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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Atitudes novas fazem o ano novo


 
O final de um ciclo é o começo de outro, que poderá ser mais próspero e feliz, quanto maior seja a própria capacidade de rever e melhorar as atitudes praticadas no ciclo anterior. O ano não se renova por si só ou porque o calendário ganhou mais uma unidade. Qualquer mudança, por menor que seja, requer sua participação. Para isto, imagine, crie, trace planos, teça sonhos – um ano novo começa dentro de você!
Se algo não está bem em sua vida, mude! Mas, não caia no exagero de querer jogar tudo que é passado fora. Deixe para trás apenas o que pesa, o que sufoca, o que não faz você feliz. Esta é a melhor forma de seleção. Se quer ser amado por alguém, ame mais e primeiro. Não espere sentado que o amor venha até você. Se quer ser feliz, enxergue e agradeça todos os pequenos motivos de alegria que ficam invisíveis frente aos problemas que surgem a todo instante. Se quer se destacar naquilo que faz, escolha fazer algo que você goste. Vai ficar mais fácil e mais divertido vencer! Mas, se não conseguir conciliar o que faz com o que gosta, pratique o óbvio – faça o que faz bem feito, para terminar mais depressa! E se você quer receber um pouco mais de atenção das pessoas, dê você um pouco mais de atenção a quem está à sua volta. Todas as melhorias que desejamos em nossa vida para o próximo ano, começam com a melhoria em nós mesmos. A vida apenas responde às nossas atitudes.
O que posso desejar para nós é que possamos reservar um tempo mais para os amigos, para as conversas, para os passeios e para as nossas pequenas porções de felicidade diária! Mantenho a confiança inabalável que faremos a nossa parte para que o Ano seja realmente Novo em tudo!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Em nome de quem?





















Em nome de quem você sonha seus sonhos ou busca suas conquistas? Em nome de quem você trabalha, trava suas lutas, conquista suas vitórias? Em nome de que ideais estuda e pesquisa, algumas vezes sem descanso? Em nome de quem espera, mesmo na dúvida se alguém irá chegar?
Muitas vezes usamos o nome de Deus para pedir, o do outro para culpar, de outro ainda para justificar nossa dor. Mas e a dor de tantos anônimos, em nome de quem vamos debitar? Em nome de quem omitimos os fatos reais, para não encararmos a verdade? Em nome de que verdade ferimos? Em nome de que pressa deixamos de ouvir? Em nome de que desculpa abandonamos a luta em defesa do mais fraco? Em nome de que justiça gritamos para intimidar quem não pode se defender, enquanto tememos enfrentar quem pode revidar à altura? Em nome de que interesses deixamos de expressar nossa palavra, para não expormos nossas próprias fraquezas?
Sempre existe um nome pelo qual levantaríamos uma bandeira ou lutaríamos pela causa, especialmente quando precisamos convencer a outros e a nós mesmos do que pensamos ser uma verdade. Porém, quando este ato extrapola o universo individual, quando não alcançamos pacificamente a unanimidade nas decisões e ações a serem tomadas, muitos erros e atrocidades são cometidos em nome de uma minoria mais forte e mais poderosa!

Pedaços esquecidos de vida...



Existem recordações que não são minhas e que, mesmo assim, assombram minhas lembranças. Leio-as como uma estranha, ainda que algumas pessoas e lugares sejam familiares. Não tenho outra alternativa senão aceitar que não faço parte do grupo e que em nada contribuí para a construção da história. Minha participação se reduz a acompanhar encontros e desencontros, sem poder me inserir outra vez no contexto.
Porém, nada tenho a reclamar – a escolha de voltar foi minha, na esperança de reduzir distâncias e o tempo compartilhado que não vivi. Se fosse usar a prova dos nove para conferir a validade deste resultado, descobriria que nesta matemática sou quase ignorante – nem mesmo sei identificar o valor das parcelas, dentro do enunciado. O que posso fazer é apenas acompanhar os acontecimentos – de hoje ou de outrora, sem ter vivências para formular o meu próprio discurso.
Por mera ilusão ou simplesmente por saudades do que não fui e do que não tive, desejei resgatar pedaços esquecidos de vida, como se fosse possível voltar a viver o passado no presente, para me antecipar ao futuro - tudo de uma só vez!

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Meu pai...


Ontem seria seu aniversário e a saudade de você bateu mais forte... Faço as contas e, assustada, confirmo que já se passaram 27 anos desde que você se foi! Coisa estranha, a forma como o tempo acomoda as lembranças dentro do coração. Mas, de vez em quando, a saudade represada derruba a barreira imposta pelo tempo e de novo as lembranças ressurgem, fresquinhas, como se tivessem acabado de acontecer... Você não foi apenas meu pai – foi meu amigo, companheiro, cúmplice, o meu maior fã! Em pequenos gestos, você revelava o amor que havia em seu coração, mesmo que tentasse esconder o quanto o carinho de seus oito filhos fazia você feliz! Era tão bom receber seu abraço, depois de uma longa viagem, quando eu voltava para visitar você e mãe. Saudosa, eu me segurava em seu pescoço e o cobria de beijos e você, fingindo-se bravo, limpava o rosto com a mão, dizendo que não gostava dessas coisas... Eu ria e, sem me importar com seus protestos, beijava você uma, duas, três... – quantas vezes fossem necessárias para você desistir e receber, de bom grado, o que seu coração já havia aceitado desde o primeiro instante! Até que chegou o dia que você ofereceu o rosto para receber o meu carinho sem qualquer resistência.
Ah! meu pai! Sinto tanto sua falta... De sua sabedoria amiga, das muitas vezes que me ensinou sem dizer uma palavra. Das outras em que falou e suas palavras foram um bálsamo para o meu coração. De outras em que você apenas segurou a minha mão e sua força passou a ser a minha força...

Uma Carta de Amor...

 
 
 
 
