi depositar nos braços da vizinha, que ele admirava de longe, sem ter coragem de se aproximar. Pegou o laço de fita da Joaninha e desmanchou. Ela voltou para casa chorando e pediu para a mãe arrumar. Levantou a saia da moça bonita que andava devagar, só para encantar o rapaz que espiava da janela, o que o fez suspirar com suas prendas. Desenhou redemoinhos com as folhas das árvores espalhadas pela calçada da praça, recriando um balé sem pernas e sem braços. Derrubou alguns doces deliciosos que a Cidinha colocou para secar sobre a mesa do quintal, para a alegria das crianças, que antes, nem perto podiam chegar. Espalhou as rosas que a Vera deixou no parapeito da varanda, enquanto foi buscar o vaso. Cada uma delas caiu no colo de alguém que precisava viver essa alegria. Fez voar para bem alto e bem longe a pipa que Pedrinho ganhou, até ela virar um pontinho no céu. Naquele dia ele se sentiu o melhor empinador de pipas da região!
Mas, esse vento brincalhão não pertence aos dias de hoje. Ele existiu nos meus tempos de menina, lá pelas serras de Diamantina, quando a natureza também gostava de brincar! Hoje ela já não está tão feliz. De tão sofrida e judiada, perdeu sua graça e devolve, com força multiplicada, as agressões que o homem lhe faz.

Um comentário:

Unknown disse...

Que lindo mãe!! ♥