Eu
vejo lindas fotografias, de milhares de lugares maravilhosos que existem pelo
planeta, que eu gostaria de visitar enquanto ainda estou por aqui. Por vezes eu
me pergunto, inconformada, por que Deus me colocou em um mundo tão belo, se não
posso vê-lo e conhece-lo por inteiro? Presa entre os ponteiros do tempo e as
paredes dessa matéria densa, não posso alçar voo e conhecer tudo o que está
além deste planalto, dessas montanhas próximas e distantes, de outros lagos e outros mares...
Quantas paisagens deslumbrantes existem, quantas cidades diferentes e edifícios
translúcidos como cristal. Quantas civilizações exóticas, de costumes estranhos
ou apenas diferentes dos meus. Melhor seria se o mundo não tivesse limites de
terras que separam povos, línguas diferentes que dificultam seres humanos de se
entenderem e que distanciam mentes e corações. Ah,
como eu gostaria de poder fazer uso de outras velocidades, de outras medidas de
tempo. Desbravar novas dimensões, ver todas as coisas belas que existem até
meus olhos se fartarem e transbordarem de alegria! Deixar minha mente se saciar
de saberes que não teria, ao ficar em um só lugar! Deixar meu coração abraçar
todos os povos - desta e de outras dimensões. Um dia, inadvertidamente, lancei
raízes nesta terra e fiquei presa a ela, quando tantas outras terras eu teria
para conhecer, amar e chamar de minhas...
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terça-feira, 11 de dezembro de 2012
Muxarabiê
Da calçada, os casarões enfileirados parecem soldados
a postos! Como guardiães de tradições centenárias, eles ocultam, na penumbra criada
pelo muxarabiê da janela, os olhares de quem do outro lado tudo vê, mas não precisa
se mostrar. Pelas ruas estreitas e solitárias, muitos já passaram, tentando
adivinhar o que se escondia do lado de lá da janela. Talvez segredos bem
guardados, alguns preconceitos, o falso poder de contar o que ninguém viu e
acrescentar o que não viu. Talvez ocultem sonhos por se realizar, o suspiro de um
amor platônico que não vingou, a tristeza sem fim de quem pensa que tentou, mas
nunca conseguiu ser feliz.
Com o passar dos anos, a revolução
industrial e tecnológica vieram acrescentar às anteriores, novas formas de se
ocultar aos olhos dos demais, mantendo a mesma posição privilegiada de ver, sem
se mostrar. Hoje temos as películas escuras
dos carros, óculos que ocultam os olhos, internautas que vasculham secretamente
a vida alheia. Apenas uma se mantém, desde que o homem começou a fazer uso da
linguagem - as palavras que não revelam as reais intenções de quem as profere.
Fragilidades Humanas
Temos, quase todos, a mania incorrigível de
buscar uma explicação para tudo que nos acontece, tanto de bom, quanto de ruim.
Pior do que esta é a de tirar conclusões com as pouquíssimas informações que
conseguimos extrair de nossas observações dos fatos. Por isso mesmo, algumas saem sem pé, outras
sem cabeça, ou ainda, sem pernas, sem braços...
Segundo a "Teoria da informação, (simplificação para dígito binário, "BInary digiT" em
inglês) Bit é a
menor unidade de informação que pode ser armazenada ou transmitida". Pesquisas revelam que
a todo o momento existem mais de 11 milhões de “bits” de informações à nossa
volta, enquanto só percebemos 15 “bits”. Paradoxalmente, são justamente em cima
desses parcos “bits” que tentamos explicar os fatos, tirar conclusões e julgar
pessoas. Passamos bem longe da verdade e, mesmo assim, nos sentimos donos dela
muitas vezes! Acreditando nesta inverdade, alguns se arvoram em consertar o
mundo, mudar o rumo dos acontecimentos, quem sabe tentando usurpar o lugar
ocupado por Deus. Em decorrência disso, mal entendidos acontecem a todo o momento,
dentro de nós e a nossa volta, sem que nos detenhamos neles, para buscar seus reais
motivos. Acreditamos que temos o controle de todas as situações! Complementamos
o vazio do saber real com a imaginação, a suposição, as explicações que só nós
vemos as causas ou com as recordações de situações similares. Por isso, de cada
vez que quisermos chegar a uma conclusão ou fazer um julgamento, vamos parar e
pensar 10 vezes antes. Reavaliar e perguntar-nos se estamos capacitados para
fazê-lo com isenção, sem fazermos uso apenas de nossas pequenas fragilidades
humanas.
Castelos de Areia
Deparei-me, um dia desses, com a foto do Castelo de Neuschwanstein, na Baviera, Alemanha. Sua concepção foi esboçada por Ludwig II, grande admirador das artes. Este castelo serviu de inspiração para Walt Disney, quando concebeu o castelo para o filme de Cinderela e também para o que foi construído no seu parque temático. Ele é realmente lindo e faz pensar, por um breve segundo que, afinal, os contos de fadas têm um pezinho na realidade... Mas, sabemos que realmente não é assim. No mundo do lado de cá as situações não apresentam tanto colorido e perfeição. Contudo, as estórias foram tão bem inculcadas na nossa infância, que de vez em quando temos a ilusão de estar prestes a viver uma passagem digna de ser inserida e relatada junto com as outras, do lado de lá.
Ou
pode ser que, de forma não consciente ou proposital, desejamos ser heróis e
heroínas de alguma façanha fantástica! Uma prova disso é que todas as situações
que ultrapassam o limite da normalidade chamam a nossa atenção. Por isso os
personagens épicos, valentes e valorosos fazem tanto sucesso entre nós, meros
seres comuns. Mesmo temporariamente, seus relatos nos permitem escapar da
normalidade de nossa vida, para vivermos uma aventura incomum.
Nesta
categoria podemos inserir também aqueles que assumem o perfil desses
personagens, o que os torna igualmente atraentes. Especialmente, porque fazem o
impossível para ter os holofotes de nossa atenção sobre si. Atraem-nos e nos
encantam com suas palavras, enquanto descrevem suas façanhas e infortúnios. Nós
nos deixamos levar por suas estórias, quase sem perceber.
Poderíamos
dizer que, na sequência, temos representado no primeiro exemplo um castelo
real, de concreto. No segundo, castelos do mundo da fantasia e, por último,
meros castelos de areia...
Conto do Vigário
A história relatada teve direito a
peripécias, perigos e situações inusitadas para os dias atuais. No início, fiquei
penalizada! Acolhi a angústia, compartilhei projetos e ações para minimizar as
perdas. Mas, chegado um ponto crucial, minha mente disparou uma campainha de
alerta! Afinal, era muito azar para acontecer de uma vez só na vida de uma
pessoa!
Daí para frente, literalmente
travei, perdi a naturalidade e esqueci a bondade! Até cheguei a considerar a
possibilidade de que antigas memórias estivessem a me pregar uma nova peça.
