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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Ainda me lembro...


Ainda me lembro do tempo que eu era criança e minha mãe usava um código para sinalizar que ninguém a interrompesse, quando precisava concentrar-se em alguma de suas costuras mais elaboradas. Sua voz afinada elevava-se no ar, preenchendo os espaços da escala musical suavemente, com os sons nostálgicos de alguma melodia antiga. Ela cantava de maneira tão bela que nada e nem ninguém ousava interromper aquele momento! Assim, sua voz imperava soberana, sobrepondo-se a todos os outros sons característicos de mais outro entardecer.
Se estava brincando por perto, parava tudo que estivesse fazendo para escutá-la. De uma forma que não conseguia explicar, sentia que seu canto saía do mais profundo de seu ser, mesmo que a minha mente incipiente de criança ainda não pudesse compreender o significado das palavras, ou os anelos do ser que as expressava. Meus ouvidos apenas acompanhavam os sons que tocavam meu coração! Simplesmente deixava-me envolver por uma doce emoção, que ia muito além do que a minha pouca idade tinha condições de verbalizar.
Hoje, arrisco-me a dizer que talvez sua voz despertasse em mim a saudade de um passado longínquo e feliz, anterior a essa vida. Ou, quem sabe, a intuição de obstáculos que enfrentaria no futuro, aos quais não teria como evitar e nem a teria por perto para ajudar-me a vencê-los. Assim, mesmo que a minha alma ainda não consiga determinar, com toda a certeza, os motivos para a emoção que me envolvia, meu espírito certamente conhece suas origens. Quanto aos seus objetivos, permanecem guardados como fragmentos de vida na caixa imaterial da existência. Certamente para provar que todos os instantes da vida, por singelos que sejam, guardam em si um segredo, que nem sempre e nem todos conseguem revelar.

A Cura



Depois de um longo período de enfermidade, estou liberada para levar minha alma para passear! Ainda entorpecida pelo tempo de imobilidade, dou passos incertos na direção do sol, que lá fora, felizmente voltou a brilhar. O cálido calor de seus raios aos poucos vai penetrando e se espalhando por todo meu ser, dissolvendo a rigidez de meus membros e devolvendo-me à vida. O céu límpido, em tons claros de azul, favorece que uma brisa morna sopre por entre meus cabelos, espalhando no ar os últimos pensamentos de tristeza que ainda teimavam em não querer partir.
Meu coração, já mais fortalecido, volta a cantarolar uma doce canção de esperança e imediatamente sinto que todas as minhas células ficam mais leves e translúcidas, libertando-me das limitações impostas pelas leis da física. Meu corpo suavemente alça voo, numa evolução leve e graciosa. Como num passe de mágica, vejo surgir no horizonte pessoas e lugares que fizeram parte do meu passado. Revivo situações da minha vida, o que favorece a compreensão e consolidação do aprendizado. Agradecida, reafirmo internamente que nada na vida acontece por acaso ou é em vão!
O voo prossegue, revelando-me uma sucessão de paisagens, fatos e imagens. Não sei se tem rota predeterminada ou horário de chegada. Talvez desfrutar deste momento único seja sua origem e máxima finalidade! Finalmente compreendo que, mesmo tendo demorado, começa a acontecer a cura!

Crises interiores

Para falar a verdade, junto com você não foram embora apenas meus sonhos de felicidade. Foi embora também a inspiração que guiava minhas mãos e a vontade que me fazia realizar os planos mais fantásticos. Foi embora o jeito travesso de enxergar a vida e o brilho no olhar de quem guarda um segredo bom.
Confesso que, no fundo do meu coração, eu acreditava em finais felizes... Mesmo quando ninguém podia prever que no final da história, o galã ficaria com a mocinha feia de olhar sonhador. Tudo era apenas uma questão de tempo e de foco. Pois um dia, em algum momento, algo de bom poderia acontecer! Amores impossíveis se realizariam, planos secretos e mirabolantes se concretizariam, o que compensaria o sofrimento anterior e faria com que o vivido tivesse valido a pena.
Hoje eu me estranho, sem conseguir conviver bem com esta que me tornei. Tenho hoje um oco no lugar do coração – não sinto, não desejo, não faço planos. Quando se faz necessário, sorrio, mantenho uma conversa interessante, para dar sinais de inteligência e camuflar minhas crises interiores. Contudo, a realidade agora mantém meus olhos abertos, bem abertos, e os pés pregados no chão. Para não mais sonhar ou acreditar que um dia você pode querer voltar!

Lembranças...

 
A saudade chega e toma meu coração de surpresa e não há tempo para segurar as lágrimas, que correm livres como um rio que não tem barreiras de contenção. Minha mente desliza nas águas das lembranças e tento pescar, entre elas, alguma que seja mais feliz. Lá do fundo trago imagens de presenças queridas, a sensação de cheiros e sabores de tardes da infância, o conforto de cuidados e a certeza de amores que já não tenho mais aqui. Contudo, nada encontro que tenha o poder de devolver-me as esperanças e certezas que o tempo tirou de mim e poder, dessa forma, escapar da cilada a que meus sonhos me conduziram!
Triste, constato que nem tudo consigo mudar e tento convencer-me que chegou a minha hora de desistir do amor. Para ficar de acordo com a minha solidão atual, escolho acreditar que ele não nasceu nesta vida e está apenas a esperar meu regresso, em algum lugar, para enfim vivermos o nosso amor. Ou talvez, eu tenha apenas perdido a hora certa de encontrá-lo, enquanto fui atraída e envolvida por algum mero imitador.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

E SE...?

Difícil alguém dizer que está totalmente seguro de suas escolhas, quando essas duas palavrinhas se juntam na mente, formulando uma pergunta: e se...? Sua simples menção deixa claro que foi inoculado em nossa mente o germe da dúvida, que faz corroer supostas convicções e coloca a descoberto fragilidades e inseguranças não resolvidas. Elas costumam surgir quando nem tudo está bem e feliz dentro de nós e sinalizam que o caminho seguido deixou a desejar ou foi escolhido impulsivamente. Essa pergunta, aparentemente inofensiva, inevitavelmente leva a fazer uma comparação entre o que se tem no presente e o que poderia ter sido, caso as escolhas tivessem sido outras. E todos sabemos quão difícil é competir com algo que só existe no mundo da ideação. Este, quase nunca é superado pela realidade!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A roda do destino

Não foi fácil para ela conter a avalanche de pensamentos que invadiram sua mente, ameaçando aumentar seu sofrimento! Viu-se diante de uma realidade despojada de atrativos, sem maiores expectativas de que o amanhecer pudesse lhe trazer boas novas. Com algum esforço, conseguiu disfarçar seu desalento, assumindo uma posição mais serena diante dos fatos. Tentava resignar-se pelo que não conseguia, não podia ou não devia mudar. Certamente haveria algum motivo, além do que abarcava sua pequena compreensão humana, para que tudo que havia buscado e, porque não dizer, sonhado em cada instante dos últimos 30 anos, escapasse outra vez entre seus dedos.

