Construo histórias, como quem acrescenta possibilidades novas à vida. Tudo se torna possível neste pequeno/grande mundo de papel! A mente procura e sempre encontra, entre as lembranças e as vivências do dia a dia, um motivo novo para dissertar. Ao mesmo tempo em que estou aqui, estou lá longe, aonde só o pensamento chega ou pode me levar. Nesses momentos reencontro seres queridos, compartilho algumas ideias, encontro amores novos e antigos. Divido também algumas tristezas, resolvo problemas impossíveis e desfaço desencontros. Como Alice no País das Maravilhas, descubro que este é um lugar fantástico, povoado de personagens peculiares, onde tento resolver as charadas que a vida inventou e faço de tudo para não morrer decapitada pela Rainha de Copas. Tudo é possível, neste mundo de faz-de-conta! Aqui os pensamentos se transformam em sementes, que espalho ao vento, na tentativa de que germinem em algum coração. Se conseguir colher algum resultado, tanto melhor!
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sexta-feira, 15 de julho de 2011
Incerto Amanhã
Por vezes, só por vezes, não sei o que fazer diante do rumo que os acontecimentos tomam em minha vida. Nesses momentos caminho devagar e com mais cuidado, para não perder o restinho de meus sonhos pela estrada e meus pés se cansarem de procurar o que meu coração tanto anseia. Sinto-me impotente e um pouco frustrada por não poder mudar os fatos e suas conseqüências, que são tão diferentes do planejado e desejado pelo meu coração.
Outras vezes vejo tantas coisas diferentes e atrativas que perco o foco e me distraio. Só volto a mim depois de algum tempo, quando a realidade vem me acordar do devaneio e mostrar que tudo não passou de mais uma ilusão. Recomeço a caminhada, com o firme propósito de não me distrair outra vez.
Mas, se a paisagem ganha um colorido diferente, minhas tolas esperanças renascem. Meu coração bate mais rápido, na emoção pressentida, na ansiedade que tudo mude definitivamente à minha volta. Depois de alguma espera percebo que tudo continua igual e só o tempo passa por mim aceleradamente. Diante da incerteza do que me reserva o amanhã, tenho a sensação que tudo fica outra vez mais distante, enquanto olho a longa estrada que se estende à minha frente...
Rua sem Saída
Outro dia fui deixar uma encomenda na casa onde se hospedava uma amiga de minha irmã, que estava a passeio pela cidade. Com este objetivo, saí à procura do endereço que me foi passado e vi que era um setor que não conhecia muito bem. Entre muitas voltas e mais voltas, em certo momento concluí que poderia cortar caminho, passando por certa rua. Depois de rodar algum tempo, percebi que estava passando pelos mesmos lugares, como se estivesse dirigindo em círculos.
- Alguma coisa está errada, pensei.
Levei alguns minutos para conseguir voltar ao local onde havia entrado. Quando passei pelo muro que dava acesso à rua, pude ver uma pequena placa meio escondida entre as folhagens, que avisava: “Rua sem saída”. Comecei a rir de mim mesma, pela falta de atenção. Obviamente, não chegaria a lugar algum por aquele caminho.
Tomei outra direção, mas aquele pequeno episódio ficou dando voltas em minha mente. Lembrei-me, por analogia, de tantas “ruas sem saída” que encontramos em nosso trajeto pela vida. Elas podem ser comparadas com algumas situações ambíguas que aceitamos viver, ou escolhas equivocadas e decisões precipitadas que assumimos, sem antes avaliar suas implicações. Infelizmente, de cada vez que isto acontece não há, como no endereço físico, um aviso de alerta para evitarmos o sofrimento e o constrangimento a que muitas delas nos levam. Diante disso, só encontro duas saídas para essas situações. A ação preventiva exige muita atenção e avaliação de todas as possibilidades diante de cada situação que a vida nos coloca. A curativa, mais dolorosa que a primeira, exige a decisão de voltar sobre os próprios passos, sempre que se fizer necessário. O motivo de ambas as ações é único - não ficarmos presos, indefinidamente, no seu percurso sem saída.
De Volta Para Casa
Por mais que a morte seja a única certeza que temos na vida, suas implicações ainda nos pegam despreparados todas as vezes que se anuncia. Mesmo quando a vida já não é produtiva, por lei, por princípios morais ou juramentos profissionais, ou simplesmente por amor, ninguém sequer admite a possibilidade de apressar o desenlace, para colocar fim ao sofrimento. Por outro lado, também não podemos impedir que ela chegue inesperadamente, porque este é o único acontecimento inevitável de nossa transitória vida.
Ficamos perdidos entre mil conjecturas diante do enigma que representa, independente de conceitos religiosos, filosóficos ou científicos. Se alguns encaram a morte como uma ocorrência única e definitiva, onde a salvação ou a condenação são as possibilidades oferecidas, a dúvida que experimentam diante dela é devastadora. Neste caso o significado da morte fica maior que o da própria vida. Outros já encaram a morte como sendo apenas uma pausa entre as várias etapas de vida que se sucedem dentro da existência, cujo objetivo é o alcance de novos níveis de aperfeiçoamento individual. Para esses, o significado da vida fica maior que o da própria morte. Para a ciência, vida e morte são fatos biológicos naturais, que ocorrem dentro de uma sequência predeterminada e interdependente e, por isso, parecem ter pesos iguais.
Entretanto, qualquer que seja nosso conceito pessoal, na prática os fatos mostram que dentro do nosso círculo de afetos, desejamos que esse momento nunca chegue ou que venha o mais tarde possível, para não tirar de nós quem acreditamos ser parte de nossos pertences eternos. Enquanto lutamos por eles, lutamos também por nós, para que não aumente o peso de nossa própria solidão.
Em todas as situações não é fácil e nem isento de sofrimento aceitar que ciclos se fecham, etapas terminam, que o corpo físico tem prazo de validade e que o espírito não pode ficar preso à matéria a todo custo e indefinidamente. Mas, se a morte para o corpo físico é de caráter irreversível, para o espírito que a anima ela não passa de um pequeno intervalo - é apenas sua volta para casa para renovar-se.
quinta-feira, 7 de julho de 2011
Pixel Art
Um dia desses chegou aos meus olhos uma maravilhosa coletânea de quadros de um renomado artista brasileiro. Diferente de outros, ele utiliza a técnica de colagem para criar suas obras. De acordo com suas próprias palavras, inicialmente escolhe o motivo que deseja reproduzir, que seria o todo. Depois de analisá-lo em profundidade, fragmenta a imagem por áreas de cor, que depois transforma em milhares de quadrados de papel, nas cores correspondentes. Feito isto, começa o trabalho de reconstrução da imagem, ponto por ponto, até que a reunião harmônica de todos eles corresponda ao modelo original.
Diante da beleza de seu trabalho, pude refletir que, similar ao processo de criação desse artista, eu também preciso realizar um trabalho de reconstrução diária de mim mesma, substituindo meus fragmentos imperfeitos pelas qualidades correspondentes. Esta, certamente, é uma tarefa bem mais longa e mais delicada que a obra de arte física, mesmo que requeira a mesma genialidade do meu artista pessoal. Cada aprendizado alcançado, cada valor cultivado, atuam como os pixels que irão compor a minha imagem ideal. Quanto maior o número deles, mais nitidez e semelhança haverá entre a criação interna e o modelo original, concebido por Deus.
A única ressalva é que, ao contrário da obra de arte ou da fotografia, minha pixel art tem avanços e retrocessos, porque não consigo realizar essa tarefa de forma constante, sempre ascendente e uniforme.
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