Poderia estar vendo uma tramoia, onde as circunstâncias é que faziam os fatos
parecerem absurdos. Mas, como saber se era uma e não outra a versão? Depois do
resultado consumado, tudo se torna lógico. Antes disso, temos apenas a dúvida.
O melhor a fazer diante dela, se não puder averiguar os fatos por fontes
seguras, é colocar os dois pés no chão. Consequências indesejáveis podem fazer
cair das nuvens, só de um empurrão.
No resumo da história, concluo
que, se o que parecia mentira fosse mesmo verdade, eu perdi o bonde dos fatos. Se,
pelo contrário, tudo foi mesmo uma mentira, minha mente não caiu no conto do
vigário – só não salvou meu coração!
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
A Nossa Brasília, de Niemeyer.
Teus traços nos rodeiam e tuas curvas
encantam todos os olhares que chegam ao planalto! Nesta cidade patrimônio, o
humano e o divino se unem no infinito deste céu azul anil, para concretizar tuas
ideias arrojadas - sonhadas primeiro e depois materializadas de forma lúdica na
vigília, desafiando a lógica dos números.
Com vidro e concreto, recriaste a poesia das
formas, a suavidade das curvas, as retas deste horizonte aberto, abraçadas por
todos os lados pela natureza rústica do cerrado, numa reverência mútua de
admiração.
Alcançaste a imortalidade ainda em vida...
Eternizaste tua genialidade para além da vida, dando vida e expressão própria
às tuas criações!
terça-feira, 27 de novembro de 2012
Sua Vida, Dentro da Minha Vida...
Mais um ano se passou e parece que foi ontem
que escrevi uma mensagem pelo seu aniversário. Tantos anos sem você ao meu lado
e, apesar das lutas e novas perdas, sobrevivi a mais um período! De novo sento-me
para escrever sobre você, que é uma das formas de ter presente o que representou
a sua vida, dentro da minha vida. Escrevo, acima de tudo, por gratidão pelo pai
e amigo que você foi para mim. Saudades? Sempre e muitas! Mas, o que sou hoje é
uma parte do que foi você, e que me ensinou a ser também.
Desta vez, ao recordar os tempos finais que
passei ao seu lado, destaquei um fato que me tocou de forma especial. Conversávamos
sobre vários assuntos, enquanto lhe fazia companhia, durante uma das minhas
idas a Belo Horizonte para vê-lo. A doença avançava implacável e, mesmo assim,
talvez para manter a nossa esperança na sua recuperação, você fazia planos,
muitos planos! Quando se restabelecesse, queria rever os amigos e nossa terra
natal, comprar a antiga casa em que moramos, para que se tornasse um ponto de
encontro de todos os filhos. Eram bons planos...
Em certo momento, fiz uma observação sobre a
quantidade de amigos que vinham visitá-lo. A lista crescia no caderno dia a dia,
onde cada um deixava seu nome e uma pequena mensagem registrada. Esta
referência fez seu rosto se iluminar! Isto realmente lhe encantava e lhe dava
uma medida do que sua existência representou na vida de cada um deles! Eram
amigos antigos, que vinham de longe para revê-lo. Amigos de perto, que
conquistavam um tempo na agenda apertada, apenas para ficarem uns minutos a
mais com você. Amigos de outros tempos, que recordavam passagens pitorescas e
marcantes de sua vida. Amigos dos tempos atuais, que haviam aprendido a
respeitá-lo e admirá-lo pelos seus valores morais. Estas histórias repassadas e fatos recontados avivavam
a memória adormecida, o que lhe permitia ter uma nova consciência sobre a
trajetória de sua vida. Sei que você fez por merecer o conceito que recebeu de cada um
deles; cada palavra dita a seu favor.
Guardo para mim esta lição, sobre a
importância dos amigos em minha vida. Só eles podem me oferecer a visão mais
verdadeira e mais amorosa, de quem fui ontem e quem sou hoje. É a presença
deles em minha vida que me permite fazer uma união dos tempos, fundamental para ajudar-me
a lembrar de onde vim, onde estou e onde quero chegar, em relação a mim mesma e
a cada um deles. Meus amigos são parte da memória viva de minha vida!
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
Balões ao Ar...
Pego balões multicoloridos e coloco diante de teus olhos morenos, para alegrá-los! Atados à linha da vida, eles sobem pelos ares, onde os ventos habitam e sopram para lugares distantes. Procuro em teus olhos o que ainda não sei, vejo o que não quis, enquanto eles me levam para bem longe de mim.
Gotas de chuva ou de lágrimas molham teu rosto pálido. Minhas mãos tentam contê-las, na tentativa de secar tuas dores e resgatar teus amores de além-mar. Sonhas com o que não sabes e o que sabes, não queres mais. O saber de tudo feriu tua alma desavisada e tirou o sorriso de tua face. Descubro que nada que eu diga agora fará uma barreira para conter tua dor de viver. Diante de teu silencio indiferente, eu me calo e recolho os balões multicoloridos, com os quais te presentei...
Exercício Mental
Diante de mim o horizonte é mudo - não traz notícias nem paz ao meu coração. Nada me revela, além das linhas retas e restritas de uma caixa de mensagens. Enquanto espero, crio um pensamento e brinco com ele, para distrair a tristeza que aperta o coração de repente. Coloco-o de todas as formas, de todos os tamanhos, pinto de todas as cores. Faço a ele perguntas e eu mesma dou as respostas, já que não encontro quem as possa responder. Isto me distrai por um certo tempo, até que a saudade volta outra vez e acaba com a minha brincadeira. Fico pensando porque os sonhos teimam em ser tão voláteis, porque as alegrias são tão passageiras. Mas, apesar do presente, eu as desfrutei quando vieram. Abri meus braços, as acolhi carinhosamente. Tudo estava tão bom que acreditei que viveria um estado de permanente felicidade. Momentaneamente esqueci que ela não é completa e nem inteira. Ganho pequenas porções de bem, permeadas com as lágrimas, as dores e as saudades de cada dia...
Incertezas...
De ti, guardo lembranças várias! Caprichosamente, crio com cada uma delas pequenas histórias, que falam de um outro tempo, quando a saudade era apenas um pequeno espaço entre dois encontros. Hoje, as certezas construídas já não possuem alicerces profundos. Já não sei se fui feliz durante, ou depois de ti. O tempo passou e deixou suas marcas tatuadas em meu corpo - acentuadas pelo fogo da saudade, suavizadas por algumas palavras de amor.
Nada permanece igual ao que foi. O antigo amor não suportou as mudanças, nem a distância, que separou o que era antes, do que veio depois. Agora, entre nós, faltam palavras, sobram grandes espaços de silencio, que nada pode preencher. Nem mesmo as palavras, desenhadas com tinta ou inseridas na tela do computador. Se voltas, já não somos os mesmos de antes. Se ficas onde estás, meu coração sufoca aos poucos de saudade... e de tanto amor.
