Quando começou a entender seu próprio sofrimento e dos seres que viviam à sua volta, diante da perda ou separação de alguém querido, ela decidiu que não queria isto para si mesma. Não era seguro de forma alguma! Aprendeu a construir, ao longo do tempo, resistente couraça em torno de seu coração, que pudesse protegê-la de qualquer envolvimento com as pessoas. Elas podiam partir de sua vida e despedaçar seu coração em segundos, deixando para trás um vazio que ninguém poderia preencher de forma igual – nem mesmo o tempo. Cuidadosamente, mantinha um limite máximo de aproximação e reforçava a couraça sempre que soava seu sinal de alarme interno – igualmente desenvolvido por ela.
O tempo passou e a mocinha se tornou mulher.
Sempre arredia. Sempre na defensiva. Pouco
ouvia e menos ainda falava de seus sentimentos, angústias, de suas dúvidas,
temores, até mesmo de suas alegrias. Guardava o que fosse possível para si
mesma! Algumas vezes isto causava um grande congestionamento interno. Causava
insônia, dor no peito, irritabilidade, lágrimas escondidas. Tristezas sem
motivos aparentes, alegrias desperdiçadas.
Chegou a acreditar que não precisava de
ninguém, que os relacionamentos eram descartáveis. Não se esforçava em ser
carinhosa nem se preocupava quando suas atitudes e palavras feriam aqueles que
conviviam com ela – fossem quem fossem. Assim estava bem. Assim ficaria por
todos os seus dias. Apenas esqueceu que, tudo que é demais, a vida dá um jeito
de levar para o extremo oposto, até encontrar o ponto de equilíbrio.
Certo dia, a adversidade chegou mais perto.
Tão perto que a colocou diante da sua maior perda e disputou com ela a posse de
um bem que não poderia ser reposto. Diante de seus olhos, viu o tempo e tudo mais
que perdeu, enquanto se escondia dentro de si mesma. Pressionada pelas
circunstâncias, verbalizou todos os questionamentos silenciados. Sentiu a
inexorabilidade do tempo e a efemeridade da vida. Compreendeu que chorar por
alguém significava, especialmente, que esta pessoa fez a diferença em seus dias.
Que ela colocou uma pitadinha de cor, quando tudo estava cinza. Uma pitadinha
de sabor, quando as dificuldades faziam perder o apetite pela vida. Trouxe amor e alegria
ao seu coração, calor aos dias frios; uma presença na solidão. Em correspondência,
bastava aceitar que relacionamentos e pessoas não são perfeitos nem eternos. É
o risco de viver. O risco de amar. Sem isto, o choro é apenas de arrependimento
e saudade tardia. Decidiu optar pelo sentir. Permitir. Desfez a couraça que
apertava seu coração e sentiu o sangue correr quente e livre por suas veias.
Sentiu-se desprotegida, mas pronta para viver! E recomeçou...
Dedicado, com todo amor, para a primeira rosa do meu jardim da vida...
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