Diante dessa nova realidade, foi inevitável recordar os inúmeros avisos que recebera, ao longo da vida, indicando a necessidade de mudança e evolução como único caminho para alcançar o que seu coração tanto desejava. Entretanto, quando finalmente parecia ter chegado o momento tão esperado, não conseguiu evitar que a pressa e a impaciência, duas características marcantes de sua personalidade, colocassem tudo a perder outra vez. Foi assim que a sua história com final feliz terminou antes de ter começado realmente, deixando a dúvida se ela fora mesmo uma chance real.

Avaliando os fatos de forma mais ampla, compreendeu que aquele era o menor de seus problemas. O presente era, principalmente, a soma atualizada de todas as suas escolhas anteriores. Apesar de saber que nem sempre elas dependiam apenas de si mesma, perguntou-se, não sem um certo receio de saber a resposta, que atitudes suas foram sementes para as conseqüências que colhia no momento. A roda do destino nunca se movimenta em vão e nem age por iniciativa própria, obedecendo sempre aos pensamentos eleitos e praticados pelo ser durante toda sua vida. Diante dos resultados atuais, forçoso era concluir que urgia plantar e cultivar sementes mais selecionadas para ter a chance de colher melhores resultados em algum ponto de sua existência.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Debaixo do Ipê Amarelo

 
 
A primavera já chegou ao calendário! Na tarde pardacenta de mais um longo período de estiagem, só os ipês exibem em profusão suas flores amarelas - uma mancha de alegria na paisagem ressecada. Eles anunciam e antecipam o milagre que acontece a cada ano na natureza, mas que nossos olhos ainda não podem comprovar.
O coração se encanta - são realmente lindos os ipês! O tapete amarelo que se forma debaixo de sua copa de flores é um convite para o repouso do corpo e conforto para as tristezas da alma. Seu colorido nos recorda que dias melhores virão, mesmo que o ar em volta ainda esteja praticamente irrespirável. Sua visão simboliza uma esperança: o fim de um ciclo representa o começo de outro – tanto na natureza, quanto na vida humana!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Artista de Araque

 
 
 
Vou dar baixa na minha carteira de ator! Cansei de representar o personagem que nunca chega a um final feliz. O mocinho de olhar sedutor sempre fica com a protagonista da história e o vilão paga por todas as suas falcatruas, recebendo a punição esperada. Claro que, vez por outra, o vilão vira herói, por pura simpatia do telespectador. Isto pode acontecer, mas é coisa rara.
Por tudo isto, vou largar a profissão e deixar de atuar. Descobri que a verdadeira novela é a vida real, com suas tramas imprevisíveis e seu elenco de quinta, que aspira à primeira categoria. Aqui os vilões raramente são punidos, quanto mais alta é a conta bancária. Quem é bom e quem é mau tem deslizes, sofre ataques de feras internas e enfrenta quem se atreve a lhe pisar nos calos.
Só tenho mesmo uma dúvida: será que nessa outra versão da história cabe pensar que, se na novela real também nunca fico com a mocinha, serei o vilão da vida?

O mar azul de Brasília!


O concreto corta o azul, demarcando a fronteira entre a natureza incomensurável criada por Deus e a cidade de asas, criada pelo homem. Cores revestem formas geométricas arrojadas que, alongadas na horizontal e na vertical, desenham o horizonte sem ocultar o céu. No coração da cidade a plataforma suspensa liga o norte com o sul, para levar e trazer pessoas de passos apressados. Carros deslizam velozes pelas pistas da esplanada, num vai e vem interminável e espalham-se pelos eixos, redesenhando seus caminhos de asfalto. No caos aparente, todas as formas se equilibram harmoniosamente nessa imaginária linha limítrofe, comprovando que nós, seres humanos, temos os pés firmados no chão, enquanto nossa mente sonha com o que está mais além. Na pressa de chegar e partir, poucos se dão conta que esta cidade é a síntese e o ponto de união entre o humano e o divino. Caminham indiferentes, acostumados à beleza, à diária poesia da luminosidade da lua e do sol que transformam em mar, o céu azul de Brasília.

A parte de minha vida que ainda está misturada na sua...

Posso dizer que eu o amei por tanto tempo, que não encontro mais uma maneira de esquecer você. Como um ritual inútil, carrego suas lembranças para lá e para cá, na tentativa de encontrar um lugar mais confortável para acomodá-las. Se uma parte de mim, ainda esperançosa, mantém-se quieta para ouvir seus passos voltando, a outra, mais realista, sabe que a chance de um reencontro entre nós passou e talvez não volte a acontecer! Você se perdeu em algum ponto da nossa história e tomou outros atalhos, que o levaram para bem longe de mim.
Hoje não quero mais saber com qual de nós ficou a razão. Meu desejo é apenas sentir seus braços envolvendo meu corpo, enquanto sua voz me convence que o pior já passou. Mas, na penumbra do quarto nada de significativo acontece. Nada modifica a monotonia de mais uma noite vazia de carinhos, cheia de saudades e povoada de sonhos ardentes que aquecem meu corpo, mas não podem acender a minha chama. Talvez precise finalmente aceitar que a parte da minha vida que ficou misturada com a sua nunca mais volte a existir.

Palavras do Coração

Palavras verdadeiras nem sempre são bonitas e palavras bonitas nem sempre são verdadeiras. Uma lógica fácil de comprovar, por vezes difícil de aceitar, mas sempre aplicável em todas as situações e relacionamentos.
Construí meu mundo com palavras, mas uma só palavra pode destruí-lo em poucos segundos. Se isto acontece, recrio tudo novamente, não importando se a palavra seguinte poderá desmoroná-lo outra vez e partir meu coração em mais de mil pedaços.
Por isso, para prolongar um pouco mais a existência de minhas palavras, da dor faço arte, mesmo que elas sejam pequenas e medíocres. Ou sejam apenas minhas e não se parecem com as de mais ninguém. Descobri que a dor e a arte ficam diferentes em cada coração!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A outra versão da história

 

Nenhuma história, ao ser relatada, revela uma verdade absoluta. Sempre existe outra versão, positiva ou negativa, dependendo da simpatia ou antipatia que os personagens despertam naqueles que a relatam. Vítima e algoz, herói e vilão não são eleitos por unanimidade e trocam constantemente de papéis, dependendo de que lado está o narrador e com a mesma rapidez que a história se espalha. Nenhuma versão é definitiva e quem acredita que seja assim pode querer assumir o posto de dono da verdade. Exatamente nesse ponto começam os desentendimentos humanos! Essa vaidade mal-disfarçada em sabedoria, em fidelidade aos fatos, pode destruir lares, amizades, amores, países e até o nosso próprio planeta!

Caminho sem fim...




Tudo voltou a ser como era antes, exceto pelo fato de que agora aceito a realidade. Foi uma dolorosa jornada e cada passo dado contribuiu para chegar a este resultado. Ao longo do caminho pude colher frutos de valor inestimável: experiência, maturidade, paz, alegria. Respeito por mim mesma e, na mesma proporção, respeito pelo semelhante. Compreensão das leis que regem todo o criado e confiança no amor incondicional de Deus.
Ao tempo que avanço neste sentido, também vou perdendo outras cargas bem menos valiosas: o temor, a covardia, as ilusões infundadas, a dependência psicológica e espiritual de pessoas e coisas, o apego antinatural pelo que me rodeia no plano físico. Como saldo desse processo fica a certeza de que todo acontecido cumpre um objetivo para a vida.
Posso dizer que me sinto mais leve e que uma alegria mansa toma conta de meu ser toda vez que aceito que nem todos os planos, sonhos e amores são possíveis. Mesmo que algumas vezes ainda fique um pouco triste diante de tantos desencantos e que a dor teime invadir meu peito sem avisar. Para evitar tais consequencias, estou aprendendo a manter minhas aspirações dentro do limite realizável. Afinal,

Nem tudo que eu quis, aconteceu.
Nem tudo que aconteceu me fez feliz.
Mesmo assim é preciso seguir.
Se hoje é difícil, amanhã será melhor.

