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quarta-feira, 17 de abril de 2013

Quanto vale a sua?

 
Estamos vivendo uma época em que o valor de equipamentos, carros e objetos pessoais se multiplicam dia a dia, de acordo com a sofisticação do modelo ou a capacidade do bolso do comprador. Cada um promete quase o impossível, mesmo que não seja possível de se realizar. Se paga mais pela sensação e o insólito da posse, que por sua qualidade. Poucos questionam o quanto vale, mas o quanto faz, o quanto impressiona, o quanto confere de status e de poder a quem o possui.
Fazendo um caminho inverso, a vida humana está valendo cada vez menos, se fizermos uso da mesma bolsa de valores. Alguns morrem de fome, por falta de atendimento médico, enquanto outros morrem por preguiça de andar um pouquinho mais e atravessar em um lugar seguro. Ou morre-se por escolher um lugar seguro para atravessar e o bandido se vale da sua falsa segurança para atacar. Morre-se no trânsito, na calçada, dentro de casa – morre-se por descuido de cuidar. Morre-se por quase nada ou por nada mesmo, como se tudo fosse apenas uma representação e que, ao se encerrar o espetáculo, os personagens simplesmente se levantassem e fossem para  suas casas.
Por outro lado, mata-se por tudo que muito pouco vale. Por um tênis, um celular, um relógio, um carro, uns trocados no bolso. Mata-se por ideologias, mata-se em nome de deus, em nome da cor, em nome do sexo ou pela opção que advém dele. Mata-se porque o amor acabou, porque estava com pressa, porque o outro se descuidou um instante. A tolerância com as diferenças está em torno de zero, como está em zero o amor entre pais e filhos, onde o deus dinheiro entrou na jogada e bagunçou o que era prioridade. Mata-se por impunidade, por cobiça, por frustração. Ou mata-se apenas porque alguém acordou de mau humor...
Neste caos que se espalha pelo mundo, a vida que é vida mesmo está ficando sem espaço e precisa, urgentemente, recuperar o seu real valor...

A Espera...

 
Súbito, a imagem encontrou meus olhos e imediatamente me encantou! Não sei bem se pela beleza ou pelo inusitado da cena. O momento ímpar, captado pela sensibilidade e registrado pela lente atenta do fotógrafo, fez a minha mente divagar! Na esquina de uma rua movimentada, o homem vestido com roupas comuns segurava em uma das mãos um guarda chuva amarelo e na outra um ramalhete de flores coloridas, enquanto a chuva caia torrencialmente à sua volta. Parecia indiferente aos sorrisos e olhares curiosos que despertava, especialmente das mulheres, que talvez desejassem que a atenção e o mimo fossem para cada uma delas. Seu olhar estava fixo numa direção e expressava certa expectativa, como se o objeto de sua espera pudesse surgir a qualquer momento no final da rua.
Com esta imagem congelada na retina, peguei-me conjecturando sobre os fatos que motivaram aquele momento. Seria um pedido de perdão, um pedido de casamento, uma homenagem para alguém especial? Seria apenas uma surpresa ou uma atitude previsível em quem proporcionou? Seria uma despedida? Um reencontro desejado, depois de muitos anos? Que atitudes e sentimentos terão despertado em quem estava sendo esperado? O que sentiu quem esperou? Convivendo num equilíbrio momentâneo, uma atitude única pode se subdividir num leque de possibilidades! Afinal, o que meus olhos veem contém apenas uma pequena parte da realidade completa...
Contudo, algo pode ser aprendido... A espera tem algo de mágico, porque nos prepara para viver o momento do encontro com antecedência e um pouco mais de consciência. Ela nos faz refletir sobre o que a motivou, os sentimentos que despertou a ausência, e o que nos propomos fazer para que o encontro seja real e se perpetue.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Tudo Cresce em Direção à Luz!

 

 
Ao refletir sobre as atitudes de todos os seres humanos, boas e ruins, lembrei-me daquela experiência que todos nós já fizemos algum dia, com as sementes de feijão. Sem querer entrar nos detalhes que todos nós conhecemos, uma das conclusões sempre me chamou a atenção. A plantinha, para crescer, precisava da luz do sol. E se a luz era pouca, o pezinho de feijão crescia em direção a ela.
Tudo que acontece na criação tem um ensinamento correspondente para a vida de cada ser humano. Assim como a luz e o calor do sol são imprescindíveis para o desenvolvimento e a continuidade da vida física, a vida espiritual também precisa da luz do conhecimento para que possa se desenvolver. Contudo, observei que muito mais que uma possibilidade, nesta frase existe uma certeza. Nela está implícita uma mensagem de esperança: tudo cresce em direção ao Sol! Tudo cresce em direção à luz! Por mais que a escuridão mental ainda impere, ainda que a ambição, a sede de poder e a intolerância humana com as diferenças, criem as guerras. Apesar da ignorância de muitos e da maldade de outros, existe um caminho a ser trilhado, mudanças positivas e inevitáveis a serem cumpridas em direção à evolução. O sol é luz, é calor, é vida! Hoje somos plantas humanas que crescem em direção à luz, em busca dos benefícios que ela oferece. Algum dia seremos homens sol, que expressam em suas atitudes, os resultados e benefícios de dignos representantes da civilização da luz!

