Estamos vivendo uma época em que o valor de equipamentos, carros e objetos pessoais se multiplicam dia a dia, de acordo com a sofisticação do modelo ou a capacidade do bolso do comprador. Cada um promete quase o impossível, mesmo que não seja possível de se realizar. Se paga mais pela sensação e o insólito da posse, que por sua qualidade. Poucos questionam o quanto vale, mas o quanto faz, o quanto impressiona, o quanto confere de status e de poder a quem o possui.
Fazendo um caminho inverso, a vida humana está valendo cada vez menos, se fizermos uso da mesma bolsa de valores. Alguns morrem de fome, por falta de atendimento médico, enquanto outros morrem por preguiça de andar um pouquinho mais e atravessar em um lugar seguro. Ou morre-se por escolher um lugar seguro para atravessar e o bandido se vale da sua falsa segurança para atacar. Morre-se no trânsito, na calçada, dentro de casa – morre-se por descuido de cuidar. Morre-se por quase nada ou por nada mesmo, como se tudo fosse apenas uma representação e que, ao se encerrar o espetáculo, os personagens simplesmente se levantassem e fossem para suas casas.
Por outro lado, mata-se por tudo que muito pouco vale. Por um tênis, um celular, um relógio, um carro, uns trocados no bolso. Mata-se por ideologias, mata-se em nome de deus, em nome da cor, em nome do sexo ou pela opção que advém dele. Mata-se porque o amor acabou, porque estava com pressa, porque o outro se descuidou um instante. A tolerância com as diferenças está em torno de zero, como está em zero o amor entre pais e filhos, onde o deus dinheiro entrou na jogada e bagunçou o que era prioridade. Mata-se por impunidade, por cobiça, por frustração. Ou mata-se apenas porque alguém acordou de mau humor...
Neste caos que se espalha pelo mundo, a vida que é vida mesmo está ficando sem espaço e precisa, urgentemente, recuperar o seu real valor...