É um longo aprendizado mas, para que ter pressa, se este caminho não tem fim?

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O lado bom das coisas ruins

Com todo o sofrimento que sentia no momento, ainda assim, não podia negar que fora feliz! O término de um relacionamento não significa, necessariamente, ausência de felicidade! Sobretudo se colocou mais brilho no olhar, um sorriso nos lábios e deixou no corpo a vontade incontida de se realizar. Nesses casos cabe aplicar a máxima: foi bom enquanto durou!
Mesmo que agora o sol forte da realidade mostre os fatos por um ângulo menos romântico e mais objetivo e fique evidente que apenas seus sonhos mantiveram suas esperanças intocáveis até ali. Ainda que a imagem guardada dentro dela, durante tantos anos e com tanto carinho, pouco a pouco vá ficando menos nítida, permanece a certeza que as sensações experimentadas serão sempre indeléveis! Talvez a saída seja desassociá-las do ser que as promoveu. Pode ser que assim elas não machuquem tanto o seu coração e se tornem sempre bem-vindas!

Armadilha de cetim


Dobrei com cuidado meus sonhos
Guardei numa caixa forrada de cetim
Juntei alguns pedaços de esperança
Embrulhei com as melhores lembranças
Parei na porta do tempo para entregar a você.

Dia e noite lá fiquei...
Veio a chuva, depois o sol,
Correu o tempo das horas
Passou o tempo da vida.
Você não veio o meu regalo receber.

Depois de muito esperar,
tentei voltar sobre meus passos,
Desfazer-me de antigos sonhos
Guardar pedaços de esperança
Esquecer nossas lembranças,
sem conseguir!

Surpresa, finalmente percebi:
Caí na armadilha
de uma caixa forrada de cetim.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

CORAÇÃO CATIVO

















Chegou a hora de deixar-te!
Outra vez enamorado, o coração se entristece,
Dividido pelo amor entre a serra e o planalto.
Levo na retina tua beleza antiga,
Teu formato de presépio sobre a serra,
A penumbra serena de tuas ruas.
Recordo o som plangente de tuas melodias
Que, outrora, chamava à janela,
Olhares e suspiros de casadouras donzelas.
Retorno, outra vez, para o distante planalto
Onde a minha mente, um dia, escolheu viver.
Levo no olhar teu horizonte de serras,
O coração, para sempre, cativo de teu amor!

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Cartas embaralhadas

A madrugada outra vez despertou-me com lembranças! Como se a mente estivesse tão cheia delas que não conseguiu se conter e abriu suas portas, deixando escapar perguntas que me fiz e não encontrei as respostas, também aquelas que me fizeram e eu não soube responder. Senti-me afogar entre tantas, até que resolvi acender a luz e tentar colocá-las no papel. Diante da folha branca o pensamento foge – já não sei o que escrever. Até que agarro uma que atravessa rapidamente a minha mente: quem sou eu realmente? Como sou, no mais íntimo de meu ser? Um ser feliz, como digo ser ou apenas feliz como tento parecer? Sou sempre eu mesma ou por vezes finjo ser aquela que um dia quero ser? Aceito como verdade aquilo que não existe? E o que existe de verdade em cada um, eu consigo ver? Não quero ser julgada por ninguém, mas por vezes julgo os atos de meus semelhantes. Será que desse jeito eu perco o melhor que existe em cada um?
Por vezes penso que embaralhei as cartas da vida ou troquei cada uma de lugar – por isso, o jogo nunca termina! Parece que ainda não aprendi a lição para saber fazer o para-casa que Deus um dia me passou. Erro uma e mil e uma vezes, sem deter-me à tempo de encontrar o elemento que me faltou para fazer com acerto a lição. Quando devo ser humilde e me calar, digo o que não sinto, mas calo por covardia, só para ficar de bem com alguns, menos com o desejo de meu coração. Diante de tudo isso, não sei como me salvar, pois a minha alma e meu espírito ainda não se entendem - apenas fingem que se dão bem...

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Proporcionalidade...

 
Um dia desses, diante de um fato muito agradável que aconteceu comigo, não pude deixar de perguntar-me se também teria conseguido fazer feliz a quem proporcionou-me aquele momento tão especial! Essa indagação fez-me recordar o slogan simpático da propaganda de uma conhecida rede de supermercados: “O que faz você feliz, também faz alguém feliz”? Aparentemente despretensiosa, essa pergunta valoriza uma atitude que contém em si parte de um segredo, poucas vezes considerado nos relacionamentos humanos.
É inegável que todos nós desejamos viver momentos de felicidade! Mas, também é inegável que nem sempre estamos atentos ou dispostos a favorecer e considerar esse mesmo desejo de felicidade naqueles que nos rodeiam. Talvez acreditemos, mesmo sem o manifestarmos verbalmente, que a nossa felicidade está acima de possíveis vontades e necessidades do outro!
Entretanto, quando transcendemos o pequeno círculo de nossas necessidades individuais e também ficamos atentos às necessidades daqueles que estão ao nosso redor, imediatamente aumentamos nossas chances de promover e proporcionar alegria mútua. Neste caso acontece uma soma – passa a ser a “nossa felicidade”! Crescemos internamente e nessa mesma proporção, cresce a nossa chance de felicidade!

Folhetim



Até tentei esquecer essa história
Que mais parece um folhetim,
Publicação parcial, narrativa seriada,
Que algum poeta sem senso
Começou, mas esqueceu de concluir.
Ainda que a contragosto,
Tentei desviar-me das tramas do destino,
Ser mais rápida que a dor e partir...
Mas, com um suspiro, desisti!
Porque, se eu tivesse uma chance,
por pequenina que fosse,
raptaria você para mim,
ainda que fosse só por um dia!
No espaço entre nunca - mais,
Viveria ao seu lado todos os nossos dias,
De todas as nossas vidas!
Depois... eu poderia partir
... e, partiria feliz!

A MINHA MELHOR PARTE...

reconheço-me ainda em ti!
temos o mesmo espírito rebelde,
inquieto e ávido por saber.
os mesmos olhos que mostram possibilidades
onde só os escolhidos sabem ver!

antes como agora, vejo-te em mim!
sinto a mesma urgência de amor,
que ao pedir, também se doa,
um querer que se aventura!
crio alegrias para curar tristezas,
povoo de sonhos a involuntária solidão.

mesmo frágil, a vida superou tormentas
venceu o impossível para chegar aqui. ,
melhor desacreditares do tempo,
de falsas separações que ele cria.
se diferenças hoje existem entre nós,
não impedem que sejamos tão iguais.

para onde eu for, estarás sempre comigo!
deixarei para trás velhos temores,
levarei este amor de muitas vidas,
viverei venturas, enfrentarei desventuras.
mesmo que nada dure eternamente, confesso:
foste a melhor parte da minha história!