Fechado para balanço
Para iniciar esta nova manhã, de um novo mês, decidi fazer algo diferente, antecipando o balanço de praxe, de final de ano. Para ter uma visão mais real dos fatos, começo por registrar, na tela em branco, as escolhas que fiz e as prioridades que estabeleci em minha vida. O que desejo que a vida me dê e o que estou construindo em mim para merecê-lo ou dar em troca... A imagem sobre o que desejo do futuro começa a se esboçar. Vejo os caminhos que percorro no momento e os caminhos que devo trilhar, para ter condições de criá-lo, próximo à imagem e semelhançao de meus sonhos! Identifico, entre outras coisas, que muitas vezes me acomodo nos afazeres diários e não me dou conta do que posso ter e fazer, além do que tenho e faço no momento. Repasso os anseios do meu coração e constato que tenho feito bem pouco para torná-los realidade. Trabalho, leio, escrevo, converso, planejo realizar muitas coisas, mas quase não saio do lugar! Com o foco do olhar voltado para os afazeres diários, acabo por descuidar o olhar para mim mesma! Constato, com um certo assombro, que tenho medo dos meus sonhos, por que nem todos os que eu tive se tornaram realidade. Que tenho receio de expressar o que eu quero, e o que eu quero não se realizar. Que escolho viver uma vida solitária, mesmo sem desejar a solidão, por puro medo de arriscar ser feliz! Estabeleci prioridades físicas, profissionais e espirituais, mas resguardei meus sentimentos, com receio de vê-los rejeitados. Mesmo quando digo que desejo amar e ser amada, constato que tenho medo do amor – realço as dores, decepções e saudades que ele provoca e esqueço as alegrias e o brilho do olhar que ele traz consigo. Diante dessa indesejada realidade, compreendo que o trabalho por fazer é grande, mas que ainda há tempo de escolher outros caminhos para trilhar, inverter antigas prioridades e ganhar espaço para outras, que me façam mais feliz! Preciso arriscar um pouco mais e abrir as portas da minha vida e do meu coração para o NOVO – só assim ele poderá se revelar!
Espelho fixo
No movimento quase imperceptível do tempo, a vida acontece e torna-se cada vez mais urgente finalizar o que comecei. Os acontecimentos passados ficam realçados na tela da mente, que aviva palavras, fatos, inevitáveis saudades, encontros e desencontros da vida. O futuro ainda é apenas um esboço, onde alguns sonhos pintam cores e possibilidade surreais. O que fica de palpável é o presente, o hoje, o agora, ainda que este escorra por entre os dedos continuamente. Neste espaço restrito, avalio o que quis e o que ainda quero de mim e para mim. Isto, muito mais que um mero jogo de palavras, indica a necessidade de perpetuar-me de alguma maneira, de deixar a marca da minha existência na lápide do tempo. Tudo que sou, tudo que penso e sinto, tudo que criei, fazem parte de mim. Neste espelho fixo, vejo refletida a minha essência.
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
Sob o Sol
O dia já amanheceu quente e não mostra
qualquer chance de chuva por agora... Céu claro, aberto, de um azul embaçado...
Mesmo dentro de casa o corpo reclama do clima ruim e desacelera. Precisa se adaptar,
para não gastar energias desnecessariamente.
O canto da cigarra corta o ar, estridente.
Alguns dizem que ele anuncia a chuva, mas na verdade o macho quer é atrair a
fêmea para o ritual do acasalamento. Logo depois ele morre, mas a perpetuação
da espécie já foi garantida. Mistérios da natureza...
No clima quente e seco do planalto central a
primavera já se instalou e as flores dão um colorido à paisagem nevoenta. O
grito dos quero-queros se repete várias vezes, informando
aos desprevenidos que estão alertas para defender seu território. Mas, uma foto
inusitada aparece na mídia. Sob a sombra de um poste, mostra uma fileira de
quero-queros que tentam se abrigar do sol escaldante... Nem eles aguentam mais esse
calorão!
Cruzar Fronteiras
Vivemos dentro de nossos limites, seguros que
a nossa simples presença defenderá nosso território. Acostumados a transitar
dentro desse espaço restrito, acreditamos que, ali, nossa vida e nossos sonhos
estarão protegidos. Acomodados dentro desse oásis pessoal, acreditamos que nos
manteremos sempre bem, sem que seja necessário arriscar ir além do horizonte
visível aos nossos olhos. Mas, nada é permanente na vida e muitas vezes a necessidade nos
obriga a crescer, cruzar fronteiras, desbravar terras internas e externas,
transmutando sentimentos, razões e o nosso próprio conceito de pátria...
Depois da Chuva...
A chuva caiu do céu torrencialmente, sobre as ruas de Diamantina! A água que se acumulou nas calhas das casas desceu em forma de grossas colunas pelos cantos dos telhados do casarões e escorreu pelas pedras da calçada, como pequenos e velozes rios, que ninguém sabe onde irão chegar. A cortina compacta de água dificultava enxergar o que estava um pouco além e a violência da chuva era quase assustadora, quando vislumbrada contra a luz difusa do poste. A situação deixou a todos os presentes no Mercado em posição de alerta, caso fosse necessário fazer frente a alguma emergência. Alguns resolveram esperar até que a violência do pé d’água repentino diminuísse. Em outros, esta visão provocou a pressa de voltar para casa, como se a familiaridade do ambiente pudesse protege-los de todo mal. Em todos os casos, o bom senso aconselhava a não medir forças com a natureza e aguardar até que a situação se normalizasse.
Independente de nós, seres humanos, na manhã seguinte a paz voltou a reinar no céu!. A noite de tormenta cedeu lugar ao dia e o sol voltou a brilhar timidamente, iluminando a cidade recostada na serra. O ar ficou mais límpido, como se a tempestade tivesse lavado as lentes dos olhos e levado para longe o desassossego que antes afligiu a alma. Os pássaros voltaram a cantar e a brisa, refrescada pela chuva, balançava suavemente a copa das árvores.
Assim como ocorre na natureza, muitas tempestades já aconteceram em minha vida. Algumas devastaram meus sentimentos, outras desestabilizaram minhas convicções, houveram aquelas que derrubaram a proteção que havia construído cuidadosamente em torno de meus sonhos ou das pessoas que queria manter junto a mim. Em todas as situações, foi preciso manter a calma e não permitir que o temor oprimisse ainda mais o corpo, a mente e o coração. Foi necessário mantê-los protegidos de tudo que pudesse atingir sua integridade. Afinal, eu sabia que, depois de cada chuva, o sol sempre voltava a brilhar...
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
Simplesmente Crianças
Crianças são sempre lindas, qualquer que seja a raça, o formato dos olhos ou a cor da pele... Elas fazem meu coração se encher de ternura apenas com um olhar ou uma palavrinha que me torne, momentaneamente, o centro de seu amor!
Meu sono sempre me traz sonhos com crianças – aquela que fui, aquelas que tive entre meus braços, aquelas outras que, por laços sanguíneos ou simplesmente por amor, podem me chamar de vovó.
