A revelação aconteceu inesperadamente, enquanto
acompanhava a cena que se desenrolava na tela. Um dos personagens passou a sua vida
acreditando que havia causado uma grande infelicidade para alguém que muito amara,
quando o abandonou. Apesar do tempo transcorrido e mesmo separados
geograficamente, ele continuou alimentando aquele sentimento em seu coração e dedicou-se
com grande empenho na busca de notícias – era seu desejo reparar o mal que supunha
ter feito e recomeçar. Quando, já no final de sua vida aconteceu o reencontro, constatou
com surpresa que o outro havia superado o triste episódio e fora feliz uma vida
inteira, enquanto ele se mantivera preso aos fios do passado e do remorso.
Neste ponto da cena, foi inevitável comparar com
outra história similar e finalmente entender uma das lições mais importantes de
sua vida! Talvez tudo fosse óbvio para os demais, mas nunca havia se mostrado
tão claro assim para ela. Mesmo tardiamente, a vida estava lhe dando a oportunidade
de entender quanto tempo e energia foram desaproveitados, enquanto estivera
ocupada em arrastar o pesado fardo do arrependimento.
Como o personagem, acreditara, até então, ter
causado um grande dano à vida de outra pessoa, por uma decisão tomada no passado.
Dessa falsa certeza fez a sua tristeza e, dessa tristeza, sua cruz. Vivera até
ali sentindo um remorso incomum por não ter correspondido, ao que acreditara
ser o sonho do outro. Viveu pela metade e sentiu uma culpa que se multiplicou
pelas horas, dias e anos de sua vida. Para curar-se daquela dor, buscou
incansavelmente uma oportunidade para se redimir. Depois de muitos anos, seu caminho finalmente encostou-se ao que o outro tomara. Sua felicidade foi tão grande que não conseguiu se limitar às explicações. Não percebeu, ou não quis aceitar, que o tempo já havia curado e apagado suas memórias e reduzido sua imagem e importância, dentro do outro coração. Mesmo com alguns momentos de lucidez, teimara em enxergar naquele reencontro uma nova chance - conquistada pelo seu empenho e protegida pelos céus!
Diante da semelhança de fatos, a reflexão compulsória fez com que experimentasse uma profunda sensação de inadequação. Sentia que havia se excedido na audácia e na expectativa infantil de que o passado pudesse ser passado a limpo, sem perceber a armadilha criada por suas culpas e ilusões. Enxergava agora a prisão em que vivera... A verdadeira prisão sem grades que erguera ao redor de si mesma, que limitara seu entendimento e impedira que qualquer novo sentimento florescesse, pela simples culpa de ser feliz! Finalmente, tinha nas mãos a chave para sua libertação!
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