Nudez

vou despir-me lentamente de meus versos...
de todos os sonhos que contaram
das ilusões que criaram -
nelas já não sei se posso crer!

vou limpar lembranças em comum vividas
a razão de ser da esperança alimentada.
deixar passar essa dor de perder-me,
aos poucos, ao perder-me de você.

vou encarar a solidão revelada
antes disfarçada entre longas esperas
antes escondida entre vãs promessas
de amor, que não teria fim.

e assim, completamente nua,
entregar-me nos braços da verdade.
construí castelos de nuvens,
desejei segurar uma estrela.
confiei que seria possível
simplesmente, amar e ser feliz!

Em conta-gotas...

a vida não é um pacote fechado!
ela é oferecida em conta-gotas,
escoa um dia de cada vez!

não tente prende-los,
ou torna-los uma rotina previsível
que anestesie suas sensações.

permita que os fatos,
o mundo e as pessoas,
revelem suas mil faces!

não viva cada dia simplesmente:
surpreenda e surpreenda-se
com pequenas atitudes.

maravilhe-se e agradeça,
a cada novo dia,
o inesperado que faz você feliz!

Mágica canção...


doce tocador de violino...
saia dessa tela, venha ficar ao meu lado.
toque com seus dedos mágicos,
a música que meu coração quer ouvir!!

escolha uma canção bonita,
mesmo que nostálgica,
ainda que seja um pouco triste...
apenas faça com que eu fique mais feliz,
do que estou agora.

conte a história de algum amor,
que teve tristezas e separações vencidas
alegrias vividas, distâncias esquecidas.
que ainda não sendo um conto perfeito,
traga novas esperanças ao meu coração.

doce tocador, fique junto a mim.
toque as cordas de seu violino docemente
deixe a sua melodia se espalhar no ar...

quem sabe, por insistência ou pura magia,
ela consiga espantar essa saudade
que, mesmo indesejada,
usa de meus versos para aqui ficar.

Boca vermelha



Ela compreendeu que havia caído outra vez na mesma armadilha, tão repetida e sempre ignorada, de seus sonhos voláteis! Podia sentar, chorar e reclamar da vida ou fortalecer o que ainda restava de sua razão e seguir em frente. Entendeu rapidamente que a última opção era a melhor! O mais difícil era engolir aquele nó que apertava sua garganta, espalhava-se pelo seu peito, fazia latejar sua cabeça e espremia seus olhos, querendo de alguma forma escapar. Contudo, decidiu que não deixaria que aquela dor estragasse os próximos minutos, dias, semanas ou anos de sua vida.
- Nada dura para sempre, pensou consigo mesma e chegou a sorrir diante do duplo significado daquela frase.
Caminhou em direção ao seu quarto e parou diante do guarda-roupa. Escolheu a blusa mais colorida, a calça jeans mais justa, a sandália mais alta e mais bonita. Vestiu-se cuidadosamente, maquiou-se e escovou os cabelos. Ao final, olhou-se no espelho e sorriu diante de tamanha transformação! Virou-se de lado e apreciou, criticamente, a visão que o espelho mostrava. Diante de seus olhos, a boca desenhada de vermelho retribuiu o sorriso. Ajeitou outra vez os longos cabelos com as mãos, pegou a bolsa e caminhou com passos firmes em direção à saída. Após um último olhar para o interior do apartamento, abriu a porta, apagou a luz e saiu...
Sobrepor-se à adversidade já estava se tornando uma atitude bastante comum aos seus dias.

Lendas...

 
Tia Joana desceu na plataforma da estação, ao entardecer de mais um dia frio de junho. Viúva de um tio de sua mãe, era uma figura estranha para se olhar. Usava vestido preto de mangas compridas e botas de cano curto. Trazia um guarda-chuva esquisito, pendurado no braço, enquanto um chapéu mais esquisito ainda cobria sua cabeça pequena. Corpo mirrado, pele morena, olhos escuros penetrantes, que tudo pareciam enxergar. De sua boca pendia um inseparável cigarro de palha, que ela enrolava cuidadosamente, para depois acender, deixando o ar irrespirável ao seu redor.
Foi assim que ela invadiu seu mundo infantil! Apesar dos protestos de sua mãe, que sabia dos temores noturnos das crianças, tornou-se uma contadora de estórias para a garotada. Nas noites de chuva ou de lua cheia, sua voz rouca povoava seu imaginário de contos de fadas e histórias da carochinha, fantásticas ou fantasmagóricas, que prendiam sua atenção e depois enchiam de sustos seu sono.
Entre tantas que contara, em especial lembrava-se de uma lenda que falava da existência de um tesouro ao “fim do arco-íris”! Seus olhinhos de criança ficaram cheios de assombro e cobiça, ao pensar na possibilidade de ter em suas mãos aquele inesgotável pote de ouro. Assim, a cada arco-íris que se formava no céu, seus pensamentos partiam em busca daquela desejada recompensa.
Tia Joana ficou para trás, no seu passado e as fantasias da infância foram diluídas pelas águas da realidade. Certamente deixaram resquícios, conceitos e imagens que, algumas vezes, ainda moviam suas ações. Na vida real o pote de ouro foi substituído por recompensas mais sutis e pessoais. Ainda que inconscientemente, esperava encontra-las ao final de cada tempestade que ocorria em sua vida; após alguma jornada que se fazia mais sofrida. Sem sentir, voltava a esperança disfarçada de encontrar o “pote de ouro” - algo ou alguém que fizesse esquecer todas as dores e lutas que precisara enfrentar para vencer seus obstáculos. Por isso, experimentava uma sensação incômoda diante da realidade, ao constatar que não havia nenhuma recompensa, nem amores eternos ou alegrias inesgotáveis ao final de cada batalha.
Comprovar essa ilusão em que se apoiara tantas vezes, feria sua inteligência e maltratava sua sensibilidade. Afinal, quando os sonhos que nos inspiram são desmistificados, a luz da realidade fere os olhos acostumados ao luar.

FELICIDADE POSSÍVEL

As coisas não costumam acontecer exatamente como se idealiza! Permeiam, entre o fato real e o idealizado, as circunstâncias comuns do dia a dia. É importante saber se adaptar a isto, mesmo que exija uma flexibilidade não previamente planejada. Saber aceitar e valorizar a felicidade que é possível demonstra amadurecimento e senso de realidade, sem significar exatamente acomodação.

Acontece com frequência cada um de nós se preparar para receber o pacote completo da vida – nem um pouquinho menos! Este é, sem dúvida, um dos grandes erros do ser humano – quase sempre cria expectativas irreais acerca da própria felicidade e por isso mesmo deixa de ficar feliz com o que é possível. Outras vezes, esta tão focado em suas próprias alegrias e tristezas que não percebe o que se passa ao seu redor... Deixa de compartilhar momentos e vivências com os seres que ama; perde oportunidades de ser ou de fazer alguém mais feliz. Fechado em seu humano egoísmo, mesmo fazendo o mínimo, quer sempre receber o que há de melhor da vida!