Mais por saudosismo que por necessidade real, ele tirou a noite para procurar um antigo livro do curso de engenharia que, lembrava-se, tratava do mesmo assunto que iria levar para seus alunos na próxima aula. Havia feito nele algumas anotações e os exercícios, que seriam bem esclarecedores para os objetivos que tinha a alcançar com o modulo atual. Estava concentrado em folhear livro por livro de sua biblioteca quando viu uma folha, cuidadosamente dobrada, cair a seus pés. Surpreso e curioso, abaixou-se para ver de que se tratava. Quando abriu, viu a caligrafia redonda e miúda que se desenhava sobre o papel. Depois seus olhos começaram a correr pelas linhas de uma carta de amor, onde quem a escreveu desabafava sua saudade e confessava um amor tão imenso que, sem perceber, ele sentiu-se sugado por antigas e doces lembranças.
O nome ao final da carta trouxe-lhe a certeza de recordações que foram ficando mais nítidas, quanto mais ele lia. Viu-a de novo à sua frente – rosto moreno, corpo de formas arredondadas, sorrisos e lágrimas fáceis, provavelmente aumentados pelos hormônios da adolescência. Seu nome era Alice. A deles poderia ser mais uma história banal - com princípio, meio e fim, se não fossem alguns pequenos detalhes, que se revelaram desde o primeiro instante. Ele se apaixonou por ela logo que a viu. Aquele foi um momento inesquecível, que parecia mais um reconhecimento mútuo que propriamente um primeiro encontro. Ele teve certeza que ela era a mulher que esperara em toda sua curta vida de 17 anos! O encantamento foi tão forte que não teve outra alternativa senão se entregar ao sentimento de amor recém descoberto - única maneira de assumir o papel de protagonista naquela história romanceada. Sentiu-se naturalmente aturdido, ao constatar que tudo aquilo com que sempre sonhara, se materializava diante de seus olhos. Pela primeira vez comprovou que, quando a gente quer muito uma coisa, acredita plenamente no que vê e sente. Afinal, “perder o equilíbrio por amor, faz parte de viver uma vida equilibrada”, já disse algum escritor famoso. Para ele ficou a dúvida se tudo que viveram foi real mesmo ou se foi apenas o sonho dentro do primeiro sonho. Mesmo sem garantias absolutas, acreditaram que seriam felizes para sempre! Traçaram planos; promessas e juras de amor foram trocadas. O encontro deles parecia ser um acontecimento predestinado.
Porém, mesmo diante de um amor assim, a vida não poupou suas surpresas e desmanchou os planos que pareciam imutáveis. Em certo ponto da história o romance terminou e foi preciso voltar a encarar a vida real. Cada um foi trilhar seu próprio caminho e viver sua própria realidade. Nada mais sabe sobre ela – onde está, como está. Apesar da dor da separação, precisou seguir em frente com sua vida.
Já se passaram muitos anos, desde aquele tempo. Hoje vive a sua própria realidade. Mas, diante daquela carta de amor antiga, surge nele a sensação estranha de que nada do que vive agora é completamente real. Afinal, talvez o presente seja apenas o sonho dentro de outro sonho - não ainda o sonho final...
Neste momento o telefone toca. Demora a se levantar da cadeira, para ver se a pessoa desiste, mas ele continua a chamar insistentemente. Resolve atender, desgostoso de que viessem interromper o fio de suas lembranças.
- Alô... diz ele secamente.
- Alô, responde a voz do outro lado. Posso falar com Lucas?
- É ele. Quem fala?
- Oi, Lucas! Que alegria poder falar com você, depois de tantos anos! Talvez você não se recorde de mim... Meu nome é Alice...
- ...
- Alô? Lucas? Você está aí?
- ...

Fluxo do Tempo



O tempo é como um cinzel que esculpe, ininterruptamente, pequenas modificações no corpo e na alma. Sob a ação de sua lâmina afiada, tudo aos poucos se transforma! No físico seu trabalho pode ser gradual e não deixa perceber, em tempo real, as pequenas intervenções que realiza. Faz um trabalho sutil de desconstrução diária. Já na alma, sua ação pode modelar o caráter, suavizar suas arestas, desenvolver e aprimorar a inteligência e o espírito para, quem sabe, tornar o ser cada dia mais semelhante ao modelo original.
Na vida, o passar do tempo também promove mudanças! Ele leva, presos em seu corpo etéreo, pedacinhos de vida que nunca mais voltam a se juntar. Leva a outra parte do amor que ficou; leva os sonhos e a beleza da juventude. Leva os amigos e os espalha pelo mundo; leva os seres queridos, um a um, para um lugar que ninguém sabe onde fica. Leva as dores da alma que pareciam incuráveis; leva as lembranças – boas, ruins e felizes, um pouco a cada dia. De pouco em pouco, leva até a vida...
Mas, o tempo também traz coisas preciosas. Traz as certezas que não foram sentidas na juventude. Traz a realidade diária com suas tristezas, alegrias, derrotas e vitórias. Traz uma prévia do futuro a cada novo nascer do sol. Traz o retorno do amor semeado, tanto mais sincero e incondicional, quanto menor seja a obrigação da colheita. Traz também a gratidão ao comprovar os pequenos motivos de felicidade que a vida oferece a cada dia.
Como agente imparcial, o tempo leva e traz muitas coisas! Posso até dizer que numa concessão rara - bem rara, por certo - devolve a nossa vida alguém que um dia ele levou.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Sobre trilhos


Ultimamente, tenho finalizado meus textos com uma imagem que se encaixe na ideia central que eu quero passar. Como se fosse o retrato do pensamento que está na minha mente. Porém, onde existe uma regra, sempre há uma exceção. Neste caso, a que ilustra este texto fez o caminho inverso. Esta capturou meus pensamentos logo ao primeiro olhar, antes de escrever sequer uma linha.
Não por acaso, ela me remeteu a uma visão familiar à minha infância, transcorrida em frente às linhas da Estrada de Ferro Central do Brasil, em Diamantina. Junto com outras crianças, muitas vezes brincava de andar sobre os trilhos. A aposta era ver quem se mantinha ali por mais tempo, sem cair. Sem que soubesse ainda, aquela brincadeira era uma antecipação do mesmo equilíbrio que deveria ter no futuro, para trilhar os acidentados caminhos que encontraria pela vida.
Hoje, algumas vezes preciso aceitar que não estou no comando de todas as situações – em relação a nada e a ninguém e que não são apenas as minhas ações e decisões que determinam o encaminhamento dos fatos. Preciso repetir isto mentalmente para não me ver pior, ou melhor, do que sou; nem enxergar o outro pior, ou melhor, do que consegue ser. As palavras, sozinhas, não podem definir ninguém e os fatos, mesmo inquestionáveis em outros momentos, percorreram caminhos que, hoje, muitas vezes se divergem. O resultado disso é uma ruptura na rota, uma bifurcação nos trilhos que, antes, corriam no mesmo leito do trem.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Por falar em saudade...


Saudade tem o costume deselegante de aparecer sem marcar horário. Mesmo quando é esperada, provoca um desassossego no coração; mesmo quando é boa, deixa um gosto de nostalgia. Suas causas e consequências são diversas e imprevisíveis.
Gosta de chegar de mansinho, como quem não quer nada e, quando me dou conta, já ocupou meu coração inteiro, sem dar a ele a menor chance de escapar. Outras vezes fico tão atordoada com sua força, que tento abrir uma porta no meu coração e ir embora, deixando-a para trás com as lembranças que trouxe. Em outros momentos, essas mesmas lembranças são transmutadas em razões inquestionáveis, para que eu queira ficar e lutar...
Já mergulhei voluntariamente em suas águas turbulentas, sem ter qualquer noção para que lado elas me levariam e confesso que algumas vezes foi difícil voltar. Já chorei de saudade, escondida num canto, sem poder falar com ninguém o motivo, só para não ouvir que eu já tinha sido alertada. Já ri sozinha, quando a saudade me fez lembrar um momento mágico de alegria – vivido em algum ponto da vida, que nunca mais pude esquecer. Já quis sumir para um lugar onde ela não me alcançasse; já perdi o fôlego quando ela ficou maior que o ar que cabia em meu peito. Já fiz de tudo para me desencontrar dela, por saber que ela chega assim que algo ou alguém especial acabou ou partiu. Até pensei que o melhor seria dividir a saudade em mil pedacinhos, para que ela nunca mais volte a ser inteira. Talvez assim possa evitar que ela ocupe o espaço, que eu tenho reservado para você...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Continuidade...













Só o passar do tempo é capaz de diminuir a dor e o vazio que a partida de um ser querido deixa dentro de nós. Depois eles vão aos poucos sendo preenchidos pela gratidão que surge diante das lembranças de todos os bons momentos compartilhados. Ela deixa em nós uma suave saudade, que confirma que ali morou um sentimento verdadeiro!
Não é preciso apressar a cura – ela só virá no tempo certo. Saberemos que ela tornou-se uma realidade quando as lembranças já nos fizerem sorrir ou tiverem o poder de nos confortar, quando a saudade apertar um pouco mais dentro do peito. Afinal, quem tem um bom motivo para recordar nunca poderá dizer que ficou sozinho...

Para todos os seres queridos que já se foram...

Novas janelas...


