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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O que será de nós?



Cada vez que um grande homem morre o mundo fica mais pobre. Certamente não estou falando em termos financeiros. O valor aqui tem um sentido mais transcendente. Fica mais pobre de amor, de bondade, de compaixão. Fica mais pobre de esperanças e torna mais distante o ideal de um mundo compartilhado sem segregações de qualquer tipo: sem partidos, sem doutrinas, sem moedas, sem fronteiras, onde as raças signifiquem apenas os diferentes tons que deixam o mundo mais bonito e colorido... Um mundo em que os seres convivam em harmonia e pratiquem continuamente o amor ao próximo. Será este ideal uma utopia, um sonho de liberdade cada vez mais distante e impossível de alcançar?
Acompanhamos, no momento presente, atitudes bem próximas de nós de imensa ganância, de egoísmo, de indiferença, corrompidas pelo propósito de enganar para tirar proveito pessoal ou de tirar o que pertence ao outro, sem nada oferecer em troca. Onde vale tudo para ter mais do que para ser. Essas atitudes causam vergonha em quem ainda a tem na cara, acrescentada de uma sensação de impotência e de abandono. A pergunta é imediata: o que será de nós?
Mas, nem tudo está irremediavelmente perdido! De tempos em tempos surgem aqueles que dedicam e empenham sua vida na luta para cada ser humano ter direito à sua justa parte e seu devido lugar no mundo, que nenhum ser vivente tenha o poder de tirar. Certamente não são perfeitos, mas na simplicidade e humildade com que trabalham, espalham à sua volta a semente de uma sociedade mais justa, onde todos tenham direitos e deveres iguais a cumprir.  

domingo, 1 de dezembro de 2013

Segredos...



Ela sempre guardara para si seus sonhos e alguns pequenos segredos, que não contava para ninguém. Pelo menos, não integralmente. No máximo deixava escapar um pedacinho aqui, outro acolá, de preferência para pessoas diferentes, para que ficasse difícil reuni-los ou identificá-los por inteiro. Confiava que dessa maneira poderia mantê-los resguardados e protegidos de pensamentos e observações alheias, até que conquistassem a chance de se materializar ou se revelarem por si sós.
Como boa estrategista, de tempos em tempos ela os enfileirava na mente, para revisá-los. Outras vezes, como uma mãe cuidadosa, dedicava-se a alimentá-los, medi-los, pesá-los. Um ritual que demandava tempo e muita calma, para não acontecer qualquer avaliação precipitada. Acontecia ocasionalmente de um ou outro sonho se materializar, ficando grande demais para continuar em segredo. Era então transferido para outro compartimento mental, periodicamente revisitado, para estimular a realização dos demais. Era tudo assim, certinho e subdividido. Cada assunto no seu lugar e cada lugar com aquilo que lhe era afim, de preferência bem protegidos e isolados de tudo e todos que pudessem prejudicá-los. 
Mas, aquela troca de olhares foi tão inesperada que pegou todos os seus cuidados e reservas desprevenidos. Cansada de esperar o futuro, resolveu desfrutar a alegria daquele presente e se deixou levar pela leveza do instante. Afinal, aquela era uma brincadeira inocente que poderia ser lembrada em algum momento de nostalgia. Só não sabe ao certo quando tudo começou a mudar dentro de si. Quando foi exatamente que começou a deixar cair seus medos, esquecer suas reservas e chamar para fora a mulher que mantivera escondida dentro de si. Simplesmente misturou e soltou seus sonhos, esqueceu seus segredos, retirou pesos e medidas, reduziu cobranças desnecessárias. Hoje se alimenta especialmente de suas alegrias e do prazer de viver o que a faz tão feliz!

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Travessuras de um Vento Antigo



Naquele dia, como se fosse uma criança, o vento acordou logo cedo, com vontade de brincar. Soprou a roupa branca do varal da Maria e levou para bem longe, onde ela custasse a encontrar. Carregou o chapéu de Seu João e foi depositar nos braços da vizinha, que ele admirava de longe, sem ter coragem de se aproximar. Pegou o laço de fita da Joaninha e desmanchou. Ela voltou para casa chorando e pediu para a mãe arrumar. Levantou a saia da moça bonita que andava devagar, só para encantar o rapaz que espiava da janela, o que o fez suspirar com suas prendas. Desenhou redemoinhos com as folhas das árvores espalhadas pela calçada da praça, recriando um balé sem pernas e sem braços. Derrubou alguns doces deliciosos que a Cidinha colocou para secar sobre a mesa do quintal, para a alegria das crianças, que antes, nem perto podiam chegar. Espalhou as rosas que a Vera deixou no parapeito da varanda, enquanto foi buscar o vaso. Cada uma delas caiu no colo de alguém que precisava viver essa alegria. Fez voar para bem alto e bem longe a pipa que Pedrinho ganhou, até ela virar um pontinho no céu. Naquele dia ele se sentiu o melhor empinador de pipas da região!
Mas, esse vento brincalhão não pertence aos dias de hoje. Ele existiu nos meus tempos de menina, lá pelas serras de Diamantina, quando a natureza também gostava de brincar! Hoje ela já não está tão feliz. De tão sofrida e judiada, perdeu sua graça e devolve, com força multiplicada, as agressões que o homem lhe faz.