Coloque os pés no chão e agarre a felicidade que é possível no momento, enquanto continua a lutar pela realização de seu sonho maior! Este é o verdadeiro rasgo de inteligência!

Mundo virtual

Acabei de abrir um e.mail, de alguém que nunca vi.
Não lhe adivinho o rosto, seu estado civil real.
Nem mesmo a cor da pele. Se é magro, se é gordo.
Baixo ou alto. Pobre ou rico. Emprego, salário.
Endereço de trabalho ou daquele onde vai dormir.
Nos tempos de hoje é assim: quase tudo é virtual!
Para falar de amizade, amor, tristeza e dor - ou seja lá o que for...
Basta teclar, dar enter, enviar, que chega a quem endereçar...
Não estou a discordar, da comodidade do dito:
Faz negócios à distância, pagamentos e cobranças.
Solução para dores de amor; da saudade que o coração sente.
O PC é amigo do peito, companheiro das horas insones.
Recebe, envia; salva ou apaga - não reclama!
Toca música da moda, mostra o rosto de quem se ama.
Neste mundo virtual, não se sabe o que é real!
Tantos perfis fantasiados, milhões de nicks criados,
Que são adicionados à lista de outro nick.
Modernidades que a mente aprova - mas que não preenchem a alma!
Por vezes, precisamos voltar as origens!
Conhecer pessoas reais,
Viver a magia de olhares,
Encontros marcados e pessoais,
Endereços de concreto,
Cartas de papel - escritas e enviadas para alguém especial!
Amor e amizade que se toque, se diga - que muito se veja!
Sem segredos... sem mistérios!
Pois a beleza da vida está em fazer trocas!
Seja de amizade, alegria ou dor; carinhos ou muito amor!
Mesmo que não seja a moda... mesmo tendo pouca demanda!

DIÁRIA ESPERANÇA...

De novo anoitece!
Momento mágico
entre a noite e o dia
que é pura poesia!

Corro pela avenida da vida
Sinto o vento no rosto
A música suave
chega aos ouvidos,
Toca sentida no coração...

Os faróis dos carros que passam
sinalizam presenças,
mas não iluminam.

Os olhos da mente
Transportam-me a outros tempos,
Outros sonhos já vividos
Que foram também esquecidos
Porém, marcaram o coração.

Situações parecidas
com outros personagens!

A noite chega na rua.
Sem saber de você
aumenta o meu pesar
o meu querer,
Fica a dor de viver,
lacuna sem preencher.

Trocar o amor por prazer
não alimenta a alma;
Não alivia as feridas
da diária luta de existir.

Sem mãos dadas.
Sem carinho.

Volto para casa sozinha
tranco a porta por dentro
deixo os sonhos do lado de fora.

Penso dar um novo rumo à vida
Aprender com as tristezas sentidas
Confiar que a dor vai passar.

Apago as luzes do quarto.
Abro as janelas,
aguardo a manhã chegar -
ela irá trazer um novo dia!

Dom Quixote de saia

sem saber
tomou posse dos meus sonhos
tirou o meu sono
provocou o pranto meu.
despertou toda a emoção
que guardava contida
que tentei passar esquecida
até ao meu coração.

revelou-me
que os sonhos não morrem
não se perdem,
não são sonhados em vão.
ficam apenas suspensos no tempo
escondidos no infinito
esperando o momento exato
para ocupar outra vez o coração.

esta seria a explicação
para sentir esta ânsia d’alma
esta busca incansável
que vem de outros tempos
que até se mistura
às doces recordações da infância?

quando de olhos abertos
projetava inimagináveis aventuras
idealizava presenças queridas
que me abrigariam em seus braços
ao longo de minha vida?

naquele tempo já sonhava...
ah! como sonhava...
determinada já acreditava
ser um Dom Quixote de saia,
sem reino
sem armadura,
eternamente em busca de meus sonhos,
tal como ele à sua Dulcinéia...

Interna avaliação

agosto
já passa do meio
presa nas asas do tempo
vejo já quase findar
o ano
sem que possa
afirmar
o que realizei
de novo

não sei
o que fiz do tempo
que me foi dado
o que fiz do amor
que foi sentido
o que fiz da vida
se nem tudo
foi vivido

na névoa de agosto
triste é o tempo
mais triste ainda
o sentido
constato quem sou
sinto quem poderia
ter sido

no espelho do tempo
repasso
meus atos
almejo conquistas
acerto
meu passo.

das cinzas de agosto
outra vez
renasço!

AMAR BRASÍLIA - RENOVADA RENDIÇÃO

Brasília está repleta de folhas! 
No ar quase irrespirável de agosto, a razão põe defeitos! 
Garante que desta vez vai embora... 
Já não aguenta mais viver nesta secura de deserto, 
sentida na brisa quente que percorre esta parte do planalto.
Planos são feitos, decididos... 
- Vou embora! 
Mais aí, distraidamente o olhar passeia pelo céu pintado de vermelho do entardecer. 
Nas formas escuras das palmeiras - lembranças do litoral, 
que se desenham contra o claro do céu...
Assim tão grande! Tão aberto! 
Quando na noite escura, vê a lua cheia - imensa, linda e branca no céu! 
A colorida fachada do shopping, 
as ruas largas, velozes... 
O traçado incomum, arquitetura singular. 
A mistura de origens, variados sotaques - herdados de outros pontos do Brasil! 
Pronto... já começa a balançar o coração!
Mas para consumar a rendição, vem a luminosidade do amanhecer que se vê, 
que se aprecia no dourado do céu, 
que se sente na brisa morna que envolve o corpo, 
no arrepio de prazer de viver, de tanta beleza ver! 
Aí, já não há jeito... 
Já se rende o coração, fica irremediavelmente amarrado! 
Volta a paixão, vira cartão postal. 
Orgulho de mostrar aos parentes amigos turistas vindos de bem longe, 
só para conhecer a cidade diferente, patrimônio imponente, 
que se ergue no centro do planalto! 
Nesse ponto, os planos já estão desfeitos... 
O coração dividido, pede um tempo à razão! 
Argumenta que as chuvas virão... 
Para colorir as árvores, limpar a névoa, pintar a cidade de verde, umedecer outra vez os pulmões. 
Vence por fim a emoção! 
Ganha outro ano de trégua, acalma a razão, agrada o coração. 
Comprova que amar Brasília, mais que uma escolha, é renovada rendição!

terça-feira, 20 de julho de 2010

Uma casa perfeita, com certeza...

a casa dos meus sonhos,
não é grande nem pequena -
tem o tamanho certinho,
para abrigar um amor.
sua aparência é graciosa,
encanta os olhos que passam.
coloridas floreiras nas janelas,
deixam um perfume gostoso no ar.

logo na entrada há uma varanda
com mesinhas e cadeiras arrumadas.
entre as pilastras, fica uma rede,
num cantinho discreto, uma namoradeira,
para em noites de lua cheia
ficarmos eu e você a conversar.

é bem mimosa esta casinha...
alegre, aconchegante e fresquinha
como convém a um Doce Lar.
no quintal tem uma jabuticabeira
amoras, frutas do conde e uma parreira
que fazem a festa para o paladar.

esta casinha tão simpática
tem um endereço especial:
fica na Rua da Esperança
esquina com a Rua da Conquista
conta os sonhos de uma vida
guarda os desejos do coração.

esta casa tão perfeita...
que não é muito grande,
muito menos pequenina
a felicidade pensou e criou -
com toda a certeza,
só para abrigar o nosso amor...