A comoção mundial pela morte de Steve Jobs, o gênio da informática que desenvolveu e comercializou desde uma das primeiras linhas comercialmente bem sucedidas de computadores pessoais até os atuais e arrojados iPod, iPhone, iPad etc., fez-me recordar uma frase de Nelson Rodrigues, importante dramaturgo, jornalista e escritor brasileiro, na qual sintetiza uma mudança coletiva de comportamento nos tempos modernos: “A televisão matou a janela”. A realidade demonstra que desde o início, mas de maneiras diferentes, ambos intuíram que novas possibilidades iriam surgir, mostrando em tempo real e bem de perto, horizontes longínquos, que provavelmente nunca iremos conhecer pessoalmente. Enquanto as janelas físicas se esvaziam de rostos e olhares, que já não mais espiam ou conversam com outros rostos que passam, dentro das casas e apartamentos milhares de outras janelas se iluminam ininterruptamente. Em frente a elas, mãos teclam e bocas conversam tendo a visão perfeita de outro rosto, que pode estar perto, distante ou do outro lado do mundo!
Janelas... Quem ainda fica a olhar através de simples janelas? Quem quer ver apenas um horizonte, se seu olhar pode alcançar todos que quiser com um simples apertar de teclas? Um número crescente de pequenas janelas estão se abrindo diante de bilhões de olhos maravilhados! Janelas que podem ser levadas no bolso para todos os lugares - que também conversam, tocam música, participam de redes sociais e viajam pelo mundo com um simples toque do dedo indicador.
Se Nelson Rodrigues voltasse aos nossos dias, certamente ficaria surpreso ao saber que nos tempos atuais os olhares das famílias dificilmente se reúnem em torno da televisão. Agora os pares de olhos ficam presos quase que em tempo integral em novas janelas pessoais, de cores e tamanhos diferentes. Não há dúvida que os benefícios que a tecnologia traz são fantásticos! Suas conquistas apenas tornam-se preocupantes quando o que se vê e se fala com o mundo que está distante, ganha em importância para o que se olha e se fala com o mundo que está a nossa volta.
Contudo, alguns seres ainda reservam um espaço em seu dia a dia para seus antigos hábitos. Eles se mantêm atentos ao que se passa do outro lado das velhas, conhecidas e boas janelas – seja para espiar o mundo que está lá fora ou apenas dentro de si.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Dança da chuva


De repente, a abençoada chuva caiu! Ainda mansamente, sem os arroubos da próxima estação. O primeiro impulso foi deixar voltar a criança - esquecer cerimônias, andar com os pés descalços pela calçada, saltitar a procurar poças d’água. Sentir o cheiro de terra molhada impregnar as narinas, a repentina umidade abrandar as securas da alma.
A alegria e singeleza desta cena provoca muitas lembranças. Sensações da menina da infância, a prerrogativa de alegrar-me com os pequenos fenômenos que ocorrem dentro ou fora de mim. A chuva é também promessa de tempos melhores, de uma nova estação que em breve, irá desabrochar - intensa, cores em abundância, cheiros e sabores que irão se espalhar no ar... Que irão outra vez deixar o meu, o seu, o nosso coração em festa!

Coração Imortal


 
 
 
Muitas guerras já aconteceram e a todas elas você sobreviveu. Muitas lutas internas foram travadas e mesmo assim você se recuperou. Quando pensam que você não vai mais funcionar como antes, você de novo surpreende, reinventando jeitos e formas de retomar o ritmo normal da vida. Se hoje já não é tão perfeito e tão inteiro como antes, você ainda assim se reconstrói, tendo por inspiração o modelo original criado por Deus. Você sangra, sofre enganos e mesmo assim se cura - de todos os males, todas as dores, de todas as feridas. Ainda assim confia que haverá de encontrar uma centelha de bem dentro de cada ser!
As pessoas por vezes se interrogam qual o seu segredo para não sucumbir. A grande maioria acredita que dentro de você foram armazenadas todas as esperanças que outros perderam por aí. Uma parte desconfia se realmente viveu tudo isto, ou se apenas inventou. Outros afirmam que isto só pode ser uma benção de Deus. Sem querer excluir qualquer uma delas, decidi pesquisar por conta própria. Colhi fatos, relacionei todas as parcelas de motivos, somei as tristezas e subtraí das muitas alegrias que encontrei; ignorei os desamores e dividi tudo pelo tempo. Depois de fazer toda essa operação, descobri o inimaginável: você apenas e tão somente acredita que é um coração imortal!

Mudança de Foco


Ela tentou segurar-se nos derradeiros pilares de sua lucidez, enquanto olhava desolada à sua volta, perguntando-se internamente por onde começar o processo de reconstrução. O forte vendaval havia tirado quase todas as coisas do lugar e havia muito pouco do velho a ser resgatado. Apesar da dor e da tristeza que este fato lhe causava, compreendeu que era necessário completar a limpeza iniciada pela natureza, que só arranca do chão o que não tem raízes ou alicerces profundos e resistentes. Quando enxergou os fatos por essa nova perspectiva, ela conseguiu sorrir mais aliviada... Afinal, pensou, nenhum acontecimento pode ser tão completamente bom ou só totalmente mau. A alquimia consiste justamente em transformar a realidade, de alguma maneira, em algo mais atraente. Se os acontecimentos externos revelavam uma catástrofe, era preciso acertar o foco para dentro de si. Afinal, o que parece ruim para fora pode ser extremamente benéfico para dentro, justamente onde tudo recomeça e se renova.

Sistema Imune


“Eu me sinto velha, mas não muito sábia”. Essa afirmação, dita com certa amargura por uma jovem, imediatamente chamou minha atenção. Além de inusitada, fez-me perceber que na mesma idade, a minha compreensão era oposta à dela. Acreditava que, com o passar do tempo, a experiência faria de mim uma pessoa cada vez mais sábia. Como conseqüência lógica, isto traria mais acerto para as minhas ações e aprimoraria minha capacidade de avaliar pessoas e fatos. Depois, a própria realidade foi se encarregando de diminuir meu otimismo e mostrando, com riqueza de exemplos, que tempo e sabedoria não são necessariamente fatores interdependentes e que ilustração apenas não é conhecimento, como equivocadamente chegou a acreditar a minha ingênua mocidade.
Ocorre que os acontecimentos se repetem com roupagens diferentes, o que dificulta o aprendizado consciente - indispensável para a prevenção e imunização contra os repetidos enganos a que todos estamos sujeitos no dia a dia. A visão romântica das pessoas e fatos também faz confiar que atitudes acertadas e dignas de uma parte despertam, por correspondência, outras de igual valor da parte contrária.
Porém seria muito simplista reduzir as dificuldades de avaliação apenas a esses dois fatores. Além do fato de que caráter, consideração, sinceridade, honestidade, entre outras, mais que uma resposta às atitudes de outrem, são manifestações de valores e princípios ensinados e cultivados desde o berço. E mesmo quando recebem uma educação diferenciada, baseada em princípios éticos e morais elevados, alguns seres não conseguem se manter fieis a eles, atraídos pelas facilidades que podem obter ao fazer uso de uma moral mais elástica.
À semelhança do complexo sistema contra invasões externas presente no corpo humano - o chamado sistema imune, o desafio do aprendizado diário é ajudar a formar anticorpos. Assim como o organismo adquire a capacidade de resistir ao mesmo agente infeccioso no caso de uma nova infecção, é preciso adquirir a capacidade de criar o próprio sistema de defesa, para evitar a repetição de enganos, ainda quando camuflados em palavras de bem. Seguindo todos esses cuidados é possível que tempo e sabedoria adquiram certa equivalência...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A Casa da Estação


