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sexta-feira, 15 de julho de 2011

De Volta Para Casa



Por mais que a morte seja a única certeza que temos na vida, suas implicações ainda nos pegam despreparados todas as vezes que se anuncia. Mesmo quando a vida já não é produtiva, por lei, por princípios morais ou juramentos profissionais, ou simplesmente por amor, ninguém sequer admite a possibilidade de apressar o desenlace, para colocar fim ao sofrimento. Por outro lado, também não podemos impedir que ela chegue inesperadamente, porque este é o único acontecimento inevitável de nossa transitória vida.
Ficamos perdidos entre mil conjecturas diante do enigma que representa, independente de conceitos religiosos, filosóficos ou científicos. Se alguns encaram a morte como uma ocorrência única e definitiva, onde a salvação ou a condenação são as possibilidades oferecidas, a dúvida que experimentam diante dela é devastadora. Neste caso o significado da morte fica maior que o da própria vida. Outros já encaram a morte como sendo apenas uma pausa entre as várias etapas de vida que se sucedem dentro da existência, cujo objetivo é o alcance de novos níveis de aperfeiçoamento individual. Para esses, o significado da vida fica maior que o da própria morte. Para a ciência, vida e morte são fatos biológicos naturais, que ocorrem dentro de uma sequência predeterminada e interdependente e, por isso, parecem ter pesos iguais.
Entretanto, qualquer que seja nosso conceito pessoal, na prática os fatos mostram que dentro do nosso círculo de afetos, desejamos que esse momento nunca chegue ou que venha o mais tarde possível, para não tirar de nós quem acreditamos ser parte de nossos pertences eternos. Enquanto lutamos por eles, lutamos também por nós, para que não aumente o peso de nossa própria solidão.
Em todas as situações não é fácil e nem isento de sofrimento aceitar que ciclos se fecham, etapas terminam, que o corpo físico tem prazo de validade e que o espírito não pode ficar preso à matéria a todo custo e indefinidamente. Mas, se a morte para o corpo físico é de caráter irreversível, para o espírito que a anima ela não passa de um pequeno intervalo - é apenas sua volta para casa para renovar-se.

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