Restaurando a Alma



Tenho saudades de outros tempos, de outras paragens, de velhos amigos, de tantos pedacinhos de minha vida, que ficaram para trás... Uma saudade despretensiosa, que surge inesperadamente e que não tem por objetivo trazer de volta quem ou o que já passou. Ela existe por si mesma, sem gosto definido, vazia de arrependimentos ou desejos escondidos. Como se apenas quisesse unir, por um instante, dois tempos, dois lugares, duas pessoas que estão distantes no presente ou apenas a que sou hoje e a que fui anos atrás.
Nesses momentos, muitas vezes eu me pergunto por que a vida muda ou distancia o que antes já foi tão unido. Demorei a aceitar que as separações não se devem apenas aos fatos da vida. Na verdade elas são o resultado de mútuas e repetidas incompreensões, de indiferenças acumuladas, do esquecimento que faz apagar o bem recebido, da intolerância com as pequenas diferenças, da impaciência com as pequenas limitações de cada um. Ou, resumidamente, elas são as consequências tardias da pressa de viver, da novidade atraente que se insinua e ocupa o lugar do que antes era tão bom!
Com a alma restaurada, descubro que a minha saudade é uma revelação!

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O Palhaço e a Bailarina



 
Entre as ilusões do palhaço e os sonhos da bailarina a vida acontece... Enquanto ele quer esquecer as próprias tristezas fazendo aos outros sorrir, a bailarina dança para fazer com que eles se lembrem de seus próprios sonhos para realizá-los. Assim, no equilíbrio dos opostos, eles se completam.
Um dia o palhaço perguntou para a bailarina:
- Como consegues ser tão graciosa e tão feliz, enquanto o mundo é tão escuro e triste? Será teu mundo tão diferente do meu?
Ao que bailarina respondeu:
- O mundo tem exatamente as cores que eu dou a ele e a leveza de meus próprios pensamentos. Mas a minha simples presença faz acreditar que os sonhos se realizam.
O palhaço então retruca:
- "Para mim a realidade é uma sepultura - os sonhos morrem quando se realizam. Por isso é necessário re-sonhar, começar tudo outra vez. Prefiro a ilusão, que não tem compromisso com a realidade. É ela que me faz viver."
A bailarina fica pensativa por alguns segundos, depois pergunta.
- Como consegues fazer sorrir aos outros, se no teu coração és tão triste?
O palhaço olhou a bailarina longamente e respondeu.
- "Preciso fazer sorrir para acreditar que a minha tristeza fica mais leve. Preciso dessa ilusão de alegria para esquecer meus próprios pensamentos feios e escuros."
A bailarina concluiu pensativa:
- Ainda prefiro trocar todas as tuas ilusões por meus sonhos, porque eles podem se realizar, enquanto as tuas ilusões se desfazem. Diferente de ti acredito que os sonhos, quando se realizam, frutificam. Estou sempre re-sonhando - o sonho dentro de outro sonho, eternamente...

 * Dedico a inspiração para escrever este texto ao diálogo travado com um poeta e grande amigo, pelo qual tenho um carinho sincero e grande admiração!