A lembrança do que era antes, guardada por tantos anos como uma relíquia antiga, tentou se encaixar na imagem que tinha diante dos meus olhos! Olhei atentamente em volta, na esperança de confirmar que apenas havia errado o endereço. Infelizmente, os pontos de referência indicavam que tudo estava correto, mesmo que modificados pela ação do homem e do tempo. O largo Dom João, a Basílica do Sagrado Coração de Jesus, a estação da Central do Brasil – transformada na atualidade em posto do Corpo de Bombeiros. Diante de meus olhos, indiferente ao que se passava dentro de mim, a casa me encarava com seu perfil moderno e suas janelas largas, recortada em sombras contra o céu avermelhado do entardecer...
De repente vi-me outra vez menina, desprotegida e solitária dentro de mim mesma, órfã de minhas mais doces lembranças. Não era apenas a ausência física o que doía tanto. Era, sobretudo, a decepção dos planos não realizados! Tantos quilômetros percorridos, na esperança de rever a encantadora fachada de alpendre com gradil de madeira, que ocupava quase toda a frente da casa. Poder outra vez percorrer seus inúmeros quartos e salas, olhar o mundo através de suas janelas estreitas e elegantes ou ver o porão que outrora despertara os temores da minha imaginação infantil. Entretanto, nada à minha frente lembrava a casa de antes. O único elo que poderia unir os dois tempos da minha história havia se partido!
Como um filme que roda ao contrário, recordei-me que, em sonhos, eu percorria seus imensos corredores – tão altos quanto podia enxergar a minha pequenez de criança. Passeava por seu jardim colorido com rosas, giestas e margaridas, talvez procurando uma parte da menina que deixei ali. Na casa da minha infância vi nascer meus primeiros sonhos, senti meus primeiros medos, experimentei as primeiras alegrias e decepções da minha vida. Em cada parede deixei impregnada uma parte da história que de novo eu queria ler para, quem sabe, compreender os sonhos, os medos, as alegrias e tristezas da mulher que me tornei.
Inesperado, o som estridente de uma buzina arrancou-me do meu devaneio. A tristeza que experimentei naquele momento foi tão grande que nada parecia suficiente para amenizá-la! Chorei de raiva, decepção, dor, saudade... Mas, estranhamente, depois de derramar todas as minhas lágrimas inconformadas, algo começou a se aquietar dentro de mim. Como se o sal nelas contido tivesse o poder de exorcizar os velhos fantasmas que havia carregado comigo durante tantos anos.
Lembro que naquela noite meu sono ainda foi conturbado, como se estivesse processando os últimos acontecimentos e reacomodando as lembranças dentro de mim. O que sei é que, depois desse dia, os sonhos foram se espaçando, até que raramente voltam a acontecer. Talvez, eu tenha me curado da saudade do passado...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Balança da Vida


Uma nova semana começa! Mesmo que nem tudo tenha sido uma maravilha no final de semana que passou, sempre é possível encontrar um motivo ou outro para comemorar! Entre as tantas possibilidades, melhor escolher ser feliz, nem que seja por insistência – só assim corre-se o risco de se conseguir! Para isto, pequenos acontecimentos do dia a dia contam como pontos a favor. São como pequenos pesos de bem que, somados entre si, fazem frente às adversidades que ameaçam desequilibrar a balança da vida, reduzindo sua importância.
Pode ser apenas o fato de receber uma mensagem de alguém que andava bem caladinho e, milagrosamente, reapareceu. Ou encontrar um amigo que não víamos há alguns anos e que nos faz lembrar de outros tempos, outros lugares, reacendendo a chama de uma amizade antiga. Pode ser também um sorriso ou um abraço amigo, num momento que nenhuma palavra teria o poder de amenizar nosso sofrimento. Pode ser uma foto, encontrada não por acaso, que traz para perto quem está distante – nesta ou em outra vida. Pode ser apenas uma música que expressa com exatidão, nossos sentimentos mais escondidos, como se o seu compositor fosse amigo íntimo de nosso coração. Pode ser um filme, onde os protagonistas alcançam a felicidade que tanto almejamos. Pode ser o telefonema de uma amiga contando seus problemas, fazendo-nos esquecer momentaneamente os nossos para consolá-la – e conseguirmos! Ou pode ser apenas um fio que puxamos na trama da vida, que traz junto com ele sentimentos, palavras e atos que nos fizeram felizes em outros tempos, que recortamos e colamos nos tempos atuais.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Menino da Somália










A terra seca não é mais seca que teu corpo de criança, onde os ossos aparecem mais que a tua carne magra. Tudo é calor à tua volta e os insetos voejam, procurando pouso ou um resto de comida. Tenho vontade de tocá-lo mas receio que este simples movimento coloque em risco teu equilíbrio frágil. Apenas teus olhos, negros e imensos no teu rosto miúdo, penetram nos meus e arrancam um suspiro fundo do meu peito, desestabilizando meu coração.
No mormaço empoeirado do dia, teus sonhos de criança se transformam em miragens e só tua imaginação infantil consegue enxergar brinquedos nos seixos e ossadas de animais, reproduzindo o que teu mundo limitado pode permitir. Mesmo que essas diferenças me angustiem, sinto-me impotente para mudar tua sina, que se arrasta através dos tempos.
Se meu foco se afasta um pouco de ti para observar o realidade miserável que o cerca, ela em nada é diferente daquela que modelou teu corpo e pregou essa interrogação e esse pedido mudo em teu olhar magro. Só as sombras negras da morte e da fome perambulam pela paisagem vermelha e quente, onde não é possível distinguir a diferença entre ser humano e animal, nessa luta pela sobrevivência.
Lembro do meu pequeno mundo quase feliz e ele se torna um insulto diante de teu sofrimento. Minha mão automaticamente se estende, tentando amenizar tua fome de amor e de alimento, mas apenas encontram o frio da tela do computador!

Fluxograma...


 
 
Existem dias que nada parece dar certo! Ao final, quando você para e faz um balanço dos fatos, pergunta-se por que as coisas aconteceram de uma forma e não de outra. Você seguiu todos os passos necessários na execução do processo, com o intuito de obter certo resultado, mas ele sai completamente diferente do que planejou. Nesses momentos é comum experimentar a certeza incômoda de que você é falível e que deixou escapar algum detalhe importante, fazendo malograr o processo. Mesmo cheio de boas intenções, não soube como agir para acertar.
É uma reação natural ou simplesmente humana, tentar encontrar algo ou alguém em quem colocar a responsabilidade pelo desacerto. É o famoso “fluxograma do abacaxi”! Ou você se livra ou se justifica - para si mesmo e para os outros, dos medíocres resultados alcançados. Se isto parece dar certo aparentemente, dentro de você é completamente em vão! Assim que você analisa a situação imparcialmente, tem a confirmação de que parte desses resultados é proveniente de suas atitudes e falas, mesmo que seja mais cômodo avaliar as atitudes e falas de quem está à sua frente. Pode até ser que a sua observação tenha algum fundamento. Ainda assim, se o outro fez é porque você de alguma maneira começou, permitiu ou fez de conta que não viu. Infelizmente para você, as conseqüências cedo ou tarde aparecem e só uma revisão honesta de suas atitudes pode garantir um melhor resultado no futuro.

domingo, 21 de agosto de 2011

Jogo da Vida





Ela sabe que, de uma forma ou de outra, a dor sempre passa, por mais que no presente ela seja insuportável! Foi essa certeza que a fortificou nos piores momentos e permitiu que aprendesse a administrar a adversidade, qualquer que fosse sua roupagem - perda, dor, saudade etc. Porque todos esses são estados temporários e o próprio tempo se encarrega de promover as mudanças necessárias que permitirão superá-los! Assim, desde muito cedo compreendeu que não bastava simplesmente nascer – era preciso ser muito insistente para continuar viva! Foi sua capacidade de transformar as dificuldades em pontos a favor que garantiu sua permanência no jogo da vida. Como diz a música, “nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas, aprendendo a jogar”.
Mesmo assim, tem muita gente que acredita já ter vencido a partida antes mesmo dela começar. Outros confiam que tudo sempre estará a seu favor e que a adversidade nunca irá bater à sua porta. Sem pensar no amanhã, fazem pouco de quem é menos favorecido pela sorte, como se as suas dificuldades os tornasse menos capazes para alcançar a vitória. Mas, quando os papeis se invertem, aquele que se fortaleceu nas dificuldades supera os obstáculos muito mais facilmente que o outro que nunca sofreu de verdade e, em função disso, desmorona ao primeiro sinal de sofrimento. Na verdade, a mágica é apenas aparente. O processo é comprovado cientificamente e se chama adquirir têmpera, que só é conquistada através do fogo diário das experiências.