Crianças dão gargalhadas, falam coisas engraçadas, choram por um brinquedo, sorriem com um pirulito - sonham com fadas, príncipes e monstros, mas acordam no meio da noite com medo do escuro, onde não podem enxergar o que é real.
Eu sempre me rendo aos encantos de uma criança! De formas diferenciadas, todas elas são belas, divertidas, amorosas e fazem meu coração ficar mais leve só de olhá-las. Isto basta para alimentar a minha felicidade!
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Impermanência
Nem tudo que eu penso eu faço e nem tudo que
faço é o que eu gostaria de fazer. Faço escolhas, depois me arrependo ou não consigo
esquecer a outra que perdi. Na vida certos momentos são como curvas fechadas, outras
vezes são calmos como retas; tem aqueles que parecem subidas íngremes, que, se
olho para trás, parecem um despenhadeiro. A corda da vida por vezes fica bamba e,
se caio, eu me agarro em mim e me levanto – depois saio por ai, como se nada
tivesse acontecido. Para não ficar presa na mesmice das horas, decido mudar a
rotina, para por fim à repetição desenfreada de velhas memórias. Renasço de
mim, me reinvento a cada dia. Sou muitas em uma só e ao mesmo tempo sou única,
mesmo sendo tantas. Quero viver a minha trajetória e descobrir o caminho que me
leve a me redescobrir. Ao renascer de cada dia, volto ao início e recomeço a
história. Dessa vez, para variar, eu me desejo um final feliz e mais sabedoria
para encontra-lo!
É Permitido Sonhar
O transcorrer monótono das horas parece não se incomodar com a nossa ausência. Tão distante fisicamente e, ao mesmo tempo, tão perto do meu coração, o que me mantem ligada a você por fios invisíveis. Resistimos ao tempo e mantemos um contato aparentemente indiferente, como se não fizéssemos falta na vida um do outro. As poucas palavras trocadas soam normais e contidas, atendendo a um acordo silencioso de não ultrapassar a linha da normalidade.
Só nos meus sonhos todas as barreiras caem por terra e o amor, antes prisioneiro, ganha asas para voar. Neles voltamos a ser adolescentes e o tempo deixa de nos atormentar com suas proibições. Vale a vontade, o sentimento, o momento, o sonho! No presente, o futuro é apenas uma suposição.
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Fotografia...
Congelo numa imagem,
o pedaço de um instante
Capturo a alegria de um sorriso
A rapidez de um momento de vitória,
Reavivo a saudade de quem fui
e já não sou...
Prendo a beleza de uma flor,
Vejo a paisagem distante –
Que assim fica mais próxima.
Olho o passado que não volta,
Um presente que também já passou.
Quando eu a olho, com meus olhos de agora,
Vejo o que outrora não vi.
Com a pressa de viver,
No desejo de ser só feliz.
Na fotografia gravo o instante,
Que se hoje já não volta,
Deixa voltar a vontade
De voltar a ser feliz...
A Pedra do Tempo
Sento na pedra do tempo e aguardo que o transcorrer das horas me permita saber as coisas que não sei e revele como posso me encontrar. Um sentimento de compaixão universal me acolhe, acalenta meu espírito e ameniza a dor que é parte do existir. Vivo em mim; luto por mim! Vislumbro o horizonte amplo e sereno, onde as tempestades se tornam menos frequentes, o que permite ver o azul do céu e o sol que agora volta a brilhar.
Memórias de antigos sofrimentos tentam se aproximar e as transmuto em luz, para me orientar pelas sendas do presente, mas retiro delas todo o poder de fazer-me sofrer. Nada que acontece é imposto, porque tudo é decorrente de minhas escolhas, mesmo quando as minhas escolhas mudam.
Uma vez tive um sonho, onde era apenas um ponto de luz no universo, que representava minha consciência individual. Buscava por outros pontos de luz, outras consciências individuais, porque sabia que o conhecimento do Todo seria a união de todos os conhecimentos individuais. Em cada um de nós existe uma pequena parte do todo universal, ainda que não seja possível compreender isto imediatamente. Ainda que seja preciso viver muitas vidas para descobrir que ninguém é mais que o outro e que todos somos apenas Um!
O Próprio Caminho
Ela sentou-se na cama, o coração
acelerado, sentindo a ansiedade contida nos instantes finais do sonho! A cena
vinha se repetindo insistentemente nos últimos tempos: queria chegar a um
determinado lugar, mas, depois de inúmeras tentativas e voltas, continuava sem
encontrar o caminho. Se o cenário mudava ou mudavam as pessoas envolvidas de um
sonho para o outro, permanecia a mesma sensação de ansiedade, angústia e
impotência por não conseguir concluir o trajeto. Para acalmar-se um pouco, decidiu
acender a luz e colocar as idéias no papel. Precisava aproveitar a insônia
compulsória para livrar-se do que a estava incomodando.
Várias perguntas surgiram em sua
mente: estaria se sentindo perdida diante dos acontecimentos de sua vida? Ou a
questão era saber que caminho a levaria onde desejava chegar? Ou, mais
especificamente, a necessidade era encontrar o seu caminho para atingir suas metas?
Diante do impacto dessa última pergunta, constatou que muitos de seus próprios sonhos não tinham sido ainda alcançados. Em contrapartida, havia assumido sonhos que não eram seus, trilhado caminhos que não foram escolhidos por ela e nem atendiam aos anseios de seu coração. Havia ajudado a materializar os ideais de outras pessoas, deixando que os seus ficassem em segundo ou terceiro plano.
Ainda que esta não fosse a análise correta, encaixava-se perfeitamente no momento. Trazia à luz uma parte de sua vida, à qual nunca havia dado atenção. Este seria o motivo para o sonho se repetir tantas vezes - para ela se dar conta dessa lacuna? Para confiar e ter a necessária coragem de arriscar-se para alcançar suas metas? Sua sensibilidade mostrava que era chegado o momento de escolher o seu próprio caminho e atender aos anseios de sua individualidade.
Esclarecidos os motivos de sua ansiedade, voltou para a cama e adormeceu serenamente...
domingo, 23 de setembro de 2012
Sem Ensaio
Entre a grandeza e a fragilidade, a vida acontece. Um segundo a mais ou a menos pode determinar sua continuidade ou sua interrupção, sem passar por qualquer tipo de ensaio! Tudo o que vivo e faço faz parte da peça oficial e fica registrado para sempre. Posso reparar meus erros, mas não posso apaga-los simplesmente. Por isso é tão necessário cuidar que pensamentos, palavras e ações estejam harmônicos entre si e voltados para o bem. Manter minha atenção no presente, para evitar o arrependimento pelo passado, ou a ansiedade quanto ao futuro que ainda não chegou. Um já passou e o outro é resultado do que foi feito antes, então pode ser concebido. Porém, nem sempre eu me lembro deste poder que tenho em minhas mãos e não me empenho em usá-lo a meu favor. Em muitos momentos esqueço que posso preparar minhas próprias porções de felicidade diária!