Golpe da Sorte


A abordagem pode ter algumas variações, mas sempre com um ponto em comum – atrair a atenção pela ganância ou pela vaidade. Como de praxe, iniciam confirmando a identidade de quem está do outro lado da linha.
- Alô! Falo com a senhora fulana de tal?
Após a confirmação, iniciam uma conversa envolvente e fazem uso de uma série de argumentos, com fins de atrair a simpatia e justificar o golpe da sorte que virá no final.
Aquele teve um começo igual, mas o final foi tão inesperado, que vale a pena relatar.
Após a confirmação de ser a pessoa procurada, recebi a informação de que havia sido selecionada como formadora de opinião do jornal “tal assim assim”, para participar da dita promoção. Por uma fração de segundos, ainda que ciente do fato de que atrás daquele lustro no ego vinha “coisa”, a sabotadora que co-habita em mim brilhou de prazer diante da expressão. Mas, antes que o estrago fosse maior, a mente advertiu atenta :
- Como posso ser formadora de opinião se nem assino o tal jornal?
De início, houve um leve incômodo do outro lado da linha. Talvez, para disfarçar o jato de água fria, a proposta foi repetida, ignorando a minha observação risonha. Ainda sem me molestar, repeti a mesma observação. Qual não foi o meu susto quando a voz envolvente se transformou numa exclamação de enfado, seguida da frase:
- Você é muito chata!!! E desligou o telefone na minha cara.
Depois da surpresa inicial, dei boas risadas.

Algo Maior Que Eu



Quando era mocinha, costumava passar férias na fazenda do meu cunhado, lá no interior de Minas. Nas noites sem lua, com poucas opções de diversão, gostava de me deitar sobre a grama para olhar o céu. Na escuridão de luzes que me rodeava, a terra e a imensidão do firmamento se uniam, e eu me via rodeada por todos os lados de pontinhos de luz. Brincava de contar estrelas e as mais distantes, pareciam brincar de esconde-esconde com meus olhos. Quando fixava o olhar em uma delas, parecia sumir. Mas quando desviava os olhos para buscá-la, mostrava-se justo ali, onde a vira anteriormente.
Sempre experimentava uma sensação maravilhosa, enquanto o silêncio da noite me acolhia em seu seio. Minha mente divagava entre muitas percepções e costumava pensar, curiosa diante do mistério celestial, se em algum planeta distante haveria alguém a olhar o mesmo céu. Que anseios teria ou que sonhos acalentaria diante dessa mágica visão.
Hoje, conto histórias, como quem conta estrelas no céu. Conto devagar, para ter certeza que minha mente não se engana ou que meus olhos não se perdem em miragens. Preciso ter cautela com o que vejo, penso e digo que é real. Porque quanto mais aprendo, mais certeza tenho de que quase nada sei. Ainda experimento as mesmas inquietações de outrora diante do que não entendo, a mesma alegria infantil diante da beleza deslumbrante dessa magnífica criação. Os mistérios continuam, agora ampliados. O que permanece  exatamente como antes é que, para muitas perguntas, eu ainda não tenho as respostas.

Indesejada Presença


 
 
Sempre que encontra uma passagem entre as barreiras mentais que crio para me proteger, volta a invadir meus domínios e faz cair por terra, em questão de segundos, as minhas instáveis defesas. Por vezes, depois de uma luta acirrada, acontece uma momentânea trégua e abençoada paz. Suspiro aliviada, por ter me livrado por alguns instantes de sua influência maléfica. Invariavelmente, poucos segundos depois reaparece com força total, pelo mesmo ou por motivos diferentes, num ajuste injusto de contas pelo tempo que o mantive afastado.
Amor bandido este porque, afinal, não é por afeição que permanece comigo. Não existe nele a menor intenção de resguardar minha felicidade. Sua permanência insistente visa apenas confundir minha mente e retirar forças da minha vontade, para evitar que me livre de sua indesejada presença.
Apesar do desafio, a cada nova manhã eu me levanto com a firme decisão de reconquistar a minha liberdade de pensar!

Minha Primavera



A primavera já se instalou diante de meus olhos maravilhados! A profusão de flores e cores confirma a renovação da natureza e faz recordar que é tempo de iniciar a minha própria renovação. A nova estação dentro de mim também tem flores, tem cheiros, tem pássaros, tem riachos tranquilos, que deslizam serenos pelas minhas pradarias. Tem borboletas e abelhas, que coletam o pólen e espalham minhas sementes, para que possam germinar em outros lugares, mais além de mim. Com a brisa que levanta e distribui minhas ideias, aproveito e espalho as sementes do meu amor, sem discriminar. Depende de quem receber o uso que se fará – e esta parte já não me pertence mais... 
 

Eternizados...




