Mais um dia registrado no calendário... O
futuro, que antes era distante, já chegou ao presente e imediatamente se transforma
em passado recente, sem que possa deter o movimento inexorável e aparentemente
lento do tempo. Na realidade, ele passa mais rápido do que posso acompanhar com
meus sentidos humanos, imperfeitos e limitados. Minha maior ilusão ainda é
acreditar que tenho o controle de todas as situações, que faço tudo que posso e
quero, que fiz tudo que deveria fazer. Para avaliar apenas o transcorrer do
dia, vejo que gastei um tempo maior aqui, demorei um pouco mais ali,
especialmente quando o assunto, a pessoa ou a atividade eram de meu agrado. Em
outros momentos, o passado me chamou com sua voz de lembranças ou sonhei
acordada com um futuro que, ainda que incerto, desejaria ver chegar. Constato
que, em grande parte das vezes, não posso dizer exatamente em que tempo vivo,
enquanto meu corpo, vazio de consciência, repousa no presente. Muito eu vi, mas
nem tudo enxerguei; ouvi, mas nem tudo escutei; falei, mas nem tudo expressei. Sei
um pouco o que fiz, mas nem tudo sei porque fiz.
O grande desafio é transformar as ações de cada
dia, numa sucessão de verbos conjugados na primeira pessoa do presente do indicativo,
sem ressalvas – eu enxergo, eu ouço, eu expresso; eu sei o que, e porque faço. Para
não herdar as incertezas tardias do futuro do pretérito.
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