Da calçada, os casarões enfileirados parecem soldados
a postos! Como guardiães de tradições centenárias, eles ocultam, na penumbra criada
pelo muxarabiê da janela, os olhares de quem do outro lado tudo vê, mas não precisa
se mostrar. Pelas ruas estreitas e solitárias, muitos já passaram, tentando
adivinhar o que se escondia do lado de lá da janela. Talvez segredos bem
guardados, alguns preconceitos, o falso poder de contar o que ninguém viu e
acrescentar o que não viu. Talvez ocultem sonhos por se realizar, o suspiro de um
amor platônico que não vingou, a tristeza sem fim de quem pensa que tentou, mas
nunca conseguiu ser feliz.
Com o passar dos anos, a revolução
industrial e tecnológica vieram acrescentar às anteriores, novas formas de se
ocultar aos olhos dos demais, mantendo a mesma posição privilegiada de ver, sem
se mostrar. Hoje temos as películas escuras
dos carros, óculos que ocultam os olhos, internautas que vasculham secretamente
a vida alheia. Apenas uma se mantém, desde que o homem começou a fazer uso da
linguagem - as palavras que não revelam as reais intenções de quem as profere.
Nenhum comentário:
Postar um comentário