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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Verdadeira Identidade

 


Quando começou a entender seu próprio sofrimento e dos seres que viviam à sua volta, diante da perda ou separação de alguém querido, ela decidiu que não queria isto para si mesma. Não era seguro de forma alguma! Aprendeu a construir, ao longo do tempo, resistente couraça em torno de seu coração, que pudesse protegê-la de qualquer envolvimento com as pessoas. Elas podiam partir de sua vida e despedaçar seu coração em segundos, deixando para trás um vazio que ninguém poderia preencher de forma igual – nem mesmo o tempo. Cuidadosamente, mantinha um limite máximo de aproximação e reforçava a couraça sempre que soava seu sinal de alarme interno – igualmente desenvolvido por ela.
O tempo passou e a mocinha se tornou mulher. Sempre arredia. Sempre na defensiva.  Pouco ouvia e menos ainda falava de seus sentimentos, angústias, de suas dúvidas, temores, até mesmo de suas alegrias. Guardava o que fosse possível para si mesma! Algumas vezes isto causava um grande congestionamento interno. Causava insônia, dor no peito, irritabilidade, lágrimas escondidas. Tristezas sem motivos aparentes, alegrias desperdiçadas.
Chegou a acreditar que não precisava de ninguém, que os relacionamentos eram descartáveis. Não se esforçava em ser carinhosa nem se preocupava quando suas atitudes e palavras feriam aqueles que conviviam com ela – fossem quem fossem. Assim estava bem. Assim ficaria por todos os seus dias. Apenas esqueceu que, tudo que é demais, a vida dá um jeito de levar para o extremo oposto, até encontrar o ponto de equilíbrio.
Certo dia, a adversidade chegou mais perto. Tão perto que a colocou diante da sua maior perda e disputou com ela a posse de um bem que não poderia ser reposto. Diante de seus olhos, viu o tempo e tudo mais que perdeu, enquanto se escondia dentro de si mesma. Pressionada pelas circunstâncias, verbalizou todos os questionamentos silenciados. Sentiu a inexorabilidade do tempo e a efemeridade da vida. Compreendeu que chorar por alguém significava, especialmente, que esta pessoa fez a diferença em seus dias. Que ela colocou uma pitadinha de cor, quando tudo estava cinza. Uma pitadinha de sabor, quando as dificuldades faziam perder o apetite pela vida. Trouxe amor e alegria ao seu coração, calor aos dias frios; uma presença na solidão. Em correspondência, bastava aceitar que relacionamentos e pessoas não são perfeitos nem eternos. É o risco de viver. O risco de amar. Sem isto, o choro é apenas de arrependimento e saudade tardia. Decidiu optar pelo sentir. Permitir. Desfez a couraça que apertava seu coração e sentiu o sangue correr quente e livre por suas veias. Sentiu-se desprotegida, mas pronta para viver! E recomeçou...  


Dedicado, com todo amor, para a primeira rosa do meu jardim da vida...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Mudanças...


Nada na vida permanece eternamente igual. As mudanças, internas e externas, são contínuas. As ideias mudam, o corpo muda, as prioridades mudam. O que ontem era importante e imprescindível, pode deixar de ser hoje; o que  tem pouca importância hoje, pode passar a ser fundamental amanhã. Obedecendo o mesmo processo, os sentimentos também transmutam-se, dependendo do tipo de experiência pela qual eles passam ou pelas  expectativas que os modificam. Algumas vezes, o tempo apaga da  recordação os motivos que lhes deram vida, outras vezes a impossibilidade de realização os coloca num estado contemplativo e imaginário  e há também aqueles que, pese a tudo, se perpetuam e se elevam gradualmente, mantendo seu  significado diferenciado dentro de nós. Mesmo nestes casos, nenhum estado é permanente, por mais que demore a passar.
Entretanto, por necessidade, por opção ou por medo do novo, algumas pessoas teimam em ficar paradas no tempo ou agarradas a um momento do passado, na esperança que algo ou alguém volte e se adapte aos tempos atuais. Nenhuma reflexão consegue impedir que permaneçam surdas e cegas para as mudanças da realidade.