O amor sempre encontra uma forma de se eternizar, seja dentro ou fora de nós. Utiliza-se de imagens que falam direto ao coração para evocar aquela história que cada um guarda dentro de si - a real ou apenas a desejada.
A imagem do amor faz recordar sonhos, os momentos e ternuras compartilhadas em algum ponto ou idade da vida. Ela empresta asas para que a imaginação voe, a saudade emocione e a mente reviva cada instante de sua manifestação.
Num rasgo de generosidade, a obra e seu criador se unem para capturar o instante único e perpetuá-lo diante de nossos olhos enamorados, para que mais pessoas possam apreciá-la ou com ela se identificar.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Expectativas - A Contramão da Realidade





Por mais que concorde com muitas teorias, sei que ainda escorrego na prática de grande parte delas. Constato que a união certa das palavras cria lógicas atraentes e que pode ocorrer um encantamento imediato pelas possibilidades que o seu conhecimento oferece. Se este é um fato comprovável, o mesmo acontece em relação ao risco de acreditar que o que parece lógico para mim tem garantia de se concretizar.
Constato, diariamente, que algumas atitudes e acontecimentos ensinam mais que mil palavras. Comprovam, em segundos, o que levaria um tempo enorme para apreender. Um dos motivos prováveis é que, apesar da lógica implícita nas palavras ou de meus desejos pessoais, a verdade só se revela inteiramente quando sua realidade se faz presente nos acontecimentos do cotidiano.
Um dos grandes desafios para o ser humano vencer diz respeito às expectativas criadas em relação a pessoas, acontecimentos e atitudes, para citar algumas. Apesar de fácil identificação teórica e lógica, elas dão vida a personagens e criam situações que são apenas projeção da própria imaginação. Mas devido à sutileza com que os fatos se movimentam, muitas vezes acreditamos que elas são certas de acontecer.
Ainda que ciente de tudo isto, foi necessário me decepcionar uma centena - ou serão milhares de vezes(?), para comprovar que não posso confiar, nem tomar decisões baseadas em meras expectativas. Isto não garante que já esteja livre do fascínio que exercem na mente. Construir verdades requer atenção constante para combater as possibilidades fantasiosas que se infiltram nas bases.
A conclusão é quase óbvia - as expectativas são pessoais, unilaterais e ninguém tem obrigação de preenchê-las. Somos os únicos responsáveis pelo que criamos! O foco de nossas expectativas não participou deste processo e nada tem a ver com isto!




Estratégia - Arte da Paz e da Guerra

 
O bom estrategista sempre tem a pergunta, a resposta ou a ação mais adequada para cada situação. Afinal, vencer os obstáculos que separam os vencedores dos que são vencidos requer eficiência e inovação contínuas para os que ocupam lados diferentes. Um ponto fundamental é conhecer as fortalezas e as debilidades de cada lado, para que as ações sejam eficazes e adequadas para os resultados perseguidos.
Em tempos de paz, este conhecimento é sempre utilizado para promover e permitir que ela se mantenha. As fortalezas de um lado são usadas para proteger as debilidades do outro. O conhecimento é empregado para harmonizar e favorecer o desenvolvimento conjunto. Entre empresas amigas e amigos, entre instituições que lutam em prol de um bem maior ou países que estabelecem laços de colaboração e amizade seu emprego é rotineiro, ainda quando não tenhamos consciência desse processo. O que move a todos é o anseio de suprir, o que no outro é carência, com a própria suficiência ou abundância e vice-versa.
Em tempos de guerra, mesmo que aqui se entenda este termo de forma mais ampla, além do  mero emprego de armas físicas, o caminho inicial é o mesmo - conhecer o lado opositor. São escolhidas as ações e o caminho mais adequado para chegar ao objetivo ou meta final, neste caso, bem diferentes do anterior. Enquanto o primeiro exemplo soma fortalezas e tira forças das debilidades mútuas com fins de edificar, o segundo combate as debilidades de um lado com as fortalezas do outro, com fins de conhecer e devastar seus domínios. Vence o lado melhor preparado!
Podemos comprovar o uso da estratégia em várias situações do dia a dia, pessoais ou profissionais. Apesar de sutil, costuma ser bastante eficiente! De um modo geral, o bom estrategista avalia o outro lado com perguntas e atitudes que seduzem a mente e encantam o coração, enquanto resguarda seus próprios sentimentos e pensamentos em prudente silêncio. Qualquer que seja a área, as ações serão escolhidas de acordo com os pensamentos e sentimentos que as movem.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Rotas no Céu



