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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O Palhaço e a Bailarina



 
Entre as ilusões do palhaço e os sonhos da bailarina a vida acontece... Enquanto ele quer esquecer as próprias tristezas fazendo aos outros sorrir, a bailarina dança para fazer com que eles se lembrem de seus próprios sonhos para realizá-los. Assim, no equilíbrio dos opostos, eles se completam.
Um dia o palhaço perguntou para a bailarina:
- Como consegues ser tão graciosa e tão feliz, enquanto o mundo é tão escuro e triste? Será teu mundo tão diferente do meu?
Ao que bailarina respondeu:
- O mundo tem exatamente as cores que eu dou a ele e a leveza de meus próprios pensamentos. Mas a minha simples presença faz acreditar que os sonhos se realizam.
O palhaço então retruca:
- "Para mim a realidade é uma sepultura - os sonhos morrem quando se realizam. Por isso é necessário re-sonhar, começar tudo outra vez. Prefiro a ilusão, que não tem compromisso com a realidade. É ela que me faz viver."
A bailarina fica pensativa por alguns segundos, depois pergunta.
- Como consegues fazer sorrir aos outros, se no teu coração és tão triste?
O palhaço olhou a bailarina longamente e respondeu.
- "Preciso fazer sorrir para acreditar que a minha tristeza fica mais leve. Preciso dessa ilusão de alegria para esquecer meus próprios pensamentos feios e escuros."
A bailarina concluiu pensativa:
- Ainda prefiro trocar todas as tuas ilusões por meus sonhos, porque eles podem se realizar, enquanto as tuas ilusões se desfazem. Diferente de ti acredito que os sonhos, quando se realizam, frutificam. Estou sempre re-sonhando - o sonho dentro de outro sonho, eternamente...

 * Dedico a inspiração para escrever este texto ao diálogo travado com um poeta e grande amigo, pelo qual tenho um carinho sincero e grande admiração!

Golpe da Sorte


A abordagem pode ter algumas variações, mas sempre com um ponto em comum – atrair a atenção pela ganância ou pela vaidade. Como de praxe, iniciam confirmando a identidade de quem está do outro lado da linha.
- Alô! Falo com a senhora fulana de tal?
Após a confirmação, iniciam uma conversa envolvente e fazem uso de uma série de argumentos, com fins de atrair a simpatia e justificar o golpe da sorte que virá no final.
Aquele teve um começo igual, mas o final foi tão inesperado, que vale a pena relatar.
Após a confirmação de ser a pessoa procurada, recebi a informação de que havia sido selecionada como formadora de opinião do jornal “tal assim assim”, para participar da dita promoção. Por uma fração de segundos, ainda que ciente do fato de que atrás daquele lustro no ego vinha “coisa”, a sabotadora que co-habita em mim brilhou de prazer diante da expressão. Mas, antes que o estrago fosse maior, a mente advertiu atenta :
- Como posso ser formadora de opinião se nem assino o tal jornal?
De início, houve um leve incômodo do outro lado da linha. Talvez, para disfarçar o jato de água fria, a proposta foi repetida, ignorando a minha observação risonha. Ainda sem me molestar, repeti a mesma observação. Qual não foi o meu susto quando a voz envolvente se transformou numa exclamação de enfado, seguida da frase:
- Você é muito chata!!! E desligou o telefone na minha cara.
Depois da surpresa inicial, dei boas risadas.

Algo Maior Que Eu



Quando era mocinha, costumava passar férias na fazenda do meu cunhado, lá no interior de Minas. Nas noites sem lua, com poucas opções de diversão, gostava de me deitar sobre a grama para olhar o céu. Na escuridão de luzes que me rodeava, a terra e a imensidão do firmamento se uniam, e eu me via rodeada por todos os lados de pontinhos de luz. Brincava de contar estrelas e as mais distantes, pareciam brincar de esconde-esconde com meus olhos. Quando fixava o olhar em uma delas, parecia sumir. Mas quando desviava os olhos para buscá-la, mostrava-se justo ali, onde a vira anteriormente.
Sempre experimentava uma sensação maravilhosa, enquanto o silêncio da noite me acolhia em seu seio. Minha mente divagava entre muitas percepções e costumava pensar, curiosa diante do mistério celestial, se em algum planeta distante haveria alguém a olhar o mesmo céu. Que anseios teria ou que sonhos acalentaria diante dessa mágica visão.
Hoje, conto histórias, como quem conta estrelas no céu. Conto devagar, para ter certeza que minha mente não se engana ou que meus olhos não se perdem em miragens. Preciso ter cautela com o que vejo, penso e digo que é real. Porque quanto mais aprendo, mais certeza tenho de que quase nada sei. Ainda experimento as mesmas inquietações de outrora diante do que não entendo, a mesma alegria infantil diante da beleza deslumbrante dessa magnífica criação. Os mistérios continuam, agora ampliados. O que permanece  exatamente como antes é que, para muitas perguntas, eu ainda não tenho as respostas.

Indesejada Presença


 
 
Sempre que encontra uma passagem entre as barreiras mentais que crio para me proteger, volta a invadir meus domínios e faz cair por terra, em questão de segundos, as minhas instáveis defesas. Por vezes, depois de uma luta acirrada, acontece uma momentânea trégua e abençoada paz. Suspiro aliviada, por ter me livrado por alguns instantes de sua influência maléfica. Invariavelmente, poucos segundos depois reaparece com força total, pelo mesmo ou por motivos diferentes, num ajuste injusto de contas pelo tempo que o mantive afastado.
Amor bandido este porque, afinal, não é por afeição que permanece comigo. Não existe nele a menor intenção de resguardar minha felicidade. Sua permanência insistente visa apenas confundir minha mente e retirar forças da minha vontade, para evitar que me livre de sua indesejada presença.
Apesar do desafio, a cada nova manhã eu me levanto com a firme decisão de reconquistar a minha liberdade de pensar!

Minha Primavera



A primavera já se instalou diante de meus olhos maravilhados! A profusão de flores e cores confirma a renovação da natureza e faz recordar que é tempo de iniciar a minha própria renovação. A nova estação dentro de mim também tem flores, tem cheiros, tem pássaros, tem riachos tranquilos, que deslizam serenos pelas minhas pradarias. Tem borboletas e abelhas, que coletam o pólen e espalham minhas sementes, para que possam germinar em outros lugares, mais além de mim. Com a brisa que levanta e distribui minhas ideias, aproveito e espalho as sementes do meu amor, sem discriminar. Depende de quem receber o uso que se fará – e esta parte já não me pertence mais... 
 

Eternizados...




O amor sempre encontra uma forma de se eternizar, seja dentro ou fora de nós. Utiliza-se de imagens que falam direto ao coração para evocar aquela história que cada um guarda dentro de si - a real ou apenas a desejada.
A imagem do amor faz recordar sonhos, os momentos e ternuras compartilhadas em algum ponto ou idade da vida. Ela empresta asas para que a imaginação voe, a saudade emocione e a mente reviva cada instante de sua manifestação.
Num rasgo de generosidade, a obra e seu criador se unem para capturar o instante único e perpetuá-lo diante de nossos olhos enamorados, para que mais pessoas possam apreciá-la ou com ela se identificar.