[Re]Começo
Seu coração bate no meu peito, compassadamente! Agora posso acordar a cada manhã e fazer planos para construir minha felicidade. O ritmo é repousante e faz-me pensar em savanas douradas que ondulam ao vento ou cerrados que brilham verdejantes, onde meus pés caminham em câmera lenta. Dou um passo de cada vez. Agarro com as mãos do entendimento esta nova realidade e reavivo meu sonho de viver. Este bem poderia passar quase anônimo, se não fosse a familiaridade quase intimista, que liga meu corpo ao seu coração. Estranha realidade esta, que de um lado é tristeza e do outro é vida. De um lado é ponto final e do outro é o recomeço de uma antiga história. Devo esta alegria a este inesperado destino que nos uniu sem nem mesmo nos conhecermos. Que nos aproximou pela essência, mesmo desconhecendo nossa forma. Hoje sinto em mim a presença de alguém que não conheço, sou parte da falta de alguém que nunca vi, mas que satura minha vida de gratidão. Compreendo, afinal, que nenhum lado é diferente do outro, porque ambos fazem parte de um mesmo processo. Pode ser que um dia, essa parte de você que está em mim, encontre outra parte de você por aí. Talvez elas se atraiam pelas experiências em comum vividas. Ou pode ser que se cruzem, sem que eu perceba este elo invisível, que fez do meu, a continuidade de seu destino.
Homenagem aos anônimos doadores de órgãos...
Avesso
O que doía muito antes, hoje já está suportável. O que fazia sofrer há algum tempo atrás, agora provoca apenas um certo desassossego no coração. O que antes era a noite de seus sentimentos, hoje é o alvorecer de um novo dia, que traz com ele a promessa implícita de novas oportunidades e recomeços.
Para livrar-se dos últimos traços de tristeza, vira seu coração do avesso e limpa todos os vãos escondidos, para deixar espaço livre para o que de bom a vida tem para lhe oferecer. Até o sol, que andava desaparecido do seu céu particular, voltou a iluminar e aquecer seu corpo, provocando um gostoso arrepio de prazer. Viva! Sente-se viva, integrada, completa! Sente-se inteira no tempo presente – pés, corpo, mente! Faz suas escolhas, estabelece suas prioridades. O que é bom, fica! O que já deixou de ser bom, apaga e reescreve. Simples assim! Quem disse que viver é complicado?
Ato Falho
Naquele momento de descontração, o nome veio naturalmente, lá do fundo do inconsciente, e verbalizou-se com naturalidade... Tanta, que lhe passaria despercebido se ela não tivesse se desvencilhado dele, com a interrogação e a surpresa estampadas no olhar, a espera de uma explicação. Levou ainda alguns segundos para dar-se conta que havia feito ou dito algo errado! Revisou em vão suas últimas palavras.
Olhou para ela e perguntou:
- O que foi que aconteceu? Porque está me olhando desse jeito?
O olhar dela ficou sombrio e começou a soltar pequenas chispas de indignação!
Ele começou a ficar preocupado! Meu Deus, o que teria deixado escapar? Forçou um meio sorriso, tentando desviar a atenção dela.
Então ela soltou a bomba!
- Quem é Elisa?
Ele perdeu a cor, mas recompôs-se rapidamente e respondeu de forma indiferente:
- Elisa? Conheço tantas elisas... Tem até uma moça que trabalha lá no escritório com este nome. Como esbarrei com ela hoje, devo ter ficado com seu nome na cabeça.
Intimamente, torceu para que a conversa terminasse por ali. Infelizmente, esta não era a intenção dela.
- Não... acho que eu já ouvi esse nome antes.
Depois de alguns segundos, continuou:
- Estou lembrando que sua mãe ou seu irmão contaram sobre uma antiga namorada, pela qual você foi muito apaixonado. O nome dela era Elisa!
Deixando os bons modos de lado, sua voz começou a se alterar – passou pelo ciúme, depois o despeito e chegou na raiva.
- O que significa isto? Por que falou o nome dela agora? Está lembrando dela porque?
Chateado com tantas perguntas, ele apelou:
- Ah, pelo amor de Deus!!! Não tenho tempo para essas bobagens! O que está passando por sua cabeça? Tudo isto por causa de um nome?! Está sem o que fazer, só pode!
Depois disso saiu da sala pisando firme, mostrando uma segurança muito maior do que sentia no momento.
Quando saiu de linha de visão dela, soltou um suspiro de alívio, pedindo a Deus que ela não fosse atrás dele!
- Essa foi por pouco, pensou!
Chateado consigo mesmo, pensou que precisava ter muito cuidado com as lembranças guardadas. Elas vêm à tona nos momentos mais inapropriados. Uma pequena semelhança nas situações pode favorecer erros impensáveis, que podem encerrar um significado mais profundo se analisados. O ato falho pode ser um sintoma – a constituição de compromisso entre o intuito consciente da pessoa e o reprimido.
Esta noite ele dormiu no sofá da sala...
domingo, 19 de agosto de 2012
Pedacinhos de amor...
Espalho meu
amor nas entrelinhas da vida, escondo um pedacinho sob o travesseiro para
perfumar os sonhos, deixo um pouco de reserva sobre o parapeito da janela de
meus olhos, distribuo porções entre cada um dos seres que me querem bem. Adiciono
à gorjeta no restaurante ou na compra do pão, misturo na receita da comida de
domingo, ou mesmo na de segunda-feira. Coloco uma parte no abraço que dou na
amiga que não vejo há muito tempo, ou para a outra que vi faz apenas um dia,
mas que precisa de uma dose adicional de carinho. Deixo no recadinho de
aniversário, no olhar que troco com um filho, na conversa tarde da noite com
uma pessoa distante e querida, ou com a filha que receia a dor que faz crescer
por dentro. Coloco uma pitadinha junto com o açúcar do café da manhã, no suco
que vou servir para a visita. Também no bom dia para o porteiro ou para a
vizinha que pouco vejo, mas que sempre tem um sorriso para dar em troca e cuja
cachorrinha faz muita festa quando me vê.
Mesmo assim,
já percebi que por mais que eu gaste e espalhe esse amor por aí, mais eu tenho,
mais ele retorna para mim. Porque o amor é a grande mágica que Deus empregou na
concepção humana - resolve desavenças e diferenças, aumenta as afinidades, alimenta
as amizades. O amor usa uma linha direta e exclusiva com todos os outros
corações!
Sair do Casulo...
- Mãe, porque dói tanto sair do casulo?
- Qual casulo?
- O casulo da vida... como as borboletinhas... desabrochar para a vida...
- Sair do casulo é necessário à sobrevivência delas, independente da dor. A qual casulo se refere na vida humana?
- Ao amadurecimento....
- Dói sim... Não queremos perder a proteção e a inconsciência do casulo. O sofrimento favorece e acelera o amadurecimento. Podemos amadurecer naturalmente, mas isto é raro. A alegria não deixa espaço pra isto. A dor provoca a reflexão. Sabe que sem essa passagem as borboletas não sobrevivem? É a dor que as torna fortes para viver e voar.