Conexão Aeroporto


A manhã prematura deixa as ruas vazias de carros e pedestres. O sol já ilumina o céu azul de inverno e um vento frio faz estremecer as poucas folhas das árvores. Enquanto o ônibus arranca suavemente do terminal, seu pensamento brinca com as lembranças que vão e voltam trazendo pedacinhos de sua vida, que misturam o presente com o passado. Olha do outro lado do vidro e seu coração aperta de saudade! Tudo o que viveu e sentiu seguirá sempre com ela, mesmo que o presente seja tão diferente do que foi um dia! Se o cenário mudou em muitos aspectos, as referências principais permanecem intactas em suas lembranças. Descobre, com alguma nostalgia, que escondida no fundo de sua alma ainda guarda uma pontinha de esperança de que volte a ser tão feliz como foi um dia. Não identifica se é mesmo uma esperança ou apenas pura teimosia em não entregar os pontos!
As ruas continuam a correr velozes, agora já cheias de carros, no movimento frenético do dia despertado. Apesar do tempo decorrido e a distância física em que hoje vive, sabe que seu coração sempre estará preso a essa paisagem - ao jeito mineiro de ser, de viver e de sentir, mesmo quando volta para as ruas largas do planalto. Sua identidade está aqui, porque aqui estão suas raízes. Aqui viveu os melhores anos de sua vida, num tempo em que ainda acreditava que sabia tudo e que fazia as escolhas mais felizes para a sua vida. Se ela pudesse prever o resultado de todas elas, talvez tivesse usado de um pouco mais de cautela e confiado mais na sabedoria de quem a criou e no amor que recebeu.
- “No ardor da juventude, acreditamos que temos sempre razão e que o futuro será do jeito que imaginamos, conclui”.
Neste momento percebe que o movimento cessa do outro lado do vidro - a linha verde terminou. Sem alternativa, recolhe distraidamente sua bagagem de mão e desembarca no aeroporto da realidade!
- “Afinal, pensa, a vida segue sempre em frente! Só o coração que por vezes fica enganchado em alguma saliência do passado e não consegue se soltar!

Meus olhos e os teus...


 
 
 
 
 
 
Algumas vezes meus olhos mergulham dentro dos teus e eu vejo um mundo diferente daquele que eu vejo apenas através dos meus! Não que sejam mundos antagônicos – são apenas diferentes! Porque o que eu vejo nem sempre é o mesmo que tú vês. Como o que eu quero da vida nem sempre é o mesmo que tú queres. Resolvi então fechar meus olhos, para não enxergar mais os teus. Resolvi fechar minha boca, para não dizer o que tú não queres ouvir. Depois construí uma parede imaterial à minha volta, para poder esconder o que sinto e quero de ti, que não é o que tú sentes ou esperas de mim.
Mas, o amor materno não cabe dentro de si mesmo! Para não morrer sufocado ele dá um jeito de escapar por qualquer fenda ou fresta, imperceptível ao simples olhar. Sai através de uma palavra aparentemente dita ao acaso, um gesto banal de cuidado, um olhar disfarçado de carinho, como quem olhou apenas por olhar. Aí, já não tem jeito, meus olhos se abrem outra vez e mergulham de novo dentro dos teus...

O Coração Sabe o Caminho


Ela decidiu apagar as pegadas que a reconduziam ao passado. O tempo escoa cada vez mais rápido pelo pequeno orifício do relógio de areia e urge continuar seu caminho! De início não sabe para que lado seguir e deixa por conta de seu coração - ele saberá escolher a melhor trilha. Desde longe veio cortando serras, desceu planícies, passou por cima de rios, até subir o planalto – chegou bem longe do mar! Daqui para frente pode encontrar seu futuro em qualquer virada da vida e precisa estar pronta para acompanhá-lo.
Ainda assim, por vezes ela fica triste e outras vezes se alegra pelos mesmos motivos, vistos por ângulos diferentes. Passou a vida acreditando que havia uma versão passada a limpo de sua história e que a original era apenas um arremedo de felicidade, comparada à que poderia ter sido. Nesse emaranhado de sentimentos e pensamentos, não viveu nem lá, nem cá. Ficou presa numa espécie de limbo, enquanto idealizava uma realidade que fosse passível de se concretizar. Esperou por isso tanto tempo que seus sonhos perderam suas asas e deixaram de voar!
Mas, a vida sempre dá muitas voltas! Por essas associações aparentemente inexplicáveis e fortuitas dos pensamentos, finalmente passou a enxergar a realidade que se esconde entre as dobras dos fatos! O que até então estava encoberto pelo véu da ilusão mostra-se sem as ligações superficiais e os artifícios criados pela imaginação. Este simples movimento mental liberta seu coração, pulveriza suas teorias de amor perfeito e desfaz seu castelo de cartas que, acreditara, nunca cairia por terra! Com surpresa e algum alívio, vê desfazer-se o encantamento a que estava submetida e confia que a dor sentida durante tantos anos, finalmente irá passar! Então, cuidadosamente ela veste seus sonhos com uma plumagem confeccionada com letras e os solta ao vento, para que finalmente possam voar...

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Histórias de Papel


 
 
 
 
 
 
 
Construo histórias, como quem acrescenta possibilidades novas à vida. Tudo se torna possível neste pequeno/grande mundo de papel! A mente procura e sempre encontra, entre as lembranças e as vivências do dia a dia, um motivo novo para dissertar. Ao mesmo tempo em que estou aqui, estou lá longe, aonde só o pensamento chega ou pode me levar. Nesses momentos reencontro seres queridos, compartilho algumas ideias, encontro amores novos e antigos. Divido também algumas tristezas, resolvo problemas impossíveis e desfaço desencontros. Como Alice no País das Maravilhas, descubro que este é um lugar fantástico, povoado de personagens peculiares, onde tento resolver as charadas que a vida inventou e faço de tudo para não morrer decapitada pela Rainha de Copas. Tudo é possível, neste mundo de faz-de-conta! Aqui os pensamentos se transformam em sementes, que espalho ao vento, na tentativa de que germinem em algum coração. Se conseguir colher algum resultado, tanto melhor!

Incerto Amanhã

 
 
Por vezes, só por vezes, não sei o que fazer diante do rumo que os acontecimentos tomam em minha vida. Nesses momentos caminho devagar e com mais cuidado, para não perder o restinho de meus sonhos pela estrada e meus pés se cansarem de procurar o que meu coração tanto anseia. Sinto-me impotente e um pouco frustrada por não poder mudar os fatos e suas conseqüências, que são tão diferentes do planejado e desejado pelo meu coração.
Outras vezes vejo tantas coisas diferentes e atrativas que perco o foco e me distraio. Só volto a mim depois de algum tempo, quando a realidade vem me acordar do devaneio e mostrar que tudo não passou de mais uma ilusão. Recomeço a caminhada, com o firme propósito de não me distrair outra vez.
Mas, se a paisagem ganha um colorido diferente, minhas tolas esperanças renascem. Meu coração bate mais rápido, na emoção pressentida, na ansiedade que tudo mude definitivamente à minha volta. Depois de alguma espera percebo que tudo continua igual e só o tempo passa por mim aceleradamente. Diante da incerteza do que me reserva o amanhã, tenho a sensação que tudo fica outra vez mais distante, enquanto olho a longa estrada que se estende à minha frente...

