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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Lembranças de Natal I

Naquele Natal ela já havia feito 5 anos! A árvore viva foi cuidadosamente plantada dentro de uma lata decorada com papel crepom verde e colocada a um canto, na ampla sala de jantar. Sob as mãos habilidosas da irmã mais velha, o que era apenas um pinheiro comum começou a adquirir identidade própria – tinha um toque de sonhos, de novas esperanças e uma pitada de magia. As bolas brilhantes coloriam os galhos verdes, alternadas com estrelas, sininhos, pacotinhos que imitavam presentes, anjinhos delicados, bengalinhas listradas em vermelho e branco e pequenos bonecos de papai noel. No alto, uma ponteira dourada finalizava brilhantemente o arranjo!
A alegria de montar a árvore de Natal contagiava a todos os membros da família! As crianças menores tinham a função de prender pedacinhos de algodão nas folhas pontudas, para imitar flocos de neve. Neste afazer aconteciam espetadas dolorosas nos dedinhos delicados, que provocavam algumas lágrimas e bolas frágeis partidas pelo chão. Mas, o importante para elas era fazer parte dos preparativos, embora a ajuda se limitasse até onde as mãozinhas pequenas alcançavam.
Quando a árvore ficava finalmente pronta, a beleza da transformação era confirmada pelo brilho nos olhos atentos. Depois dessa parte, chegava o momento de escrever as cartinhas para o Papai Noel. Uma das irmãs mais velhas anotava no papel os pedidos das duas meninas menores, cujos olhinhos brilhavam, antecipando a alegria dos presentes.
Certo dia, faltando pouco para a data, a irmã maior foi segredar para a menorzinha que havia descoberto uma coisa grave, mas que ela deveria jurar que não contaria para ninguém. A mãe já havia avisado para não entrarem na sala de visitas, até que ela permitisse. Entretanto, alguém esqueceu a chave na porta e a menina maior, curiosa, entrou para ver o que tinha lá. Diante da descoberta, queria levar a irmã para ver com seus próprios olhos. Entraram sorrateiras no cômodo na penumbra e, diante das caixas empilhadas, a maior levantou a tampa de algumas delas, deixando ver duas lindas bonecas e outros brinquedos, tal como elas haviam pedido para o Papai Noel... Triunfante, sentenciou:
- Eu já não tinha te falado? Papai Noel não existe!!!
A menorzinha arregalou os olhos e começou a choramingar, mas a maior ameaçou: se a mãe descobrisse a traquinagem elas poderiam ficar de castigo ou até mesmo não receber os presentes. Sem alternativa, a menor engoliu as lágrimas, com o coração apertado. Não queria acreditar no que a irmã falou.
Esperou ansiosa que o natal chegasse. Antes da meia noite, colocou seu melhor sapatinho na janela e foi dormir. Os adultos diziam que, se estivesse acordada quando o Papai Noel passasse, não receberia seu presente. Ainda assim, foi difícil conseguir dormir, tal era sua ansiedade... Na manhã seguinte acordou bem cedo e foi correndo abrir seus presentes. Diante de seus olhos estava a mesma boneca que havia visto através da fresta da caixa. Como havia prometido para sua irmã, guardou o segredo, mas, naquela manhã de Natal, a ilusão e a magia do sonho se desfizeram em seu pequeno coração pela primeira vez!
Ainda bem que na vida nada é definitivo. Sem roupas vermelhas, sem gorro, sem barba branca, sem renas e sem trenó, com o passar dos anos ela comprovou que seu presenteador era de carne e osso e tinha por ela um amor muito maior e mais verdadeiro que qualquer ilusão colorida! E descobriu que, afinal, os sonhos podem ser mantidos sem que seja necessário afastá-los da realidade...

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