À casa que um dia sonhei...

Só um mero impulso

 
 
Seu olhar se alonga, a percorrer o horizonte à sua frente, onde nuvens escurecidas fecham a visão. No final de uma tarde qualquer, cai uma chuva fina, fria, monótona, constante... Seu coração se aperta e se irmana com a tristeza expressa na natureza, enquanto percorre caminhos de fora e de dentro. Seu pensamento flutua! Esforça-se por soltar os fios embaraçados do velho novelo, para tecer um final diferente para a sua história - antes que passe ou acabe! Precisa encontrar a ponta da meada, mas o fato concreto é que mais uma vez ela lhe escapa!
Enquanto segue um fio e outro de seus pensamentos, seu olhar sai pelo retrovisor. Surpreende-se! Através do espelho avista o caminho que segue em sentido oposto. Tenuemente iluminado pelo sol do entardecer que se mistura com a chuva, forma uma visão tão encantadora que segura seu pensamento! O contraste da cena desperta-lhe a vontade de dar meia volta e seguir naquela direção, que parece terminar dentro do último raio de sol! Mas, é só um mero impulso, que o horário já apertado para chegar à reunião a inibe de colocar em prática. Porém, a imagem fica presa nos seus pensamentos e segue com ela, como uma vontade a realizar. Leva dentro de si a beleza e a promessa do sonho... enquanto dirige no rumo já estabelecido, no final de uma tarde qualquer, enquanto cai a mesma chuva fina, fria, monótona, constante...
Ao acompanhar a cena que transcorre na tela à minha frente, detive-me a pensar... Quantas vezes já passei por situações semelhantes? Quantas vezes já senti vontade de virar o jogo, seguir meus impulsos, arriscar o novo, fazer uma direção oposta à originalmente escolhida? Na maioria das vezes, os velhos padrões, limites e compromissos arrastam-me para a frente! Ainda que não sejam as opções escolhidas pelo meu coração; ainda que não sejam aquelas que podem fazer de mim um ser mais feliz! E deixo o instante, o fato, a oportunidade ou a pessoa que pode ser única, passar ao largo de minha história...

Uma lição de amor

Nesta grande jornada da vida,
Muitos caminhos se unem,
Outros, apenas se cruzam,
Alguns poucos permanecem sempre juntos,
Mesmo separados pelo espaço.

Acasos não acontecem nesta terra!
Se nem sempre encontramos o porquê,
Podemos buscar o para que.
Promover conhecimento mútuo,
Expansão de consciências.
Fazer da luta crescimento,
Tão necessário à nossa humana evolução!

Conviver com vocês trouxe alegria,
Mais que um presente de Deus,
Foi lição de amor,
Ensinamento de como viver,
De como doar, sem esperar de volta receber!

Grande batalhas foram vencidas,
Muitas vidas ampliadas,
Corações fortalecidos!
Vou em frente, mas deixo aqui parte do meu.
Levo neste novo coração,
O que pude aprender com vocês!

Terra de Deus e dos homens

A cada instante que vivemos, podemos constatar a grandiosidade de DEUS e da Natureza enquanto, na maior parte das vezes acompanhamos pelos jornais diários, a pequenez e limitação das ações dos homens. Enquanto os primeiros expandem a vida e a nossa consciência, criando e renascendo naturalmente, os últimos resolvem seus problemas unilateralmente, ao tempo que destroem e criam problemas maiores ao seu redor...

Contudo, é necessário nos mantermos firmes como aquela rocha que, sob a ação das forças da natureza e das intempéries, transmuta-se e torna-se mais bonita! Este talvez seja o grande salto, o grande segredo que devemos aprender... Não podemos deixar que as dificuldades sejam maiores do que a nossa capacidade de vencê-las. Ao final de tudo, sempre temos algo para agradecer a Deus, por pior que possa parecer o momento atual.

“LUGAR DE GENTE FELIZ”

O quadrinho colorido e simpático, lembrança de uma alegre viagem, está centralizado no pequeno espaço atrás da bancada da cozinha: “Aqui tem gente feliz”. A frase tanto pode ser entendida como um convite, presságio de novos tempos ou apenas um esforço para se sentir assim. Esse tema pode render muitas folhas ou telas escritas sentidamente e a mente divaga entre as possibilidades... Tudo ao redor combina com o romântico quadrinho. Cada cômodo e cada peça remetem a um estado de ânimo alegre, descontraído e espírito jovem.
No espaço à direita da sala, vindo da parte íntima da casa, pode-se ver a delicadeza de pequeninas florzinhas saindo de um vaso de vidro, enquanto um par de amaríles brancas iluminam o centro da mesinha de jantar, contrastando com a textura em tom ocre da parede em frente à porta de entrada. Mesmo reduzido, o ambiente é aconchegante, convite para conversas intermináveis, se confortavelmente acomodados no sofá de dois lugares. À frente e à esquerda tem um barzinho. Sobre a bancada de mármore bege fica a foto de um rosto antigo, emoldurada em branco e uma delicada bailarina com vestido de cabaça. Descendo do teto, um esotérico vasinho de vidro com penduricalhos, contendo um buquê de florzinhas amarelas. Ao fundo, de um lado uma cristaleira na parede, do outro uma janela que se abre para o verde de árvores, sobreposto ao azul do céu. Em frente ao primeiro sofá, duas poltronas individuais formam o círculo invisível das amizades que se encontram para confraternizar. No corredor, de frente para a porta da sala, o banheiro tem um grande espelho, que reflete um orquídea vertical em tons de rosa, rodeada com diferentes perfumes - a primeira, para agradar os olhos e, os outros, para despertar os sentidos. Um dos quartos, o maior e o mais marcante deles, é um mundo em miniatura. Tem uma estante de livros e lembranças de viagens pelo mundo, fotos de rostos atuais e outros mais antigos, unidos pela alegria do mesmo sorriso. A cama ampla e confortável estimula o sono, os sonhos, leituras sob a luz de cabeceira, umas vezes com os travesseiros molhados de lágrimas, outras vezes cobertos de esperanças, que se esparramam por todos os lados. Tudo inspira aconchego, confissões felizes, amores intermináveis, mesmo quando parecem impossíveis. Afinal, nesse lugar de gente feliz, tudo pode se tornar possível!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Lembranças adormecidas

como se tocadas
por mágico condão
sente o despertar
de velhas lembranças
hibernadas
dentro de si

tão inertes estavam
acreditou
que não tinham mais vida
no espaço tempo
já tão distantes
do seu coração

porém, resurgem fortes
e de tão vivas
o presente se explica
o passado se confirma
com a mesma realidade
a mesma alegria
a mesma dor

mesmo que nada
se repita igual
rápido
temores e dúvidas
se instalam
tentam formar
uma barreira de proteção

querem deter a invasão
de velhos conhecidos
sentimentos.
mas, já se faz tarde
eles já ocuparam
outra vez
o coração...

Marcas da alma...


