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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Fotografia...




Congelo numa imagem,
o pedaço de um instante
Capturo a alegria de um sorriso
A rapidez de um momento de vitória,
Reavivo a saudade de quem fui
e já não sou...
Prendo a beleza de uma flor,
Vejo a paisagem distante –
Que assim fica mais próxima.
Olho o passado que não volta,
Um presente que também já passou.
Quando eu a olho, com meus olhos de agora,
Vejo o que outrora não vi.
Com a pressa de viver,
No desejo de ser só feliz.
Na fotografia gravo o instante,
Que se hoje já não volta,
Deixa voltar a vontade
De voltar a ser feliz...

A Pedra do Tempo

Sento na pedra do tempo e aguardo que o transcorrer das horas me permita saber as coisas que não sei e revele como posso me encontrar. Um sentimento de compaixão universal me acolhe, acalenta meu espírito e ameniza a dor que é parte do existir. Vivo em mim; luto por mim! Vislumbro o horizonte amplo e sereno, onde as tempestades se tornam menos frequentes, o que permite ver o azul do céu e o sol que agora volta a brilhar. Memórias de antigos sofrimentos tentam se aproximar e as transmuto em luz, para me orientar pelas sendas do presente, mas retiro delas todo o poder de fazer-me sofrer. Nada que acontece é imposto, porque tudo é decorrente de minhas escolhas, mesmo quando as minhas escolhas mudam. Uma vez tive um sonho, onde era apenas um ponto de luz no universo, que representava minha consciência individual. Buscava por outros pontos de luz, outras consciências individuais, porque sabia que o conhecimento do Todo seria a união de todos os conhecimentos individuais. Em cada um de nós existe uma pequena parte do todo universal, ainda que não seja possível compreender isto imediatamente. Ainda que seja preciso viver muitas vidas para descobrir que ninguém é mais que o outro e que todos somos apenas Um!

O Próprio Caminho




Ela sentou-se na cama, o coração acelerado, sentindo a ansiedade contida nos instantes finais do sonho! A cena vinha se repetindo insistentemente nos últimos tempos: queria chegar a um determinado lugar, mas, depois de inúmeras tentativas e voltas, continuava sem encontrar o caminho. Se o cenário mudava ou mudavam as pessoas envolvidas de um sonho para o outro, permanecia a mesma sensação de ansiedade, angústia e impotência por não conseguir concluir o trajeto. Para acalmar-se um pouco, decidiu acender a luz e colocar as idéias no papel. Precisava aproveitar a insônia compulsória para livrar-se do que a estava incomodando.
Várias perguntas surgiram em sua mente: estaria se sentindo perdida diante dos acontecimentos de sua vida? Ou a questão era saber que caminho a levaria onde desejava chegar? Ou, mais especificamente, a necessidade era encontrar o seu caminho para atingir suas metas?
Diante do impacto dessa última pergunta, constatou que muitos de seus próprios sonhos não tinham sido ainda alcançados. Em contrapartida, havia assumido sonhos que não eram seus, trilhado caminhos que não foram escolhidos por ela e nem atendiam aos anseios de seu coração. Havia ajudado a materializar os ideais de outras pessoas, deixando que os seus ficassem em segundo ou terceiro plano.
Ainda que esta não fosse a análise correta, encaixava-se perfeitamente no momento. Trazia à luz uma parte de sua vida, à qual nunca havia dado atenção. Este seria o motivo para o sonho se repetir tantas vezes - para ela se dar conta dessa lacuna? Para confiar e ter a necessária coragem de arriscar-se para alcançar suas metas? Sua sensibilidade mostrava que era chegado o momento de escolher o seu próprio caminho e atender aos anseios de sua individualidade.
Esclarecidos os motivos de sua ansiedade, voltou para a cama e adormeceu serenamente...

domingo, 23 de setembro de 2012

Sem Ensaio

Entre a grandeza e a fragilidade, a vida acontece. Um segundo a mais ou a menos pode determinar sua continuidade ou sua interrupção, sem passar por qualquer tipo de ensaio! Tudo o que vivo e faço faz parte da peça oficial e fica registrado para sempre. Posso reparar meus erros, mas não posso apaga-los simplesmente. Por isso é tão necessário cuidar que pensamentos, palavras e ações estejam harmônicos entre si e voltados para o bem. Manter minha atenção no presente, para evitar o arrependimento pelo passado, ou a ansiedade quanto ao futuro que ainda não chegou. Um já passou e o outro é resultado do que foi feito antes, então pode ser concebido. Porém, nem sempre eu me lembro deste poder que tenho em minhas mãos e não me empenho em usá-lo a meu favor. Em muitos momentos esqueço que posso preparar minhas próprias porções de felicidade diária!