 
Bem alto, destacadas contra o azul, vejo rotas brancas que riscam o céu em várias direções. Apesar da explicação física de que são condensações provocadas pelo forte calor das turbinas dos aviões que, ao entrar em contato com o ar gelado provoca essa forma de fumaça, prefiro vê-las como caminhos poéticos, que levam e trazem pessoas de lugares distantes, cada uma delas com seus dramas e suas alegrias pessoais. Algumas viajam ao encontro da felicidade, outras, para longe da tristeza, outras ainda apenas fugindo de um presente que precisa ser esquecido, antes que possam reescrever outro melhor. Pessoas diferentes, com sentimentos diferentes, seguindo momentaneamente uma rota comum, que mais parece um fio de lã esticado no céu, onde em cada ponta existe uma realidade – a esperada e a inesperada; a desejada e a indesejada.
Houve um tempo que ao visualizar essas rotas no céu, desejava estar a bordo de um desses boings e que ele pudesse me levar para bem longe de mim. Sonhava com lugares distantes, com oportunidades diferentes, onde eu pudesse recomeçar a viver. Deixaria para trás minhas tristezas, reconquistaria os sonhos que foram deixados ao acaso da vida e que ela simplesmente ignorou.
Hoje, já aprendi que ninguém foge de si mesmo e que as dores e as alegrias são apenas as lições da vida que eu preciso aprender. Que a felicidade sempre está onde eu estou feliz! Contudo, guardo em mim a visão poética dessas rotas, que me lembram que a dor é passageira e que tudo pode mudar - para muito melhor, a qualquer instante...

Deixar ir...



 
 
Há uma lição recente, que estou me esforçando para que se fixe em minha mente... A importância, frente a um novo começo, de antes cortar laços com o saldo negativo das experiências anteriores da vida. Só assim é possível recomeçar de alma lavada, livre de corpo e mente, sem travas, sem ranços. Isto não significa que devo esquecer o aprendido para ser feliz hoje – o desafio é não usar os mesmos parâmetros. A tendência inicial é carregar para a nova fase o fardo das decepções passadas, os ressentimentos, o medo de que tudo se repita exatamente igual. Isto coloca um freio no amor, afasta a alegria e a espontaneidade. Qualquer pequeno indício do velho se transforma numa certeza. Qualquer atitude no presente é avaliada pelas experiências anteriores. Como alguém consegue ser feliz assim?
Diante dessa tomada de consciência, decidi deixar ir pelos ares os receios construídos sobre fatos que não contribuíram para a minha felicidade. Decidi mudar o foco, mudar de jeito, trocar de esperança, trazer para a vida o risco de certezas diferentes. Evitar, a todo custo, que as dúvidas e desconfianças impeçam de experimentar o novo. Basta abrir a janela da vida e deixar o sol entrar. Deixar a brisa levar tudo que lembre o que vivi sem escolher. Agora escolho o que desejo viver, o que desejo permitir que fique e frutifique na minha vida. Hoje escolho viver - sem reviver... 

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Meu Pai - Meu Herói Favorito


 
 
O tempo completou mais um ciclo e de novo eu me vejo diante da mesma data. A mesma saudade já conhecida volta a se espalhar pelos vãos do meu coração, confirmando que as ausências se fazem presentes através dos sentimentos. Recordar sua presença calma, amiga e silenciosa, capaz de sustentar a fortaleza de minha mãe e de seus filhos, desperta em mim uma imensa gratidão. Ela era mais falante, enquanto você se mantinha cuidadoso com as palavras. Cada um contribuía, à sua maneira, para a realização do objetivo comum de criar os oito filhos, de forma a fazer deles pessoas de bem.
Mesmo que hoje a verdade seja clara para mim, na minha ignorância de menina adolescente, muitas vezes interpretei seu silêncio de palavras como distanciamento afetivo. Minha mãe representava a ponte que me ligava a você - para as permissões e as proibições de meus pequenos desejos. Ela era a sua voz, mesclada com as cobranças e os carinhos de mãe.
Mas, num certo ponto da vida, que não sei determinar exatamente quando, sua figura começou a ganhar espaço e se tornar mais nítida no meu coração, à medida que o tempo passava e as experiências da vida me colocavam frente a frente com seu carinho e sua proteção. Esta foi, muito provavelmente, uma descoberta mútua, porque também deixei de ser apenas a filha mais nova, sempre agarrada à barra da saia de minha mãe, para me tornar parte integrante e atuante também na sua vida.
Você me surpreendia a cada nova experiência, mostrando-me um lado da vida que eu desconhecia até então. Com o tempo aprendi que você tinha uma maneira diferente de dizer “eu estou aqui”, ou, “pode contar comigo e com o meu amor”, ou ainda, “eu cuido de você, sempre que for necessário”. Com sua voz calma e pausada, ou mesmo sem palavras expressadas, manifestava sua bondade através de pequenas atenções e oferecia seu amor sem reservas ou cobranças embutidas. Seus conselhos eram objetivos e certeiros, para cada novo desafio imposto a nós pelas circunstâncias. Foi convivendo com você  que eu aos poucos compreendi que para uma mulher ser forte ela deve contar, além de seus próprios méritos, com um homem especial que a ajude, a ampare e a permita ser assim...
 