Você Foi Meu Futuro


 
Sem que eu soubesse ou estivesse pronta para recebê-lo, um dia você apareceu no meu passado, com a promessa de ser o meu futuro. Chegou de mansinho e meu coração, despreparado, não entendeu a mensagem. Acreditou que tinha um tempo infinito pela frente para decidir e escolher quantas vezes fossem desejadas por ele. E adormeceu na pedra do tempo, enquanto a vida passava veloz. Quando finalmente acordou, já se fazia tarde para retomar a história do ponto onde ela parou. E você, que um dia foi meu futuro, se desmaterializou...

Dedicado ao futuro - que mesmo desejado, não aconteceu...

Brincando de fazer História


Fugindo a toda lógica, em certos momentos sinto uma vontade irresistível de mudar o rumo de muitas histórias! Especialmente quando vejo que as peças do quebra-cabeça dos relacionamentos não se encaixam, quando a saudade incomoda além do suportável ou quando o caminho escolhido parece sem graça e sem cor. Queria ter o poder de reescrever trechos, parágrafos, capítulos ou finais, quando eles se mostram bem aquém do que seria a história ideal. Ou pular certos acontecimentos, que não fizeram e ainda não fazem ninguém feliz. Quem sabe, mudar pessoas de lugar ou inverter o relato - começar do que parece o fim e voltar ao começo, quando tudo era bem melhor.
Isto não teria por objetivo livrar a nenhum de nós das lutas – elas são parte inseparável de qualquer história! As decepções também ensinam a rever as escolhas – o que parecia bom antes, hoje pode mostrar-se ruim! Já que a vida não olha para traz e não costuma dizer sim para todas as vontades e sonhos escolhidos, seria alentador encontrar uma maneira de fazer um upgrade nos resultados, especialmente quando eles provocam mais dúvidas que certezas.
Contudo, mesmo que seja possível fazer alguns reajustes pessoais, à medida que as coisas ruins vão acontecendo, concluo que certas decisões estão além da nossa alçada. Afinal, nenhum de nós tem a visão completa dos fatos para atuar com imparcialidade – sempre haverá o risco de cada um querer mudar apenas o que pareça bom para a própria vida, sem avaliar corretamente o que será bom para a vida dos demais. Como jogadores inexperientes, provavelmente ainda iremos correr um bom tempo atrás da bola, sem conseguirmos finalizar a jogada que nos trará reconhecimento. Mas, talvez o que doa mesmo é quando outro jogador passa à nossa frente e rouba de nós o gol da vitória!

Falsos Imortais




Hoje já não somos os mesmos de tempos passados, o que não faz de nós melhores ou piores do que fomos. A vida se encarregou de acrescentar alguns detalhes, suprimir outros e aperfeiçoar tudo que se mostrou aperfeiçoável. O que foi um traço leve do caráter no passado pode ter se tornado um defeito, ou um defeito pode ter sido amenizado pela maturidade.
Se por um lado a experiência de vida traz uma nota de sabedoria, em outros aspectos o tempo faz perder o reflexo rápido, a audição aguçada, a memória incondicional. Simples, previsível..., mas não aceito naturalmente ou por unanimidade! Uma parte de nós continua a exigir imutabilidade de si mesmo e do outro, como se a passagem do tempo pudesse ocorrer de forma não visível e não sentida. Criamos padrões rígidos para a beleza, para a saúde física e mental, para a produtividade - o que estiver fora é rotulado de velho e sem serventia.
Por vezes eu me pergunto se é só por impaciência ou é também o medo de envelhecer o que nos torna tão intolerantes com aqueles que estão na menor, ou na chamada melhor idade. Talvez cada um se veja em um espelho de duas faces, que de um lado mostra o que se foi, e, do outro, o futuro que virá. Como falsos imortais, os dois lados se desentendem, porque ambos conservam a ilusão da eterna juventude cristalizada dentro de si. Rejeitam a ideia de se ver tão velhos ou menos jovens do que se sentem.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Mestra do Infortúnio

 