Rua sem Saída


Outro dia fui deixar uma encomenda na casa onde se hospedava uma amiga de minha irmã, que estava a passeio pela cidade. Com este objetivo, saí à procura do endereço que me foi passado e vi que era um setor que não conhecia muito bem. Entre muitas voltas e mais voltas, em certo momento concluí que poderia cortar caminho, passando por certa rua. Depois de rodar algum tempo, percebi que estava passando pelos mesmos lugares, como se estivesse dirigindo em círculos.
- Alguma coisa está errada, pensei.
Levei alguns minutos para conseguir voltar ao local onde havia entrado. Quando passei pelo muro que dava acesso à rua, pude ver uma pequena placa meio escondida entre as folhagens, que avisava: “Rua sem saída”. Comecei a rir de mim mesma, pela falta de atenção. Obviamente, não chegaria a lugar algum por aquele caminho.
Tomei outra direção, mas aquele pequeno episódio ficou dando voltas em minha mente. Lembrei-me, por analogia, de tantas “ruas sem saída” que encontramos em nosso trajeto pela vida. Elas podem ser comparadas com algumas situações ambíguas que aceitamos viver, ou escolhas equivocadas e decisões precipitadas que assumimos, sem antes avaliar suas implicações. Infelizmente, de cada vez que isto acontece não há, como no endereço físico, um aviso de alerta para evitarmos o sofrimento e o constrangimento a que muitas delas nos levam. Diante disso, só encontro duas saídas para essas situações. A ação preventiva exige muita atenção e avaliação de todas as possibilidades diante de cada situação que a vida nos coloca. A curativa, mais dolorosa que a primeira, exige a decisão de voltar sobre os próprios passos, sempre que se fizer necessário. O motivo de ambas as ações é único - não ficarmos presos, indefinidamente, no seu percurso sem saída.

De Volta Para Casa



Por mais que a morte seja a única certeza que temos na vida, suas implicações ainda nos pegam despreparados todas as vezes que se anuncia. Mesmo quando a vida já não é produtiva, por lei, por princípios morais ou juramentos profissionais, ou simplesmente por amor, ninguém sequer admite a possibilidade de apressar o desenlace, para colocar fim ao sofrimento. Por outro lado, também não podemos impedir que ela chegue inesperadamente, porque este é o único acontecimento inevitável de nossa transitória vida.
Ficamos perdidos entre mil conjecturas diante do enigma que representa, independente de conceitos religiosos, filosóficos ou científicos. Se alguns encaram a morte como uma ocorrência única e definitiva, onde a salvação ou a condenação são as possibilidades oferecidas, a dúvida que experimentam diante dela é devastadora. Neste caso o significado da morte fica maior que o da própria vida. Outros já encaram a morte como sendo apenas uma pausa entre as várias etapas de vida que se sucedem dentro da existência, cujo objetivo é o alcance de novos níveis de aperfeiçoamento individual. Para esses, o significado da vida fica maior que o da própria morte. Para a ciência, vida e morte são fatos biológicos naturais, que ocorrem dentro de uma sequência predeterminada e interdependente e, por isso, parecem ter pesos iguais.
Entretanto, qualquer que seja nosso conceito pessoal, na prática os fatos mostram que dentro do nosso círculo de afetos, desejamos que esse momento nunca chegue ou que venha o mais tarde possível, para não tirar de nós quem acreditamos ser parte de nossos pertences eternos. Enquanto lutamos por eles, lutamos também por nós, para que não aumente o peso de nossa própria solidão.
Em todas as situações não é fácil e nem isento de sofrimento aceitar que ciclos se fecham, etapas terminam, que o corpo físico tem prazo de validade e que o espírito não pode ficar preso à matéria a todo custo e indefinidamente. Mas, se a morte para o corpo físico é de caráter irreversível, para o espírito que a anima ela não passa de um pequeno intervalo - é apenas sua volta para casa para renovar-se.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Pixel Art


Um dia desses chegou aos meus olhos uma maravilhosa coletânea de quadros de um renomado artista brasileiro. Diferente de outros, ele utiliza a técnica de colagem para criar suas obras. De acordo com suas próprias palavras, inicialmente escolhe o motivo que deseja reproduzir, que seria o todo. Depois de analisá-lo em profundidade, fragmenta a imagem por áreas de cor, que depois transforma em milhares de quadrados de papel, nas cores correspondentes. Feito isto, começa o trabalho de reconstrução da imagem, ponto por ponto, até que a reunião harmônica de todos eles corresponda ao modelo original.
Diante da beleza de seu trabalho, pude refletir que, similar ao processo de criação desse artista, eu também preciso realizar um trabalho de reconstrução diária de mim mesma, substituindo meus fragmentos imperfeitos pelas qualidades correspondentes. Esta, certamente, é uma tarefa bem mais longa e mais delicada que a obra de arte física, mesmo que requeira a mesma genialidade do meu artista pessoal. Cada aprendizado alcançado, cada valor cultivado, atuam como os pixels que irão compor a minha imagem ideal. Quanto maior o número deles, mais nitidez e semelhança haverá entre a criação interna e o modelo original, concebido por Deus.
A única ressalva é que, ao contrário da obra de arte ou da fotografia, minha pixel art tem avanços e retrocessos, porque não consigo realizar essa tarefa de forma constante, sempre ascendente e uniforme.

domingo, 26 de junho de 2011

O Amanhã Começa Hoje


Se houvesse algum tipo de reagente para aplicarmos à nossa vida, que pudesse colocar em destaque todas as pequenas oportunidades que perdemos e que se mantiveram ocultas ao nosso entendimento, certamente compreenderíamos melhor a situação que estamos no presente. O contrário também é válido, para podermos identificar as que aproveitamos e assim entendermos melhor o que fez a diferença para as nossas conquistas e favoreceu nossos momentos de felicidade.
Quase sempre pensamos em grandes oportunidades para determinar e justificar o rumo de nossa história. Procuramos no macro, esquecendo que, muitas vezes, os micro elementos mudam o rumo da história sem que nos demos conta. Pequenas oportunidades aproveitadas ao longo de nosso dia modificam a rota imperceptivelmente, mas, ao longo dos anos determinam estarmos aqui e não lá; sermos isto e não aquilo; termos algo e não termos; estarmos com este homem ou esta mulher e não com aqueles outros – ininterruptamente! Como muitas vezes elas são aparentemente insignificantes, nossa falta de conhecimento ou de visão, no presente, não permite que identifiquemos a diferença que aproveitá-las ou não, pode fazer ao nosso futuro! Precisamos lembrar que o amanhã sempre começa hoje!