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Jogo do Poder

 
 
 
Há muito percebemos que nem tudo que chega até nós, meros contribuintes, é a representação da verdade. Tudo é manipulado e manipulável. As grandes verdades ficam mais atrás, silenciadas para nós e compartilhadas apenas entre aqueles que se beneficiam delas. Nossas escolhas são mal interpretadas ou desvirtuadas, para atender às demandas políticas. Afinal, os interesses deles estão em primeiro lugar, bem acima dos interesses de quem lhes paga a boa vida. Fingem que fazem e por muitos anos nos contentamos com a esperança da melhora. Esperamos tanto que nos cansamos nas filas de hospitais, de ônibus, metrôs, nos engarrafamentos das ruas esburacadas e mal cuidadas, na educação que só tira nota mínima, na segurança que não defende o povo. Cansamos de pagar sem receber!
Contudo, o poder não o é porque sim. Sabe manipular, sabe distorcer, sabe desmentir ou até dizer que não soube e nunca viu. Até que, nunca antes, na história desse país, se viveu tanta abundância, tantos empregos, tanto desenvolvimento, tanta honestidade! Melhor seria dizer que nunca antes, na história deste país, se viu tanta vaidade e tanta prepotência falsamente emocionada, para negociar e trazer o que não pedimos e não é imprescindível. Esta foi a desculpa da vez para empregar tecnologia de ponta e erguer falsos monumentos, superfaturar o orçamento e distribuir a maior parte entre eles, sem nem as sobras restarem para as obras prioritárias. O que sabem é inventar a outra estória, que será contada e repassada para as gerações futuras, com todo jeito de história de verdade, porque ela sempre é contada pelo lado que domina o jogo.
Constatamos, com indignação, que um dos maiores aliados deles ainda continua sendo o “Poder do Jogo”, que promove desvios oportunos de atenção e de interesse daquilo que realmente é importante. Sob o sol escaldante do meio dia, filas enormes de torcedores se formam para a compra de ingressos, numa cidade que nem time de peso tem. Foi preciso “importar” de outras capitais, para justificar a utilidade do elefante branco. Acima de tudo, todas as pequenas coisas, que por ventura apareçam, se transformam em grandes problemas, para desviar a nossa atenção da falta de atenção deles às demandas da grande massa da população. Porém, infelizmente para nós, do lado de cá e aproveitando a deixa do dito fenômeno, do lado de lá, doenças não se curam em estádios, educação não se adquire nas arquibancadas, o transporte não é eficiente para o trabalhador do mesmo modo que é eficiente e de graça, para levar o povo ao estádio. E a polícia, que não nos livra de todo mal, diz amém para eles. O triste da situação é que, quem depende realmente desses mausoléus para aumentar suas fortunas, não precisa passar pelos horrores dos serviços médicos de um hospital público. Os jatinhos particulares estão a postos, para levá-los para onde têm atendimento de primeiro mundo.
Tudo isto reafirma a nossa certeza: mesmo que só alguns escolham, todos são governados!

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Registro Geral


Eu sei quem sou, com as minhas alegrias e algumas dores. Eu sei tudo que sou, com minhas dúvidas e eventuais certezas. Revelo o que sou, porque a pudor de ser já não cabe em mim. Convivo com a minha criança, que enxerga a beleza das coisas e se encanta com todas elas, mas aceito os conselhos da minha maturidade, quando pede cautela frente às grandes decisões da vida. Aprendo a ouvir o que a boca e os olhos dizem, apesar das falsas falas e sorrisos disfarçados, que tentam esconder o verdadeiro indivíduo. Por vezes eu me firo e sangro, porque ando desarmada. Mas o amor que me alimenta me protege e mantém a minha confiança de que em cada um existe uma centelha de bem e que só a expansão desse bem pode curar o mundo. A bandeira que eu carrego pertence ao universo, sem fronteiras que separam e distanciam, sem preconceitos que julgam o que não é igual a mim. Onde eu estou, estou de coração. O que eu digo, vem do coração. Não luto contra nem a favor, escolho lutar ao lado - só assim chegaremos juntos a algum lugar...





sexta-feira, 21 de junho de 2013

Por Quem Lutamos Nós?



