Tem dias que o coração decide ignorar os
sinais de perigo que a mente envia, logo que percebe que ele vai entrar no
terreno traiçoeiro das recordações. Determinado, se aventura a percorrer
antigos caminhos, como se estivesse blindado e imune a todos os sofrimentos ainda
mal resolvidos do passado.
O primeiro momento é de alegria, liberdade e
encantamento, quando retira os lacres protetores da memória. Imagens e esperanças
adormecidas se renovam, acompanhadas da crença de que, hoje, tudo pode ser diferente!
Na ânsia de encontrar explicações plausíveis para as escolhas feitas, os fatos
são repassados e os mesmos passos repetidos, para tentar compreender porque e
onde foi que tudo começou. O que ele não leva em consideração é que as razões se
atenuam quando enxergadas através da cortina do tempo. O que antes era uma
diferença intransponível, hoje parece apenas uma situação temporária e de fácil
conciliação. Sob o efeito do tempo, os erros foram suavizados, o que o leva a acreditar
que as escolhas feitas podem ser revogadas a qualquer momento. Coloca diante de
si apenas a parte boa das recordações.
Mergulhado nesta ilusão, o coração esquece
que a vida é regida por causas e consequências que se propagam, tal como as
ondas de um lago tranqüilo, em que atiramos a pedra das próprias decisões. Diante
da realidade imutável, precisa ser resgatado de sua própria inconsequência.
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