As feridas do corpo, depois de cicatrizadas, não doem mais... As da alma, são mais sutis, por vezes voltam a sangrar, causando danos maiores que os físicos. Nos dois casos, não cabe questionar o destino. Seja qual for a posição - contra ou à favor, não adianta reclamar, se amargurar... Ele é cego e surdo a sofrimentos e contra-argumentações. As coisas apenas acontecem. “Azar” ou “sorte” são conceitos mutáveis - variam conforme a referência.
Depois do fato consumado, o que fica na alma ou no corpo, são as marcas.. Algumas leves. Algumas surgem e somem facilmente. Outras são tão profundas que nada as pode apagar... Marcam como ferro em brasa as camadas mais recônditas do ser. É ai que tem início o que, realmente, depende de nós. É um trabalho interno, diário, paciente. Limpar os escombros para de novo edificar! Aprender e crescer com os fatos – sejam eles quais forem! Esta é a suprema alquimia de transformar o bruto carvão em diamante! Carvão e diamante que co-existem dentro de nós...
Dói lapidar a si mesmo? Dói! Não estamos habituados com tamanha humildade - admitir e abrir mão das próprias deficiências! Mas, podemos nos tornar melhores - a cada experiência, a cada grande sofrimento, a cada pequena ou grande alegria! Ou, ao contrário. Apenas deixar que os fatos passem, ou nos afogarmos em mágoas, queixas e auto-piedade, sem bem sairmos do lugar.
Quando aprendemos a transcender - às nossas pequenezas ou às do outro, começamos a valorizar e amar o que realmente é importante! Este é o quilate verdadeiro que podemos conferir à nossa própria alma! As marcas podem desaparecer ou ficar impressas eternamente. Mas, quando transmutadas, embelezam a alma – nos tornam mais humanos, muito mais que simplesmente... belos mortais.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

"Deadline"


"Fim da linha" é uma expressão bem familiar aos meus ouvidos e ao meu olhar, já que minha casa da infância ficava em frente a uma estação da Central do Brasil, lá pelas bandas do interior de Minas. Recordo-me que os trilhos terminavam bem diante de um paredão e ali havia o lugar das manobras, para a locomotiva retornar. Hoje a vejo acrescida do significado de prazo final ou “deadline”, como é chamada “na linguagem dos projetos, negócios e marketing, para especificar que o prazo para entrega de determinada tarefa está chegando ao fim”.
Esta é uma expressão que me faz refletir em vários outros aspectos. Por exemplo, mesmo quando a esperança e o otimismo permeiam as atitudes e acontecimentos do dia a dia, sabemos, ou deveríamos saber, que existe um prazo limite, um final de linha para tudo que desejamos ou planejamos fazer acontecer em nossa vida. A natureza mostra esta realidade a todo instante – no prazo de amadurecimento de uma fruta, no limite de tempo para os ovos chocarem e se tornarem pintinhos etc., mesmo que a tecnologia tente fazer as vezes da natureza. Depois que ele se esgota, não adianta esperar mais, pois já não existe a possibilidade de se concretizar o feito – por algum motivo o processo foi malogrado!
São muitas as vezes em que nos deparamos com esse momento em nossas vidas e, mesmo assim, quase sempre vivemos como se ele nunca fosse acontecer – seja por excesso de otimismo ou excesso de ilusão. Mesmo considerando que devemos ser pacientes, não deveria, contudo, nos faltar o discernimento para sabermos que nada nem ninguém espera para sempre. Quando menos estamos preparados, percebemos que perdemos o prazo para cuidar da saúde, segurar o amor, fazer o contrato, a prova, o voo etc.; perdemos o prazo para viver... O fato se consuma diante de nós como se fosse um aviso publicitário, escrito com tubos de néon: “Deadline” – seja acionado por nós mesmos, pelo outro ou pelas circunstâncias da vida. Chegamos ao prazo limite, mesmo que nem sempre ele seja verbalizado ou previamente avisado. Em muitos casos vem a revolta, angústia, tristeza, um arrependimento tardio. Acreditávamos que tínhamos um tempo sem limites para decidirmos e fazermos acontecer. Mas, não temos!
Por isso, fique atento e assuma de forma consciente o controle dos fios que conduzem sua vida e seu destino. Não deixe chegar ao fim da linha sem antes ter feito acontecer seus sonhos!

Mágico espetáculo













tira castelos da cartola
faz mágica com lembranças
desperta o assombro da platéia
transforma em verdades
as ilusões mais secretas.

cada um no seu momento
novos personagens se apresentam
um faz rir como palhaço
outro faz malabarismos
atores diferentes reinventam, dia a dia
fatos de uma mesma história.

caminha sobre o fio da navalha
os pés se movem numa dança imaginária
abre os braços, os olhos cerra.
em passo igual prossegue,
já não como espetáculo:
só outra coisa natural da vida...

Um segundo olhar sobre os fatos

O que hoje nos parece injusto, passado o tempo e um segundo olhar sobre os fatos, constatamos que aconteceu exatamente o que era do tamanho da nossa necessidade. Nenhuma peça no tabuleiro de nossa vida foi, está ou será colocada em discordância com as leis que regem todo o criado. Tudo cumpre um propósito de aprendizado e crescimento, não falando aqui com qualquer pensamento ou atitude de religiosidade. O tempo é o grande senhor que cura todos os males, que esclarece enigmas, que coloca os fatos sob um foco real.

Acontece, com freqüência, que no fogo dos acontecimentos, não conseguimos vislumbrar o mais além e muitas vezes levamos anos para confirmar esse outro lado da história. Ou nunca descobrimos e nos tornamos seres amargos e ressentidos com Deus, com as pessoas, com a vida – e acabamos por perder a grande oportunidade de sermos felizes, não importa para que lado os fatos cotidianos nos levem.

Essência materna

A coisa não aconteceu de uma hora para outra - ela não dormiu de um jeito e acordou de outro. A mudança foi lenta, quase imperceptível. Quando começou a dar pelo fato, já não havia volta. Acredite se quiser: sentia-se mãe e filha de seus próprios filhos! Diante dos fatos, até já havia parado para observar suas atitudes. Será que tinha algo de errado com elas? Chegou também a se perguntar se estava ficando velha:
- Claro, né... Você não, só eu?
O que começou a perceber no dia a dia é que os dois papéis passaram a se misturar e se inverter repetidamente, como se uma essência materna estivesse impregnada em cada filho, a tal ponto de muitas vezes se perguntar confusa: quem é a mãe aqui???
Até chegou à conclusão que eles se realizavam e ficavam à espreita de qualquer pequeno deslize ou desatenção de sua parte para assumir o posto! Um descuido seu e lá vinha a bronca ou o cuidado maternal! Claro que, quanto mais velhos ficavam, melhor enxergavam suas bobeiras e, para cada uma delas, sobravam risadas!
Era uma festa para eles cada vez que tropeçava, que não entendia a piada, que perguntava o óbvio, que errava o caminho ou que esquecia a palavra!
Em contrapartida, se desmanchavam e viravam “bicho” quando qualquer imprevisto ou algum desavisado ousava perturbar sua tranqüilidade! Imediatamente enchiam-se de brios (tal como ela faria) e, se preciso fosse, choravam e lutavam a seu favor!
Em muitos momentos ela conseguia fazer farra com os fatos. Porém, haviam aqueles em que isso doía, porque soavam como um atestado de incapacidade para ela.
Fica a reflexão sobre o equilíbrio que deve haver e o respeito que sempre deve ser mantido entre ambas as partes.
Mas, uma verdade é inegável...
- Filhos, filhos... como não amá-los!!!
Como eles mesmos já haviam lhe ensinado a dizer:
– Isso é muito massa!!!