As lutas fazem parte do dia a dia de todos nós. Muitas delas acontecem no silencio da própria intimidade e cada uma tem o seu motivo principal: a saúde, o emprego, o estudo, o relacionamento, a preservação da vida e da natureza, todos objetivando a conquista daquilo que qualificamos como um bem. Em prol delas, tolera-se o que parecia intolerável, tempos atrás. Porque a esperança de realização impulsiona para frente, faz varar madrugadas, suportar dores e sacrifícios.
Em contrapartida, em outros momentos e por razões superiores, a luta de um se soma à luta do outro, que juntas se equivalem à luta de um terceiro, quarto, quinto... Inicialmente duas, passam a ser quatro, seis, dez, cem, mil, cem mil - aos pares, milhares de mãos se juntam na conquista de um bem que reúne todos os outros e extrapola as conquistas e esperanças pessoais. Cada Eu somado vira NÓS; o que antes era apenas um, se eleva a potências inimagináveis. Os ideais se somam, as necessidades se correspondem, e a dor que era apenas a minha e a dos outros, vira a dor da pátria! Vira a doença que atinge a todos e que precisa de cuidados urgentes! Porém, o paradigma é que, para isto acontecer, cada um de nós precisa melhorar e curar a si mesmo, pois fomos nós que deixamos adoecer o nosso país!   
Penso que ainda está em tempo de lutar por ti, pátria amada! Lutar pelo direito de todas as gerações que nos sucederão a herdar um país mais humano, mais responsável, onde o preconceito de nenhuma ordem tenha espaço para se desenvolver. Onde a ganância de uma minoria não retire o direito de todos à segurança, ao transporte, alimentação, educação, saúde, entre outros. Assim como devem ser para todos as oportunidades - sem privilégios, pois estes sim, sãos os verdadeiros discriminadores que alienam uma parcela da população da realidade. Trabalhar não é vergonha e estudar deve ser direito adquirido com o próprio esforço. Esta é a verdadeira Pátria, digna de ser chamada de NOSSA!

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Exemplos...




Ao longo da vida aprendo muitas coisas, desaprendo outras, esqueço várias, mas repito todas que são importantes e ficaram fora do meu coração, até que finalmente se tornem parte de mim. O caminho é sem fim e por vezes eu paro, maravilhada com o que vejo e experimento. Viver é algo extraordinário! Acontecem fatos inacreditáveis e encontros com pessoas lindas, que possuem uma beleza muito além da harmonia estética e que me fazem acreditar que, afinal, nem todos os valores humanos foram perdidos! Especialmente diante desses exemplos, mais eu quero aprender e fazer. Mais eu quero experimentar e multiplicar o prazer de viver. Mais eu quero deixar uma parte de mim, para compartilhar com aqueles que virão depois. Tantas memórias eu trago de outros tempos, tantas visões enxergo do futuro que preciso registrar neste presente, que irá se repetir incansavelmente através dos tempos. Preciso comprovar que sou mais que este corpo, de formas e cicatrizes, que marcam por dentro e por fora de mim. Sou mais que este rosto de cor, com olhos e boca que aprendem a sorrir. Sei que Sou o que SOU, mas muitos sabem quase nada de mim. Para alguns, sou apenas um ser imaterial que gosta de brincar com o tempo...

 

Entre a Semente e a Flor...


 
Aprendi que existe um espaço de tempo para agirmos e revermos nossas ações, antes que os resultados – bons ou ruins, se manifestem.  A pausa entre eles não significa que tudo fique parado ou seja esquecido.  Esse tempo de espera camufla o movimento incessante da transformação, com ajustes e reajustes para que as consequências sejam correspondentes e proporcionais às suas causas. Acima disso, enxergo nele a própria paciência e sabedoria do Criador a me ensinar a ter paciência. Afinal, todos os processos da criação requerem um tempo certo para se materializarem.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Um Novo Ângulo


Nós nos acostumamos a fazer as coisas e exergar os fatos sempre pelo mesmo ângulo, rotineiramente. Seguimos sempre pelos mesmos caminhos, comemos as mesmas comidas, conversamos sobre os mesmos assuntos, reclamamos das mesmas situações, apreciamos as mesmas pessoas e as mesmas coisas... Nem precisamos pensar, pois cumprimos com a rotina de olhos fechados. Isto faz perder o interesse e a graça das situações, diminuir o estímulo e a alegria pela vida.
Porém, se de repente nos deparamos com algo inesperado, sentimos o sangue correr mais rápido nas veias, o sorriso surgir espontâneo e experimentamos a mesma sensação de uma criança que acabou de descobrir um tesouro! Nesse instante recordamos que fazer algo inesperado ou enxergar as coisas já conhecidas por um ângulo diferente, pode ser um dos princípios da sabedoria, da compreensão e da felicidade.
Existem atitudes simples, que não requerem ações mirabolantes, que fazem o nosso, ou o dia de mais alguém, se tornar especial. Mandar uma mensagem para uma pessoa querida no meio da tarde, apreciar uma fotografia feita de um ângulo inusitado, ligar para quem não espera, apenas para mandar um beijo. É como colocar uma pitadinha de sabor, quando o gosto da vida está meio sem graça...