História Depois da História


Nada termina realmente na vida - ou depois dela. O ponto final mais parece uma necessidade humana para isolar os fatos. Se o momento é de dor e separação, é uma forma para que ele se restrinja e não se propague. Se for de alegria, é um meio de destaca-lo, para que a felicidade não se dilua e perca sua importância entre os fatos cotidianos.
Pode ser que eu esteja simplesmente a brincar com imagens ou com o significado dos acontecimentos. Mas, é inegável que a realidade é contínua e que os fatos se sucedem. Para o bem ou para o mal...
Nascimento e morte; saúde e doença; casamento e divórcio; partida e chegada são apenas continuidades. Mesmo que pareça ser o final, com certeza não é. O que existe é a pressa humana em colocar um ponto, quando o inesperado bate à porta, alterando o ritmo da vida. O triunfo e o fracasso, em si, não sentenciam um fim. 
Triste ou feliz; juntas ou separadas, há sempre uma história que começa depois que a anterior termina. Este é um dos grandes mistérios da existência.

Holografia do amor...



Mesmo sem saber explicar o modo como o cérebro processa as informações ou a memória funciona, talvez você acredite que o amor que foi tão grande, realmente não se acabou. Ele apenas repousa em águas profundas até que o tempo, que hoje o afasta, um dia corra a seu favor.
Talvez você sinta que a dor da saudade é quase insuportável e a espera mais longa do que poderia prever. Que os obstáculos são diversos e tentam impedir que os sonhos ultrapassem os limites improváveis do amanhã.
Talvez você ainda queira acreditar em esperanças, em planos simples, como o de apenas ser feliz!
Porém, se pairar uma dúvida em seu coração, por pequena que seja, recorde o dia de ontem, ou um passado um pouco mais distante. Pode ser que você reencontre parte da esperança, do amor e da alegria que escondeu durante muitos anos, até de seu coração. Ou talvez você termine por descobrir que o tempo e a distância podem fazer esquecer, ou até mesmo apagar, a holografia do que foi um grande amor.

 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Quebra de Paradigma




A revelação aconteceu inesperadamente, enquanto acompanhava a cena que se desenrolava na tela. Um dos personagens passou a sua vida acreditando que havia causado uma grande infelicidade para alguém que muito amara, quando o abandonou. Apesar do tempo transcorrido e mesmo separados geograficamente, ele continuou alimentando aquele sentimento em seu coração e dedicou-se com grande empenho na busca de notícias – era seu desejo reparar o mal que supunha ter feito e recomeçar. Quando, já no final de sua vida aconteceu o reencontro, constatou com surpresa que o outro havia superado o triste episódio e fora feliz uma vida inteira, enquanto ele se mantivera preso aos fios do passado e do remorso.
Neste ponto da cena, foi inevitável comparar com outra história similar e finalmente entender uma das lições mais importantes de sua vida! Talvez tudo fosse óbvio para os demais, mas nunca havia se mostrado tão claro assim para ela. Mesmo tardiamente, a vida estava lhe dando a oportunidade de entender quanto tempo e energia foram desaproveitados, enquanto estivera ocupada em arrastar o pesado fardo do arrependimento.
Como o personagem, acreditara, até então, ter causado um grande dano à vida de outra pessoa, por uma decisão tomada no passado. Dessa falsa certeza fez a sua tristeza e, dessa tristeza, sua cruz. Vivera até ali sentindo um remorso incomum por não ter correspondido, ao que acreditara ser o sonho do outro. Viveu pela metade e sentiu uma culpa que se multiplicou pelas horas, dias e anos de sua vida. Para curar-se daquela dor, buscou incansavelmente uma oportunidade para se redimir.
Depois de muitos anos, seu caminho finalmente encostou-se ao que o outro tomara. Sua felicidade foi tão grande que não conseguiu se limitar às explicações. Não percebeu, ou não quis aceitar, que o tempo já havia curado e apagado suas memórias e reduzido sua imagem e importância, dentro do outro coração. Mesmo com alguns momentos de lucidez, teimara em enxergar naquele reencontro uma nova chance - conquistada pelo seu empenho e protegida pelos céus!
Diante da semelhança de fatos, a reflexão compulsória fez com que experimentasse uma profunda sensação de inadequação. Sentia que havia se excedido na audácia e na expectativa infantil de que o passado pudesse ser passado a limpo, sem perceber a armadilha criada por suas culpas e ilusões. Enxergava agora a prisão em que vivera... A verdadeira prisão sem grades que erguera ao redor de si mesma, que limitara seu entendimento e impedira que qualquer novo sentimento florescesse, pela simples culpa de ser feliz! Finalmente, tinha nas mãos a chave para sua libertação!  