Nem tudo sei...



















bem sei dos meus medos
que a vida já corre a meio
e não é simples retomar caminhos
que outrora percorri

bem sei que as minhas
nem sempre são tuas verdades
que o entregar-se
implica um alto preço
que o outro lado
nem sempre quer reinvestir

sei das tristezas e alegrias
que já sentimos
de tantos planos feitos
que não vingam
de tantos outros que faíscam
na memória
como luminoso aviso

sei de entregas,
de sentimentos achados e perdidos
de velhas lembranças
que assombram nossas vidas
de momentos juntos
que não fazem mais sentido

sei tantas coisas
de mim, de ti...
só ainda não aprendi
como apagar vestígios
o que fazer de velhas marcas
que teimam em não querer sair

Desnecessária confissão

Foi totalmente inesperado! Na primeira lida, não entendeu nada! Na segunda entendeu, mas não conseguia acreditar. Depois da terceira, ficou pasma! A revelação vinha tão fora de tempo e era tão inesperada, que sua mente ficou entorpecida! Aquela era simplesmente uma confissão descarada de que ele a traíra durante todo o tempo em que estiveram juntos! Custou, mas finalmente a ficha caiu!

As recordações aproveitaram a deixa e começaram a vir em flashes, reavivando percepções sutis, olhares, sensações... Rapidamente ela concluiu que, afinal, sua intuição nunca falhara!

O texto se desenvolvia como o monólogo – misto de confissão ingênua e forra – com uma indisfarçável mensagem de fundo: você ao final não me quis, mas, enquanto me quis, te traí...
Isto parecia coisa de um louco ou simplesmente de um tolo! Ao final, ainda se gabava de ter aprendido a lição e transformado-se em um outro homem!

Se ela não se sentisse tão desconcertada, poderia até morrer de rir! Mas, teve fôlego para concluir, levemente mordaz que, provavelmente, ele devia estar fazendo análise. Com certeza estava aprendendo a exorcizar seus bichos interiores e, pela lei da lógica, sobrou para ela!

Mas, cá entre nós - fala sério! Depois de passados quatro anos, vir com uma bomba dessas e jogar na cara dela! Que loucura! Qual seria seu objetivo? Mesmo considerando que aquele desabafo fizesse um grande bem para ele, que sentido tinha dizer para ela tudo isto agora? Isto indicava que não dava a mínima para o estrago que aquela confissão explícita poderia fazer nas convicções e nas boas lembranças que poderia guardar do tempo em que ficaram juntos!

Mas, a coisa não parava por ai! Para completar o quadro, ao final ele deixava um redondo e retórico pedido de perdão! E, ainda mais inacreditável, concluía que pedir desculpas, pedir perdão, era muito pouco diante da tristeza e estrago que ele, mesmo sem querer, naquele tempo provocara nela.

Perplexa, ela ponderava com seus botões:
-‘Não acredito no que estou lendo! Eu bem que podia passar sem esta!’

É claro que, em qualquer tempo, nunca é algo simples receber uma confissão dessa natureza! Ter esse instantâneo dos fatos que aconteceram à nossa revelia, sempre promove uma estranha sensação de consternação diante de nós mesmos... Mas, melhor não cairmos na armadilha de um sofrimento retardado! Podemos aproveitar para mandar tudo se danar! Neste caso, ele, suas mulheres, sua falsa ingenuidade! Com 100% de chance, vamos sobreviver!!!

Nossa arte final

ao final da página descobre:
só consegue passar
um esboço
sempre inacabado
de si mesmo.

depois de um tempo percebe...
não estar completo
é que faz real o seu retrato

cada palavra revela um detalhe
define nuances
de sua interna arte final

Quer casar?



O melhor da união
não vem com o timbrado
registro em cartório
testemunhas de garantia.

Amor
desejo
vontade
não vem junto com o papel!

Para “JUNTOS” se ficar,
será preciso
sonho
coração 
pele 

cheiro
gosto
desejo 

afinidade
riso
molecagem
devaneio

cumplicidade
inteligência,
muita generosidade

responsabilidade
com os atos próprios
também profundidade...
isto, apenas para citar alguns!

Cada um faz o seu percurso como melhor lhe parecer...
"E permanecem juntos, enquanto a convivência permitir"...

Amor fora do tempo



lá fora
a noite é escura e vazia
aqui dentro
sua presença
não passa de um vislumbre
que a saudade
apenas deixa-me entrever

por ser tão pouco
abro uma fenda
no painel do tempo
do outro lado,
percorro conhecidos caminhos
resgato cada abraço
cada recanto de seu corpo
até o gosto de seu beijo...
o prazer de suas mãos
a procurar por mim

sem mais distâncias
tudo volta a ser igual
meu riso soa cristalino
sua voz, com ardor
chama meu nome bem baixinho
desejos e sensações se reavivam
acionados pelo meu querer

já não estou aqui
estou por ai
em algum lugar com você
porque qualquer lugar
ao seu lado é mais feliz
bem melhor que sua ausência
é sentir sua presença
em cada pedacinho de meu ser.

mas, se em algum momento
a fenda do tempo se fechar
vou usar de magia
fazer meu corpo adormecer
quem sabe no intervalo
entre a realidade e o sonho
possa em seus braços
novamente despertar.

Expedição de reconhecimento




não houve como evitar...
já adentrei-me na tua alma!
à medida que percorro teus espaços,
maravilhada identifico traços
em tua profundidade
tenho a visão verdadeira de ti

o espaço é acolhedor
limpo de hipocrisias.
o trato é conduzido pela ética
para evitar mágoas escondidas,
em cada um de teus vãos
deixas indicações precisas,
para aqui se saber transitar
sem mutuamente se ferir

por linhas cruzadas ou paralelas
(d)escreves em sutis palavras
a fisionomia que não se vê
pelo simples “olhar”,
mas que revela-se
...inesquecível...
entre o aqui e o agora
de um voo
na ternura com que declaras
o teu encantamento
por uma certa rosa.

Eu amo, tu (não) amas

de uns tempos para cá,
a conjugação do verbo amar
está desencontrada
enquanto um afirma
o outro já não sente
... e o amor
que foi jurado eterno
simplesmente se acabou.

a dor fica de um lado
calada e sofrida
mas, do outro lado
a liberdade é divertida
tem adjetivos novos para o amor

eterno?
já não combina com amor
será transitório?
transita-se de um para outro
sem pensar ou querer parar
e, mesmo se quiser
isto também é temporário

pode ser provisório...
cada um fica com o seu
enquanto um melhor não vem
mas, se pintar os dois
fica-se com os dois também
até que uma melhor escolha
de novo possa acontecer

só sei dizer
que um fica no ponto a chorar
enquanto o outro já partiu.
e a conclusão dessa lida
já está escrita nesta velha cantiga

“O anel que tu me destes
era vidro e se quebrou
O amor que tu me tinhas
era pouco e se acabou”