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sábado, 12 de março de 2011

Tudo pode acontecer...



Mais um domingo de muita chuva! Sem as brincadeiras usuais o largo em frente a casa parece estranho, sem a meninada a correr de um lado para o outro, reinventando a alegria. Parada em frente à janela, uma menina olha pensativa a água se espalhar pelo chão, do outro lado do vidro. De repente escorrega do sofá onde está encarapitada e vai até a porta da sala de jantar. Espia para um lado e outro sorrateiramente, para ter certeza que não será surpreendida pelo olhar da mãe. Abre de mansinho a porta que sai para o alpendre da casa, passa pelo jardim e rapidamente sai pelo portão que dá para a rua.
Lá fora a chuva cedeu um pouco, o que a encoraja a seguir em frente, mesmo que não saiba exatamente o que quer fazer. Começa a saltitar, para evitar as poças d’água, o que de longe parece quase um bailado. Sorri feliz com a sua pequena aventura, apesar do negrume do céu! Em certos momento ainda olha desconfiada em direção à sua casa, como a temer que a sua travessura seja descoberta e lhe custe umas boas palmadas. Mas, logo se distrai outra vez, enquanto olha à sua volta um mundo todinho que tem para explorar, longe da vigilância da mãe e dos irmãos mais velhos.
- O que está brilhando ali, naquela poça d’água?
- Que bichinho esquisito é este que mexe as perninhas sem parar, de barriga para cima?
Seus olhinhos brilham, a procurar coisas interessantes para pegar e brincar. Sem que perceba vai se distanciando mais e mais de sua casa.
De repente vê uma linda moça vir ao seu encontro. Para sem querer, encantada a olhar a beleza dela! Ela chega mais perto e lhe sorri, enquanto pergunta qual é o seu nome.
- Filozinha, a menina responde.
- O meu é Ângela, diz a moça. O que faz por aqui sozinha?
- Saí escondido da minha mãe para brincar, responde inocentemente.
Ângela sorri e tenta ralhar:
- É perigoso andar sozinha pela rua, tão longe de casa - você ainda é muito pequena! Sua mãe deve estar preocupada.
Só então a menina olha à sua volta e se dá conta que não sabe mais onde está. Faz beicinho, querendo chorar.
- Venha comigo, diz a moça, afagando seus cabelos e lhe dá a mão. Começam a caminhar juntas e logo já estão conversando animadamente, o que distrai os pensamentos da menina novamente. Caminham alguns minutos até que a menina reconhece que está novamente em frente à sua casa. Então a moça se abaixa e lhe dá um beijo na bochecha, enquanto lhe pede que não volte a sair sozinha. A menina também lhe dá um beijinho e balança a cabeça, concordando. Passa pelo portão e cruza o jardim. Quando chega ao alpendre, vira-se para acenar para a sua nova amiga. Fica parada um instante, sem entender, pois no portão já não há mais ninguém. Mesmo assim, cumpre com o que prometeu; abre a porta da sala e entra em casa. Tudo continua como havia deixado. Parece que ninguém deu por sua falta, o que a livra de levar umas palmadas! Sorte a sua! Volta para a sala e sobe de novo no sofá, para olhar a rua através da janela. Permanece assim e já está quase cochilando, quando ouve um estrondo muito forte, vindo de fora. A chuva volta a cair furiosamente nas poças d’água do largo! Filozinha pula do sofá de um salto e sai correndo, a chamar pela mãe!

É... tudo pode acontecer num final de domingo da velha e boa infância!

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