A adversidade sempre provoca em mim silêncios, que deixam ouvir o que nunca consigo escutar, em meio ao burburinho de falas simultâneas da felicidade. Ela me encerra entre as paredes de meu ser, e, sem mais alternativas, faz-me avaliar minhas atuais condições e reavaliar o que fiz para chegar até aquela situação. Depois, como boa mestra, me ensina os possíveis caminhos para vencer os próximos obstáculos, se realmente quero chegar a um resultado diferente.
No limite da dor e da adversidade aconteceram as maiores transformações de minha vida.  Com elas coloco à prova minha capacidade física e psicológica para persistir na luta ou enxergo quão tolas e falsas são as falas da vaidade, quando alimentam a crença de que “isto nunca vai acontecer comigo”. É no silêncio compulsório da adversidade que identifico minhas fortalezas e debilidades, ambas ignoradas por mim muitas vezes. Ou sinto o despertar de talentos adormecidos, que nem eu sabia ter. Aprendo a enxergar e valorizar pequenos gestos, a identificar o amor de certos olhares. A aceitar, com valentia e humildade, o que em tempos mais felizes acreditava que seria insuportável para mim. Com a adversidade aprendo também a pedir, a ouvir, a aceitar. Especialmente, aprendo a esperar o tempo necessário para ultrapassá-la, com a certeza inabalável que dias melhores vão chegar!

Dentro ou Fora da Interseção?




Foi uma surpresa incômoda sentir-se excluída de um acontecimento que, outrora, estaria garantida a sua inclusão. Naquele gesto não premeditado, viu, num primeiro momento, apenas o que estava fora da interseção: as diferenças, os distanciamentos, a desunião. “Eu pra cá, você pra lá”. Por isso, naquele instante ela sofreu!
Pouco depois seu coração, incomodado com a conclusão precipitada, buscou recordar os momentos de união, os momentos de parceria, as alegrias compartilhadas e tristezas divididas. Lembrou a amizade de longa data, distribuída pelas horas do dia a dia da vida. Lembrou as conversas intermináveis sobre conquistas, descobertas e padecimentos mútuos. Lembrou o sorriso da amiga, a fala alegre, que nem a distância conseguia fazer esquecer.
Quase que de imediato, apagou o falso sofrimento, a dor sem causa, a cobrança de um gesto que poderia ter começado nela, sem esperar a iniciativa partir do outro lado. Naquele momento descobriu que apenas havia enxergado o que estava em desarmonia em si mesma. Fez uma pausa, silenciou o conselheiro suscetível, reconsiderou - e voltou a unir o que a visão distorcida de suas fragilidades havia tentado separar.

Pomar da Vida


 
 
Outro dia ouvi um relato que julguei interessante para uma segunda reflexão. Um homem, ainda jovem, recebeu o diagnóstico de ser portador de um tumor raro e inoperável no cérebro e que lhe restava poucos dias de vida. Sem querer ser mais uma estatística médica e morrer entre as paredes impessoais de um quarto de hospital, decidiu fugir e voltar à sua terra natal, para ficar perto das pessoas que eram importantes para ele. Ao explicar sua decisão para o amigo inconformado e tentar minimizar sua dor e revolta diante daquela realidade, utilizou a maçã que tinha nas mãos para fazer uma analogia. Deu nela uma boa mordida e passou para que o outro também comesse um pedaço, enquanto explicava:
- Esta maçã poderia não estar aqui agora. Poderia ter sido esquecida no pé até um dia cair sobre o solo e ficar ali até apodrecer. Se permanecesse intocável na árvore, ela nunca poderia cumprir com seu objetivo de alimentar. Ao contrário disso, foi colhida e seu fruto agora está sendo dividido e degustado por nós dois. E finalizou. Foi isto o que escolhi para mim, diante da morte inevitável. Quero compartilhar até meu último suspiro com aqueles que fizeram a diferença em minha vida ou eu na deles.
Diante dessa explicação final, pensei que também podemos encontrar os mesmos exemplares de maçãs humanas, no vasto pomar da vida. Alguns nascem e morrem sem se envolverem ou compartilharem suas vidas com os que estão à sua volta – seja na dor ou na felicidade. Fechados em seu egoísmo, passam pela vida indiferentes a todos e a tudo que se passa à sua volta.  Em oposição a estes, existem os que se doam, se dividem, se somam e se multiplicam para ajudar, para amparar, para alimentar de força, de paz, de saúde e de alimento, a todos que têm a felicidade de cruzar o seu caminho.
Em qual categoria eu quero estar? Esta é uma pergunta que sempre devo me fazer, para saber se estou cumprindo com os objetivos da vida e com minha missão como ser humano - independente de doutrinas, filosofias ou religiões. Se eu morrer amanhã, quero ter compartilhado meus dias e minhas ideias com as pessoas que estão ao meu redor. Quero ter a chance de alimentá-las com meus sonhos e, quem sabe, deixar uma marca do que fui em seus corações. Quero ter a capacidade de promover mudanças de rota e de planos, sempre que isto as impulsione a caminhar em direção ao verdadeiro objetivo de suas vidas.