- Tomara que me deixe forte mesmo, mãe, porque às vezes eu acho que sem você, sem o papai, eu desmoronaria. Porque eu não me sinto madura ainda. Não sei o que a vida me reserva...
- Então, está passando da hora - nosso tempo esta acabando. Esta é minha maior angústia em relação a você. Não sei o que será de você se formos antes que se independa completamente...
- Mas vocês não vão, não é?
- Só Deus sabe esta resposta, filha, nunca sabemos quando iremos partir. Quero deixar você bem. Eu te amo tanto!
- Eu te amo muito também, mãe! Gosto de ter você por perto.
- Eu também.
- Você me conhece. Sabe que, mesmo eu não sendo tão presente, não é por falta de amor nem vontade. É porque eu sou assim mesmo, desligada. Não é por mal!
- Preocupo-me por você não estar ainda independente. Tudo pode mudar de uma hora para outra.
- Eu penso sobre isto também, por isso tenho tanto medo. A vida é muito frágil!
- Sim.
- Tenho medo de ficar sem as pessoas que eu amo, sou apegada demais.
- Eu era assim com meus pais. Especialmente minha mãe. Tive que me adaptar.
- Eu também sou assim, especialmente com você. Você é tão igual a mim! Eu sei que é! Só não entendo como, mesmo sendo tão iguais, eu ainda seja tão imatura. Mesmo você sempre me aconselhando tão bem, me dando todas as coordenadas que eu preciso. Eu só consigo aprender sofrendo, não consigo naturalmente.
- Talvez o sofrimento tenha me ajudado a amadurecer mais rápido. Pode acontecer o mesmo com você. A luta faz parte do processo da vida.
- Mas eu sofro com isto. Sofro por ser assim.
- Então decida mudar - só você pode fazer isto.
- É verdade!
- Comece por pequenas coisas, pequenos problemas, não aceite ser prejudicada. Reaja, exija seus direitos!
- Pois é, eu sou assim, só consigo resolver coisas pequenas. Quando a coisa aperta eu peço ajuda pra alguém.
- Ser ajudada faz parte do aprendizado. Mas de vez em quando você tem que aprender a voar sozinha.
- Mas eu sempre quero além da ajuda, quero que alguém faça por mim. Eu quero mudar pois é ruim essa coisa que eu sinto às vezes de estar num casulo.
- Se já sabe isto, fica mais fácil mudar. Pior seria se você não enxergasse isto!
- Isto é verdade!
- Faça enquanto estamos por perto para ampará-la, se for preciso. É como um ensaio e ensaio não é a peça oficial. Esta vai começar quando não estivermos mais por perto. Mas, ainda há muito tempo, não fique triste. Estou-estamos por aqui ainda...
- E estarão para sempre no meu coração. Eu te amo, mãe. É tão bom poder contar com você!
- Eu te amo filha, muito mesmo!
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Cabo de Guerra
Nem sempre nossas escolhas são simples e rápidas de serem feitas. Nem sempre as alegrias são tantas que podem superar a força das adversidades e das tristezas. Nem sempre nossos pensamentos se eternizam nos melhores ou damos o melhor de nós mesmos em cada situação que nossas escolhas nos colocam. Ora estamos de um lado, ora estamos do outro de um cabo de força imaginário, vivenciando uma disputa constante dentro de nós mesmos. Vence o lado que está melhor preparado ou fundamentado em convicções profundas.
Constatar isto em nós mesmos não significa despreparo de nossa parte, fraqueza de caráter ou que não sabemos ainda o que queremos da vida. Aprendemos a cada dia; crescemos e nos transformamos em alguém que não fomos no dia, ou na situação anterior. Significa que estamos vivos, que temos metas e ideais a serem alcançados. Para que isto ocorra de fato, muitas vezes temos que abrir mão de um lado, mesmo que em algum momento ele tenha sido o mais importante e o de maior peso para nós.
Mas, em algumas situações, ele se materializa na disputa entre entregar os pontos e reagir para nos manter ativos, inteiros, apesar de todos os pequenos fatos que despedaçam nosso coração. Outras vezes, fora e independente de nós, determina o vencedor da luta entre a vida e a morte. Ora a medicina nos salva, ora ela se torna impotente diante da doença. Porém, em todos os casos, é a força e a sabedoria do Criador que determina o tempo de semear, de cultivar, de colher e de partir...
Valores Invertidos
Neste país, onde os bons exemplos não são abundantes, quando um acontece vira notícia, ainda que não tenha o ibope daquele que segue o caminho contrário. Constatamos, não sem tristeza, que o comportamento que deveria ser usual se torna exceção e que nem todos permanecem fiéis aos princípios morais que lhes foram ensinados, quando um caminho mais fácil se abre paralelo ao anterior.
Com tantas mudanças na moral – pública e pessoal, para praticar a exceção das falsas regras vigentes ainda encontramos, por todos os cantos do planeta, seres que aprenderam desde o berço, com a própria experiência ou com a alheia, que tudo que se ganha de forma escusa, se perde em maior proporção em dignidade. Para ganhar a confiança na própria capacidade de atingir metas e vitórias pelo próprio esforço, passam longe da mentira das vantagens, do lucro fácil e rápido, dando às coisas e aos fatos o valor atemporal da honestidade.
Última Gota
Ainda que assim pareça ao primeiro olhar, "não é a última gota que faz transbordar o copo, mas a soma de todas elas". Com a saudade também acontece assim – os fatos vão passando, as lembranças vão se acumulando na mente e se somando no coração, pelos mesmos ou por motivos diferentes, ainda quando a causa original é uma só. Acontece uma espera sem encontros aqui, uma despedida antes de saciar a presença ali, uma presença que não foi à altura do tempo que se esperou acolá. Pode ser a saudade de uma fase, de um momento, de um beijo, de um abraço, de um afago, de uma palavra – de mãe, de pai, de irmão, de amigo, de um amor que foi muito bom enquanto durou... Tudo isto vai se somando e se acumulando como uma represa dentro de nós. E em certo momento tudo isto transborda, extravasa e se espalha em volta do nosso coração – e ele parece afogar de tanta saudade....
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
Fora da Regra Geral
Ser diferente da grande maioria incomoda a alguns, causa temor a outros, indispõe com muitos. Mas também atrai a simpatia de outro grupo, que vê nessa postura um “modus vivendi” especial. Por própria opção, seguem por um caminho meio escondido e nem sempre mais fácil para trilhar, o que não significa menos digno que os demais. Atendem a um chamado interno, investigam em busca de explicações, buscam um sentido maior para o que pensam e fazem - ou para a própria vida.
Não tomam a direção previsível, cômoda ou a mais fácil para a maioria. Atraem um segundo olhar e promovem reflexões naqueles que os observam. Têm princípios próprios, nadam contra a correnteza, pensam e sentem sob um novo foco. Fazem coisas que até Deus duvida - mas, fazem! Dizem!