A Dama da Noite


Com toda a certeza, ela não é a maior, nem a árvore mais bonita do jardim! Pode passar despercebida ao observador mais atento – aparentemente, não tem nada especial. Na maioria das vezes é de porte médio e suas flores, de coloração creme-esverdeada, são bem pequenas e permanecem quase invisíveis durante o dia, misturadas entre suas folhas. Quando a noite cai, porém, presenciamos uma significativa transformação. Suas pequenas flores se abrem, tornando-se mais visíveis, e delas exala um intenso perfume, que atrai a atenção! O nome dessa árvore não poderia ser mais apropriado e sugestivo – Dama da Noite!
Outro dia, saí para fazer uma caminhada ao anoitecer. Em certo momento, com a mudança na direção do vento, meu olfato imediatamente captou uma fragrância bem peculiar. Olhei à minha volta, tentando localizar sua origem. Depois de alguns instantes perscrutando a penumbra, encontrei, bem no cantinho de um muro, nada menos que um exemplar dessa encantadora dama. Se não fosse o seu aroma característico, provavelmente teria seguido sem vê-la. Fiquei a admirá-la durante algum tempo, deixando seu perfume me envolver e revirar minhas lembranças. Quando reiniciei a caminhada, meu pensamento ainda continuou preso naquela singela ocorrência.
Refleti que muitos seres, de certa forma, também são assim! Enquanto tudo está bem em nossa vida, se mantêm quase invisíveis e nenhuma atitude deles prende a nossa atenção ou os diferencia dos outros. Reservados dentro de si mesmos, nada neles deixa transparecer seu potencial e as qualidades que os individualizariam frente aos demais. Até que, numa virada da vida, no momento necessário eles se mostram como realmente são e passam para nós toda a beleza e graciosidade de sua alma, o que antes não conseguíamos perceber! Como uma pequena “Dama da Noite”, eles marcam e mudam as nossas vidas para sempre!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Miragens...


Sempre encontro com você em minhas lembranças. Mesmo que não sejam encontros marcados previamente e com consentimento mútuo, mudam a cor do meu dia ou o rumo diário da minha história. Sei que o tempo passa e pouco muda o que já foi mudado. Entretanto, uma lembrança ou uma esperança sempre podem aparecer de repente e o que era caso encerrado, volta a renascer. Idas e vindas que a mente permite, só a vida não faz acontecer. Ou talvez, tudo não passe de uma recusa inconsciente em esquecer o que me fez feliz durante um tempo de minha vida! Afinal, sentimentos maduros requerem contato, toque, pele. Precisam de palavras - ditas ou transmitidas pela boca, olhos, ações e emoções. Na ausência de qualquer desses itens é apenas a miragem do amor.
Diante desse impasse, prefiro voltar às lembranças, como o sedento peregrino que busca o seu oásis, na imensidão do deserto. A esperança o mantém caminhando, mesmo que não saiba quando ou se vai encontrar o paraíso tão desejado. E se não encontrá-lo em tempo hábil, sabe que o esquecimento virá de alguma forma, sem que precise se antecipar, negando-o. Quanto a mim, sei apenas que, quando essas lembranças chegam, alegram meu dia e fazem-me visualizar momentos improváveis, que só um coração enamorado sabe projetar.

Campo Minado!


Não sei mais onde colocar meus pés! A cada passo, temo que tudo vá de novo pelos ares e a minha vida vire de ponta cabeça outra vez. Por isso, escolho bem onde pisar, avalio prós e contras, observo sinais e faço um relatório mental que, provavelmente, nunca revisarei. Afinal, os fatos nunca se repetem da mesma maneira e dificilmente as oportunidades voltam iguais às que perdi no passado. Mas, com todos esses cuidados, mesmo que caminhe cada vez mais devagar, consigo reduzir riscos e aumentar a sensação de que estou fazendo algo efetivo para preservar minha felicidade!
Mesmo assim, é impossível manter-me indiferente ao que acontece no mundo que me cerca. Por vezes, quase perco o fôlego de pavor quando vejo seres que caminham despreocupadamente, como se a vida não fosse um campo minado e eles não corressem perigo a todo instante. Nesses momentos, sinto-me ainda mais segura, mesmo que contida, nesta espécie de bolha que me envolve. Mas estranhamente, mesmo consentindo que esses cuidados hoje me protegem, percebo que uma parte de mim inveja esses seres! Não consigo identificar exatamente em que isto se baseia. Quem sabe, talvez queira experimentar um pouquinho só de sua liberdade para escolher e realizar seus sonhos, mesmo que estes pareçam tão pequenos diante daqueles que, imagino, um dia realizarei. Ou talvez, queira fazer uso de uma fração de sua doidice, de sua capacidade de amar e se entregar profunda e intensamente, sem precisar avaliar se, quando o futuro chegar, algo ainda permanecerá igual ao que estava antes. Ou quem sabe, seja apenas para sentir uma porção inteira de sua alegria, de seu descomprometimento com a coerência, que permite mudar de ideia a qualquer momento, quando julgam que o novo que chega é o melhor que podem oferecer a si mesmos.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Meus Traços...



Com a ponta preta do lápis
No branco espaço da folha
Construo caminhos de vida
No contorno sinuoso das letras.

Sobe e desce a mão,
O traço se estica na linha.
Salpico espaços entre cada palavra
Como quem salpica no escuro do céu,
um punhado de estrelas.

Nesse mundo de traços,
Dou forma aos meus versos -
Na cadência do tempo, de antes ou depois.
No presente de agora encontro outros temas,
Que pintei de esperança e deixei pra você.

Mas... na pausa do verso, no pulo da linha,
O olhar escorrega, faz outros caminhos.
Nos traços que hoje desenham meu corpo
Encontro segredos, leio outras histórias –
Se a vida escreveu, as letras perpetuaram.

Verdades Escondidas




Cada ser guarda dentro de si a sua própria verdade. O que um sabe, não necessariamente o outro precisa ou pode saber de igual forma. A não ser que haja permissão e confiança mútuas e se perceba no outro a disposição de ouvir, sem restrições, um lado diferente da história. Ninguém pode dizer que nunca guardou um segredo, que pensou não revelar a ninguém. Por experiências várias, cada um já comprovou que a verdade nem sempre é a ponte que o aproxima dos demais. Ainda mais que por ela também podem passar algumas decepções de volta. Por esse motivo é que às vezes se omite pequenos detalhes de um fato ou de uma informação, pois dizer toda a verdade pode não ser o melhor que se tem a oferecer a alguém. Esses pequenos segredos são guardados a sete chaves, como se eles fossem a fortaleza que protege a parte da alma, ainda vulnerável, frente ao olhar inquiridor dos demais. Isto não significa que esta atitude esconda um fato ou um ato ilícito, uma conduta condenável. Pode ser apenas um sonho louco que nunca foi esquecido, uma dor escondida que deixou suas marcas, um sentimento impossível que teima em não morrer. Ou apenas meras perguntas, que nem todos os livros reunidos e nem todos os tempos vividos souberam, ao certo, responder!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

História em quatro tempos



aquela menina franzina
que nasceu no interior de minas
brincava de pique, de pular corda,
de corre cutia, de cirandinha,
de fazer tudo que o rei mandava
- criança, era feliz e nem sabia!

a menina cresceu, virou mocinha,
descobriu um dia que o amor existia
deixou de lado as brincadeiras
deitou na grama, olhou a lua
pegou vaga-lumes, pensando em estrelas
- acreditou que tinha tudo que queria!

o tempo passou, a vida correu
aquela mocinha, senhora se tornou
sem atrativos a vida ficou
trabalho, filhos, marido - tudo mudou!
ela tentou, nunca alcançou
- perdeu o amor eterno que jurou! ‎

mas, a história assim não terminou.
adormecida, enfim a bela despertou
nas lutas da vida, conquistou sua paz
com o lucro das tristezas vencidas
comprou passagem de ida pra “Passárgada”
agora, já não volta mais – sabe que é feliz!

