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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Muxarabiê


 
Da calçada, os casarões enfileirados parecem soldados a postos! Como guardiães de tradições centenárias, eles ocultam, na penumbra criada pelo muxarabiê da janela, os olhares de quem do outro lado tudo vê, mas não precisa se mostrar. Pelas ruas estreitas e solitárias, muitos já passaram, tentando adivinhar o que se escondia do lado de lá da janela. Talvez segredos bem guardados, alguns preconceitos, o falso poder de contar o que ninguém viu e acrescentar o que não viu. Talvez ocultem sonhos por se realizar, o suspiro de um amor platônico que não vingou, a tristeza sem fim de quem pensa que tentou, mas nunca conseguiu ser feliz.
Com o passar dos anos, a revolução industrial e tecnológica vieram acrescentar às anteriores, novas formas de se ocultar aos olhos dos demais, mantendo a mesma posição privilegiada de ver, sem se mostrar.  Hoje temos as películas escuras dos carros, óculos que ocultam os olhos, internautas que vasculham secretamente a vida alheia. Apenas uma se mantém, desde que o homem começou a fazer uso da linguagem - as palavras que não revelam as reais intenções de quem as profere.  

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