Alguns se colocam à frente de seu tempo e suas ações muitas vezes se revelam como uma prévia do futuro. Não seguem a fila, fogem dos padrões. Comprovam, a cada dia, a extraordinária arte de viver o incomum.
Delicadezas do ser...
Semeie alegrias e esperanças por onde passe, com o propósito de fazer alguém mais feliz. Com esta finalidade, todos os esforços são válidos e as boas iniciativas bem-vindas. São os resultados alcançados que irão realimentar as energias empregadas. Ser feliz consigo mesmo é o pré-requisito básico, a fim de se obter qualquer resultado neste sentido. Não são necessárias ações mirabolantes – bastam algumas pequenas atenções, um pouco de carinho, saber enxergar a verdade, saber ouvir, valorizar cada ação, por mais simples que seja, pois é a base para a confiança se apoiar. Não postergar o atendimento de pequenos pedidos, mesmo que eles não tenham a mesma importância para você. Cada ser é único e precisa ser visto e se sentir assim. Na vida corrida das grandes cidades, a reclusão voluntária está se tornando comum. Por isso, mesmo que seja à distância, virtualmente ou de pertinho, de coração para coração – é importante dizer com palavras e atos – “você é muito importante para mim!”
domingo, 29 de julho de 2012
Sonhos, Pipas e Livros...
Com esta simples imagem alço voo, venço alturas, desbravo terras distantes! Não importa a direção que o vento sopre, contanto que a minha mão segure a linha de meus pensamentos firmemente e não permita que, de tão distante, eu me perca de mim. Faço pipas multicoloridas com palavras e na rabiola prendo meus sonhos de transcrever em livros o que conheci nas minhas viagens de grandes desbravamentos! Escrevo o passado no presente e sonho com o futuro que estou a construir. Pode ser que nem tudo se realize, pode ser que o tempo desfaça os sonhos que confeccionei com papel de seda - ou de nuvens, e soltei ao vento. Nada disso importa – enquanto eu tiver sonhos, pipas e livros terei a liberdade de recomeçar, alçar voos cada vez mais altos... e viajar...
Estações...
Será melhor que não julgues a ninguém por apenas uma estação. Todos somos bem mais do que os olhos vêm ou a mente pode tentar entender. Por isso, não congeles tuas lembranças em apenas uma delas - pode não ser a atual realidade. Alguns já cresceram, outros floresceram, deram frutos; alguns já perderam e recuperaram todas as suas folhas – até dos sonhos. A cada novo ciclo se renovam, ao tempo que extraem e conservam o sumo das experiências do ciclo anterior. Cada ser carrega dentro de si a somatória de todas elas e o melhor que lhes foi possível aprender.
Marionete Bailarina
A
pequena bailarina, vestida com collant e tutu em forma de pétalas, saltita de
um lado para o outro do minúsculo palco, sustentada por imaginários e finos
fios. Braços em arco, suas pernas sobem e descem harmoniosamente. Ora faz
piruetas, ora mantém um frágil equilíbrio na ponta dos pés, enquanto é
conduzida pelas mãos firmes e hábeis de seu criador.
Por
um instante me compadeço dela, vendo-a assim atada ao querer de quem a conduz.
Afinal, toda bailarina sonha com uma apresentação onde ensaie seus próprios passos,
com a necessária liberdade para expressar sua arte. Nesses momentos, sua alma
de artista se desprende das limitações do corpo e alça voos mais altos,
deixando-se levar apenas pela inspiração que guia seu coração.
Como
esta pequena bailarina, eu também já fui atada aos fios de todos os pensamentos
ancestrais que determinaram meus passos e não foi tarefa fácil conquistar a
liberdade para fazer o ensaio de minha própria dança. A dúvida e o medo do
desconhecido mantinham-me tão presa quanto os fios que limitam agora seus
movimentos. Antes de rompê-los, foi necessário um esforço contínuo para aprender
a sustentar-me sozinha sobre meus próprios pés.
Enquanto
essas imagens e pensamentos se desenvolvem no refúgio de minha mente, no palco
à minha frente a pequena bailarina encerra sua apresentação e se curva
graciosamente diante da plateia. Vários pares de olhinhos atentos estão presos
ao seu encantamento que, para acontecer, não pode ainda se soltar dos fios...
Teus Olhos Negros...
O que querem me dizer teus olhos negros? Querem contar-me teus temores, desamores, tuas dúvidas ou as perguntas que ninguém soube responder? Será que eles querem contar-me tua história – a real, com as injustiças que sofrestes, as tristezas que vivestes ou as grande alegrias que assaltaram seu coração de surpresa? Será que teus olhos negros pedem perdão, pedem amor, um pouco de cuidado, um tempinho de atenção, um prato de alimento – aquele que fortalece o corpo e mantém firme o coração? Teus olhos negros conversam com os meus sem palavras, sondam o fundo de minha alma, aprisionam meus pensamentos, neste instante mudo e desconhecido de uma foto distante que chega no computador.
Quando Tudo Era Brincadeira
Menina nascida no interior de Minas, lembro-me com saudade dos folguedos que faziam a festa entre a criançada e que eram, na sua grande maioria, diferentes desses que a garotada gosta de brincar nos dias atuais. Tudo era simples e as brincadeiras realmente infantis, onde a improvisação supria o que os pais de famílias numerosas não pudessem comprar. A nossa imaginação fazia o resto. Telefones sem fio eram feitos de latas de leite condensado, furadas no fundo e unidas por um longo fio de barbante. Até hoje não tenho certeza se o som era mesmo transmitido pela vibração no fio esticado ou se era nossa empolgação que nos fazia falar mais alto que o normal, deixando que nosso parceiro de brincadeira escutasse à distância. Para fazer bolhas de sabão, depois de derrete-lo na água, fazíamos um canudinho com o talo da folha de mamoeiro, que é oco por dentro. Era uma alegria ver as bolinhas multicoloridas subirem no ar até estourarem. Para brincar de “piloto”, usávamos uma parte do cabo de uma vassoura velha, que era transformado em bastão. O restante era apontado dos dois lados e, quando o bastão batia sobre uma delas, o toquinho de madeira fazia piruetas e era rebatido no ar. Jogávamos Cinco Marias com pedrinhas ou saquinhos de pano cheios de arroz ou areia, passávamos anel de mão em mão para os outros descobrirem em qual delas havíamos depositado a prenda. Quando as chuvas chegavam, a terra úmida e macia se tornava o campo perfeito para brincar de finca ou bolinhas de gude. Confesso que até hoje não sei as regras que faziam traçar os caminhos no chão, de um jeito e não de outro. Carrinhos de rolimã surgiam dos restos de um caixote de madeira, onde se colocavam rodinhas nas duas barras transversais. Obedecendo a fila, uma criança ficava sentada enquanto outra empurrava e, na corrida, as rodinhas riscavam o passeio de fora a fora. Outras vezes usávamos aros velhos de bicicletas, que eram conduzidos pela rua, equilibrados de um lado e outro por uma vareta. As apostas de corrida eram incentivadas pela gritaria da torcida. Para brincar de amarelinha ou pular maré, como se chamava no interior, riscávamos os quadrados na calçada, aos pares ou um só, finalizando com uma casa em forma de arco, que era o céu. Saltávamos com um ou com os dois pés e, a cada vitória, as “casas” eram enfeitadas, marcando nela o nome do ganhador. Jogávamos queimada com bola de meia e corríamos para não sermos atingidos pelo lado adversário. Além de defendemos nossa posição, evitávamos a bolada, que sempre doía muito! Quando um “rei” assumia o comando, fazíamos tudo que ele mandava. Também brincávamos de roda, nas noites frias e enluaradas, cantando cantigas que falavam do céu estrelado, o que faríamos se “esta rua fosse minha”, que o “cravo brigou com a rosa”, que a canoa virou, que a Teresinha de Jesus, numa queda, foi ao chão. Recitávamos “corre cotia, de noite e de dia, debaixo da cama de dona maria”, enquanto corríamos atrás do menino ou menina que havia deixado um objeto qualquer atrás de nós. Tinha pique pega, pique esconde, estátua, rouba bandeira, que antes era só na brincadeira. Empinávamos pipas de papel de seda colorido, evitando ao máximo que a nossa linha fosse cortada pelo cerol da pipa vizinha. E, enquanto tudo isto acontecia, aprendíamos a conviver, a nos defender, a dividir e compartilhar - a fazer e manter novas amizades, conservando os velhos amigos. Se existiam brigas, fazíamos as pazes em igual proporção. Ríamos, brincávamos, corríamos até cansar! Éramos crianças felizes... e sabíamos disso!
