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sábado, 16 de fevereiro de 2013

Quebra de Paradigma




A revelação aconteceu inesperadamente, enquanto acompanhava a cena que se desenrolava na tela. Um dos personagens passou a sua vida acreditando que havia causado uma grande infelicidade para alguém que muito amara, quando o abandonou. Apesar do tempo transcorrido e mesmo separados geograficamente, ele continuou alimentando aquele sentimento em seu coração e dedicou-se com grande empenho na busca de notícias – era seu desejo reparar o mal que supunha ter feito e recomeçar. Quando, já no final de sua vida aconteceu o reencontro, constatou com surpresa que o outro havia superado o triste episódio e fora feliz uma vida inteira, enquanto ele se mantivera preso aos fios do passado e do remorso.
Neste ponto da cena, foi inevitável comparar com outra história similar e finalmente entender uma das lições mais importantes de sua vida! Talvez tudo fosse óbvio para os demais, mas nunca havia se mostrado tão claro assim para ela. Mesmo tardiamente, a vida estava lhe dando a oportunidade de entender quanto tempo e energia foram desaproveitados, enquanto estivera ocupada em arrastar o pesado fardo do arrependimento.
Como o personagem, acreditara, até então, ter causado um grande dano à vida de outra pessoa, por uma decisão tomada no passado. Dessa falsa certeza fez a sua tristeza e, dessa tristeza, sua cruz. Vivera até ali sentindo um remorso incomum por não ter correspondido, ao que acreditara ser o sonho do outro. Viveu pela metade e sentiu uma culpa que se multiplicou pelas horas, dias e anos de sua vida. Para curar-se daquela dor, buscou incansavelmente uma oportunidade para se redimir.
Depois de muitos anos, seu caminho finalmente encostou-se ao que o outro tomara. Sua felicidade foi tão grande que não conseguiu se limitar às explicações. Não percebeu, ou não quis aceitar, que o tempo já havia curado e apagado suas memórias e reduzido sua imagem e importância, dentro do outro coração. Mesmo com alguns momentos de lucidez, teimara em enxergar naquele reencontro uma nova chance - conquistada pelo seu empenho e protegida pelos céus!
Diante da semelhança de fatos, a reflexão compulsória fez com que experimentasse uma profunda sensação de inadequação. Sentia que havia se excedido na audácia e na expectativa infantil de que o passado pudesse ser passado a limpo, sem perceber a armadilha criada por suas culpas e ilusões. Enxergava agora a prisão em que vivera... A verdadeira prisão sem grades que erguera ao redor de si mesma, que limitara seu entendimento e impedira que qualquer novo sentimento florescesse, pela simples culpa de ser feliz! Finalmente, tinha nas mãos a chave para sua libertação!  

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