[Re]Começo



Seu coração bate no meu peito, compassadamente! Agora posso acordar a cada manhã e fazer planos para construir minha felicidade. O ritmo é repousante e faz-me pensar em savanas douradas que ondulam ao vento ou cerrados que brilham verdejantes, onde meus pés caminham em câmera lenta. Dou um passo de cada vez. Agarro com as mãos do entendimento esta nova realidade e reavivo meu sonho de viver. Este bem poderia passar quase anônimo, se não fosse a familiaridade quase intimista, que liga meu corpo ao seu coração. Estranha realidade esta, que de um lado é tristeza e do outro é vida. De um lado é ponto final e do outro é o recomeço de uma antiga história. Devo esta alegria a este inesperado destino que nos uniu sem nem mesmo nos conhecermos. Que nos aproximou pela essência, mesmo desconhecendo nossa forma. Hoje sinto em mim a presença de alguém que não conheço, sou parte da falta de alguém que nunca vi, mas que satura minha vida de gratidão. Compreendo, afinal, que nenhum lado é diferente do outro, porque ambos fazem parte de um mesmo processo. Pode ser que um dia, essa parte de você que está em mim, encontre outra parte de você por aí. Talvez elas se atraiam pelas experiências em comum vividas. Ou pode ser que se cruzem, sem que eu perceba este elo invisível, que fez do meu, a continuidade de seu destino.


Homenagem aos anônimos doadores de órgãos...

Avesso

 
 
O que doía muito antes, hoje já está suportável. O que fazia sofrer há algum tempo atrás, agora provoca apenas um certo desassossego no coração. O que antes era a noite de seus sentimentos, hoje é o alvorecer de um novo dia, que traz com ele a promessa implícita de novas oportunidades e recomeços. Para livrar-se dos últimos traços de tristeza, vira seu coração do avesso e limpa todos os vãos escondidos, para deixar espaço livre para o que de bom a vida tem para lhe oferecer. Até o sol, que andava desaparecido do seu céu particular, voltou a iluminar e aquecer seu corpo, provocando um gostoso arrepio de prazer. Viva! Sente-se viva, integrada, completa! Sente-se inteira no tempo presente – pés, corpo, mente! Faz suas escolhas, estabelece suas prioridades. O que é bom, fica! O que já deixou de ser bom, apaga e reescreve. Simples assim! Quem disse que viver é complicado?

Ato Falho

Naquele momento de descontração, o nome veio naturalmente, lá do fundo do inconsciente, e verbalizou-se com naturalidade... Tanta, que lhe passaria despercebido se ela não tivesse se desvencilhado dele, com a interrogação e a surpresa estampadas no olhar, a espera de uma explicação. Levou ainda alguns segundos para dar-se conta que havia feito ou dito algo errado! Revisou em vão suas últimas palavras. Olhou para ela e perguntou:
- O que foi que aconteceu? Porque está me olhando desse jeito?
O olhar dela ficou sombrio e começou a soltar pequenas chispas de indignação! Ele começou a ficar preocupado! Meu Deus, o que teria deixado escapar? Forçou um meio sorriso, tentando desviar a atenção dela.
Então ela soltou a bomba!
- Quem é Elisa?
Ele perdeu a cor, mas recompôs-se rapidamente e respondeu de forma indiferente:
- Elisa? Conheço tantas elisas... Tem até uma moça que trabalha lá no escritório com este nome. Como esbarrei com ela hoje, devo ter ficado com seu nome na cabeça.
Intimamente, torceu para que a conversa terminasse por ali. Infelizmente, esta não era a intenção dela.
- Não... acho que eu já ouvi esse nome antes.
Depois de alguns segundos, continuou:
- Estou lembrando que sua mãe ou seu irmão contaram sobre uma antiga namorada, pela qual você foi muito apaixonado. O nome dela era Elisa!
Deixando os bons modos de lado, sua voz começou a se alterar – passou pelo ciúme, depois o despeito e chegou na raiva.
- O que significa isto? Por que falou o nome dela agora? Está lembrando dela porque?
Chateado com tantas perguntas, ele apelou:
- Ah, pelo amor de Deus!!! Não tenho tempo para essas bobagens! O que está passando por sua cabeça? Tudo isto por causa de um nome?! Está sem o que fazer, só pode!
Depois disso saiu da sala pisando firme, mostrando uma segurança muito maior do que sentia no momento. Quando saiu de linha de visão dela, soltou um suspiro de alívio, pedindo a Deus que ela não fosse atrás dele!
- Essa foi por pouco, pensou!
Chateado consigo mesmo, pensou que precisava ter muito cuidado com as lembranças guardadas. Elas vêm à tona nos momentos mais inapropriados. Uma pequena semelhança nas situações pode favorecer erros impensáveis, que podem encerrar um significado mais profundo se analisados. O ato falho pode ser um sintoma – a constituição de compromisso entre o intuito consciente da pessoa e o reprimido.
Esta noite ele dormiu no sofá da sala...