Apenas Sonhos...
Eu queria me livrar de algumas lembranças antigas, que não se encaixam mais no meu presente. Elas me acompanham pela vida como um sonho que, ainda que o saiba como tal, não consigo dele acordar. Enquanto estão presentes em minha mente, usam uma argumentação perfeita e se auto justificam tão bem, que sinto-me induzida a acreditar na sua razão de ser. Agora começo a desconfiar que apenas tentam impedir-me de enxergar as consequências que a sua simples presença em minha mente traz aos meus dias atuais. Mas, assim como acontece na vida real, depois que retorno à vigília, a aparente coerência do sonho se desfaz. Volto a não saber explicar o que eles viram e acreditaram como verdade um momento atrás...
sexta-feira, 27 de julho de 2012
De meus amigos são todos os dias
Amigos são sempre bem-vindos, qualquer que seja a estação da vida. Quanto às estações futuras, só o tempo dirá se a semente plantada foi de boa qualidade. Alguns estão sempre por perto; outros somem uns tempos e, quando reaparecem, trazem com eles uma grande alegria para o meu coração. Preenchem a lacuna da ausência anterior e ajudam a redescobrir a cumplicidade da convivência.
Amigos verdadeiros são sempre queridos, não importa a distância ou o tempo que passou. Participam das alegrias, dividem as tristezas, incentivam as vitórias. Depois do abraço, tudo volta a ser como era antes – desaparecem quaisquer lacunas entre a última e a primeira palavra do encontro atual.
quarta-feira, 11 de julho de 2012
Qual Lado?
Pelo seu lado prático, existe um lema que procuro aplicar em minhas relações interpessoais. Se quero conhecer os traços do caráter dos seres que se relacionam com aqueles que me rodeiam, observo a atuação desses últimos. No caminho inverso daquele conhecido dito popular, prefiro pensar: “mostre-me como você está que saberei como é o ser com quem você anda”. Esta observação dará mais informações do que quaisquer palavras de apresentação. Ela mostrará qual é a parte que os seres mais próximos e mais íntimos – namorados, amigos, cônjuges, familiares, despertam dentro de cada um – se é a melhor ou é aquela que ninguém quer ver em alguém que ama, mesmo que este alguém seja você mesmo.
Basta observar atitudes simples: atenções, humor, estado de ânimo, prioridades estabelecidas. Se puxam você para cima, para a expressão do seu melhor ou é justamente o contrário: fica irritado, desmotivado, descontente. Nenhum ser fica imune aos contágios externos, durante todo o tempo. Em algum momento se abre uma fenda por onde os agentes, benéficos ou nocivos, podem penetrar e criar raízes, mesmo que num primeiro momento estas sejam superficiais. O contato contínuo com estes agentes irá aprofundando essas raízes, até que as atitudes praticadas repetidamente passem a fazer parte do caráter.
Por isto, cá entre nós, pense e fale sinceramente – qual lado eu desperto em você?
terça-feira, 19 de junho de 2012
Bondade sem fronteiras...
O que move homens e mulheres à realização de atos incomuns, que muitas vezes colocam em risco suas próprias vidas? Serão viciados em adrenalina, por simples loucura, buscam a fama e a satisfação pessoal ou apenas perseguem um bem maior, que possa ser compartilhado e onde possam fazer a diferença? Cada ser é movido por estímulos e impulsos diferentes. Entre todos, há uma classe especial cujas ações servem de exemplo e de estímulo, para quem quer ser alguém melhor. Longe dos holofotes, eles trabalham em silencio e muitas vezes em condições adversas, com o propósito de oferecer um alívio, uma esperança e a recuperação da dignidade de milhares de seres que vivem em condições sub-humanas. Salvam, alimentam, levam uma palavra de conforto para minorar a dor, choram juntos nas adversidades - curam feridas físicas, cicatrizam feridas da alma. Doam para desconhecidos o melhor que puderam cultivar dentro de si e nem sempre têm seu trabalho valorizado e reconhecido. Não que isto lhes faça falta - são paladinos da bondade sem fronteiras, sempre dispostos a proteger os fracos e lutar por causas justas, sem pedir nada em troca. Atuam solitários ou em equipes e se espalham por todos os recantos do globo terrestre. Diante da grande diversidade que as atitudes humanas oferecem, cada um se inspira naquela com a qual tenha mais afinidade.
Equilibrista
No cabo de aço ele caminha nas alturas, braços abertos como as asas de um pássaro em pleno voo. A visão é bela e ao mesmo tempo angustiante! Provoca, em quem vê, o receio do próximo instante. Deixa a respiração em suspenso, como se o próprio ar que sai dos pulmões possa desestabilizar seu precário equilíbrio. Os tambores ruflam ao fundo, para dar ao ato o som do risco, o que faz aumentar o suspense diante da visão irreal do equilibrista completamente solto no ar. Devagar ele segue, passo a passo. Por vezes finge que balança, para valorizar o desafio – afinal, ele só é um espetáculo se houver um risco constante e iminente.
É belo o show e ao final da trajetória o artista reverencia a plateia – precisa assegurar a propaganda de boca em boca dos presentes, para que haja assistência às próximas sessões!
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