Incertezas Verbais

          

Mais um dia registrado no calendário... O futuro, que antes era distante, já chegou ao presente e imediatamente se transforma em passado recente, sem que possa deter o movimento inexorável e aparentemente lento do tempo. Na realidade, ele passa mais rápido do que posso acompanhar com meus sentidos humanos, imperfeitos e limitados. Minha maior ilusão ainda é acreditar que tenho o controle de todas as situações, que faço tudo que posso e quero, que fiz tudo que deveria fazer. Para avaliar apenas o transcorrer do dia, vejo que gastei um tempo maior aqui, demorei um pouco mais ali, especialmente quando o assunto, a pessoa ou a atividade eram de meu agrado. Em outros momentos, o passado me chamou com sua voz de lembranças ou sonhei acordada com um futuro que, ainda que incerto, desejaria ver chegar. Constato que, em grande parte das vezes, não posso dizer exatamente em que tempo vivo, enquanto meu corpo, vazio de consciência, repousa no presente. Muito eu vi, mas nem tudo enxerguei; ouvi, mas nem tudo escutei; falei, mas nem tudo expressei. Sei um pouco o que fiz, mas nem tudo sei porque fiz.
O grande desafio é transformar as ações de cada dia, numa sucessão de verbos conjugados na primeira pessoa do presente do indicativo, sem ressalvas – eu enxergo, eu ouço, eu expresso; eu sei o que, e porque faço. Para não herdar as incertezas tardias do futuro do pretérito.

Aceitar as diferenças




Muitas frases, ditos populares e ensinamentos que escutamos são quase imediatamente catalogados como pequenas verdades, se chegam a tocar nosso coração. Mesmo sem uso imediato, ficam guardados na mente para serem aplicados e repetidos, sempre que o momento for apropriado. São sentidos e memorizados inicialmente, mas seu entendimento mais profundo só acontece após a experiência e comprovação pessoal.
É fato inquestionável que as pessoas veem um acontecimento único de diferentes maneiras e que eles têm importância desigual para uns e outros. Mesmo sabendo disso, seja pelo entendimento superficial, pelo alto nível de esperança ou de ilusão, menosprezamos essas diferenças. Elas apenas se tornam mais facilmente identificáveis quando um fato novo provoca o impulso de avaliar e julgar quem se encontra no outro prato da balança!
A ação preventiva de pensar e aceitar as diferenças, antes de qualquer manifestação, ainda é uma atitude rara e descontínua. Porque, conscientemente, todos nós queremos ser amados, valorizados ou avaliados segundo nossos próprios parâmetros, como se o outro lado fosse obrigado a pensar e sentir exatamente igual. Esta falsa segurança faz enxergar a realidade de forma desvirtuada e avançar com muita sede ao pote. Logo nos deparamos com a surpresa e o desconforto indigesto de comprovar que, como unidades independentes, cada um pensa e sente os acontecimentos de diferentes maneiras. No final da história, o que fica é a sensação incômoda e a vergonha de ter excedido na confiança, no amor, na atenção e na delicadeza. Apenas batemos na porta errada.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Tudo termina assim, meu amigo...


Tudo termina assim – sem aviso prévio, como se a vida fosse apenas uma luz que alguém descuidado apagou... Para os que ficam, chega a dor, fica o susto de quem foi surpreendido por um fato que, pese a isto, a ninguém vai poupar, quando for chegado o momento. Chega a saudade que, compensatória, preenche o vazio que nenhuma outra presença  poderá preencher. É difícil aceitar o quanto tudo é tão tênue nesta vida, tão frágil, ainda que acreditemos – e confiemos, que somos fortes e haveremos de vencer todas as batalhas... Mas, quando vencemos realmente? Vencemos fatos, episódios, ou quando alcançamos que o melhor de nós fique impregnado naqueles que nos conheceram? Este fato inevitável também traz consigo a prerrogativa de fazermos uso um pouco mais consciente da reflexão, da autoavaliação. É o momento de nos perguntarmos o que haveremos de fazer para, quando o nosso momento chegar, ele nos encontre nas melhores condições.