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Banho de Chuva

 
 
Ela olhava a chuva que, literalmente, desabava do céu! Nuvens escuras se alternavam com pequenas ilhas azuis, por onde escapavam alguns tímidos raios de sol, que pareciam brincar de pique esconde no céu. Trovões ecoavam ameaçadores, intimidando aqueles que ainda pensavam se arriscar a sair de casa. O barulho era ensurdecedor e sugeria uma grande briga no céu! Mas, quando seus olhos desceram para buscar a terra, capturaram uma cena, no mínimo surpreendente! Na rua que ficara deserta precipitadamente, três crianças saltavam sobre as poças d’água que se formaram no asfalto. Seus vultos, desenhados contra um resto de luz, espalhavam a água da enxurrada no ar que, transformada em pequenas gotículas, se misturava outra vez com a chuva. Os pequenos corpos encharcados, assim livres, movimentavam-se se como se estivessem a ensaiar o balé de uma sinfonia inaudível. Braços e mãos para cima, pareciam fazer uma prece de agradecimento à natureza. A luz mortiça do dia escurecido prematuramente tornava a cena quase irreal e mexeu com a sua imaginação. Capturada pelos olhos, chamou outras imagens similares, que estavam guardadas no seu coração de mulher, que também já foi ...

“aquela menina franzina,
que nasceu no interior de minas,
brincava de pique, de pular corda,
de corre cutia, de cirandinha,
de fazer tudo que o rei mandava
- criança, era feliz e nem sabia!”

Um Salto no Escuro




Algumas luzes já estão acesas nos edifícios à frente e fazem um contraste bonito contra o céu enfumaçado de outono. Já é madrugada! O resto de noite no céu faz lembrar que logo o dia vai nascer por completo e a luz vai revelar as intimidades que ela criou. Ele caminha até a enorme janela e seu olhar se alonga para além do horizonte. Segura entre as mãos uma xícara de café fumegante e bebe o líquido escuro vagarosamente. Naquela instante de pausa forçada, tenta afugentar o resto de sono que pesa sobre suas pálpebras. Tem muito trabalho a cumprir, antes que o dia termine outra vez. Precisa escrever o último capítulo do livro para entregá-lo à editora e não sabe como reconciliar os protagonistas principais da história. Criou tantas dificuldades para eles durante a trama que está complicado desfazê-las sem que as ações pareçam irreais.
Mas, já aprendeu que no papel sempre há um jeito de remediar as dificuldades, enquanto que na vida as coisas não são tão simples assim.
Esta reflexão imediatamente atrai uma imagem de mulher para sua mente e sua boca se contrai imperceptivelmente. Recorda, com um toque de amargura, seu olhar carinhoso e seu sorriso contagiante. Ele a amou por um longo tempo! Mas, contra todos os prognósticos, aquele fora apenas o seu sonho. Depois de tudo, ela seguiu o seu próprio sonho e, infelizmente, ele não fazia parte dele. O amor que foi por tanto tempo dividido se transformou num monólogo solitário, compartilhado apenas com as lembranças que ela deixou. Não há mais nada que possa fazer!
- Talvez, ele pensa, esta seja uma das razões para gostar tanto de escrever. Uma forma sutil de recompensar-se pelo que não tem como resolver na sua vida.
Agora as formas do outro lado da janela já estão mais definidas. O movimento de pessoas e carros indo e vindo pela rua começa a ficar mais intenso. Ele respira profunda e calmamente o ar mais morno da manhã que começa. Depois de alguns minutos volta ao computador e recomeça a escrever. Trabalha intensamente. A tarde ainda está a meio quando finaliza o último capítulo.
- Tudo foi resolvido, bem ao gosto do leitor! Apenas a vida continua como um grande salto no escuro!

Ingredientes da Vida



O grande sonho de todos os seres humanos é ter uma receita única e perfeita para viver bem. Infelizmente, ninguém pode dizer que já conseguiu criá-la! Sobram fórmulas milagrosas e faltam resultados realmente efetivos. Ainda estamos no estágio de identificar, selecionar e experimentar a combinação de diversos ingredientes, na busca de resultados felizes e compensadores. Por vezes os ingredientes que mais gostamos, ao serem misturados, não dão os resultados esperados. Erramos na proporção de cada um em relação aos demais e os planos não se concretizarem conforme nossos objetivos. Ou exageramos, ou reduzimos a dosagem e a receita desanda! Outras vezes não sabemos escolher ingredientes de qualidade e usamos qualquer um que esteja diante de nossos olhos, o que torna a mistura intragável, sendo necessário recomeçar tudo outra vez. Nessa procura, avançamos e retrocedemos inúmeras vezes; comemoramos resultados felizes e sofremos decepções. Em todas as situações, a busca de uma vida plena e feliz é colocada como nosso ideal maior. O que nos mantém alertas é pensar que chegará o momento em que finalmente saberemos selecionar e utilizar corretamente todos os ingredientes que nos foram disponibilizados por Deus. Mas, os resultados sempre serão proporcionais ao nosso desempenho no decorrer de todas as tentativas!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Companheiras de Corredor



Era o horário de visita noturna do CTI. No silêncio do corredor vazio, passos apressados chamaram a atenção das três mulheres que já aguardavam na sala de espera. Logo uma jovem ofegante apareceu e perguntou se as visitas já haviam começado. Ela tinha o olhar assustado, característico de quem teme o que irá encontrar do outro lado da porta. Motivadas a preencher o tempo livre da espera, as quatro mulheres naturalmente começaram a conversar. Independente das diferentes relações pessoais que as levaram até ali – filha, irmãs, esposa, o sofrimento comum as igualava e logo uma solidariedade espontânea manifestou-se entre elas. Começaram a trocar suas próprias experiências diante da dor.
Alguns relatos eram ricos e a jovem de olhar assustado ouvia atentamente. Comparava, admirada, a calma das outras três mulheres com o seu próprio desassossego interno, ao pensar no estado grave em que seu pai se encontrava. Acabou contando que na sua primeira visita chorou muito e ficou desesperada, chegando mesmo a sentir-se mal. Criou uma confusão sem querer! Por isso estava com receio de entrar e tudo acontecer outra vez.
Imediatamente seu sofrimento foi compreendido e acolhido pelas demais com bondade. Algumas delas relataram passagens da própria vida, que ela nem sequer poderia imaginar antes, as quais foram superadas com atitudes de coragem e confiança diante da adversidade. Com seus exemplos de força e otimismo ensinaram que devia, acima de qualquer outra coisa, confiar na vitória da vida, ao contrário de temer a morte. Precisava transmitir vida e esperança com a voz, ao falar com seu pai, para fortalecê-lo frente à doença. Se seus ouvidos físicos não pudessem ouvi-la, seu espírito certamente receberia e canalizaria essas forças em prol da sua recuperação. Ela a tudo ouviu com grande interesse e seu espírito ávido por aprender ofereceu a terra fértil de sua sensibilidade para receber as porções de bem que cada uma delas oferecia às demais.
Quando finalmente o atendente intensivista abriu as portas para dar início às visitas, cada uma delas dirigiu-se ao Box onde estava seu ente querido. Sentiam-se diferentes daquelas que chegaram ali. A jovem, em especial, já não tinha o olhar assustado. Durante toda a visita conseguiu manter-se serena e conversou de forma amorosa com seu pai. De vez em quando olhava com alegria e gratidão para suas companheiras de corredor. Apesar da informalidade, tudo indicava que aquela conversa havia sido especial!
Quatro desconhecidas haviam dividido pedaços de sua própria história para promover uma mudança de visão e de atitude nas demais. Com as experiências trocadas, elas compreenderam que a compaixão diante do sofrimento alheio sempre deve ser maior que o próprio sofrimento. Formaram uma corrente de irradiação do bem que, ao ser compartilhado, retornara mais forte e amparara seus corações enfraquecidos pela dor.