Bom, mas nem tanto...



Penso que a maioria de nós, seres humanos, nos vemos melhores do que somos realmente. Não significa que isto seja admitido verbalmente – não fazemos isto nem mesmo para nós. Fica apenas subentendido nas entrelinhas, nas reticências, nos parênteses da vida. Certamente, damos a essas atitudes outros nomes, como otimismo, auto confiança, amor próprio etc. Encontramos sempre razões, motivos e porquês para agir de um jeito e não de outro e acreditamos que todas as nossas ações e reações são justificáveis. 
Quando as circunstancias da vida assumem para si a tarefa de revelar nossa face oculta, uma grande parte descobre que o remédio da realidade é forte e amargo e que desenvolver a capacidade de se auto avaliar não é um tratamento indolor. Apesar do esforço para nos mantermos equilibrados, ainda tropeçamos na vaidade, no orgulho, na intolerância, na impaciência, no egoísmo, no rancor... para citar apenas alguns de muitos defeitos. Tem início, para quem está disposto, o esforço consciente de mudar, de aceitar, de corrigir, de repetir... quantas vezes e por quanto tempo for necessário, até que uma melhora se revele. Quanto aos outros, continuarão a enxergar a sua falsa imagem, enquanto o mundo enxerga a verdadeira.

Quem é a Vítima?



Nos dias atuais, quando são relatos comuns nos noticiários as catástrofes - provocadas ou naturais, os assassinatos em massa, as ações irresponsáveis contra a humanidade e a natureza, faço-me uma pergunta: quem é a vítima da vez? Segundo o dicionário, “vítima é a pessoa que sofre os resultados infelizes dos próprios atos, dos de outrem ou do acaso, indiscriminadamente”. Quando era criança, minha ingenuidade me fazia acreditar que vítima era a parte indefesa e boa, que sofria a ação do mau. Hoje, a realidade já desfez este equívoco e mostra que o algoz de hoje pode se tornar a vítima de amanhã e vice versa. Como uma dança das cadeiras, a cada hora eles trocam de lugar. Bom e mau se tornaram conceitos instáveis e dependem das circunstâncias. A situação fica ainda mais confusa quando as instituições ou o estado, que deveriam defender os cidadãos, não cumprem com seu dever. Grande parte das ações são movidas por interesses - pessoais ou de categorias; por impulsos indesejáveis, pela ganância e pelo desejo de poder. Todos somos vítimas de todos e não sobra quem realmente nos defenda!

Minhas 7 Vidas



O passar do tempo faz tudo parecer bem! Traz o abençoado esquecimento de dores, ausências e saudades. De amores perdidos, do temor sentido quando a realidade da vida se mostrou mais dura que o esperado. Uma comprovação comum para muitos; talvez mais para uns do que para outros. Como uma gata, muitas vidas eu já vivi em uma só. Se algumas ninguém sabe, outras, eu contei e ninguém acreditou. Houve um tempo que fui criança feliz, mas nem eu sabia disso. Depois, fui adolescente rebelde e todo mundo percebeu. Vivi momentos em que me revoltei e briguei com Deus; depois, quando a tempestade passou, descobri que Deus sempre esteve ao meu lado e nunca me abandonou. Um dia fui solteira, depois fui casada. Fui acompanhada e amada por outros, depois aprendi que também é bom ser acompanhada e amada por mim. Tive amores que chegaram e partiram. Tive amores que ficaram na minha vida e outros que só restaram no meu coração. Tive muitas alegrias, tive um outro tanto de tristezas. Tive sonhos que se realizaram, enquanto outros se desmancharam. Quando pareceu que já tinha vivido de tudo, a vida fez um reset e reiniciou. Não sei se fiz um pacto com os protetores da vida ou é apenas a morte que se protege de mim...

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Quanto vale a sua?

 
Estamos vivendo uma época em que o valor de equipamentos, carros e objetos pessoais se multiplicam dia a dia, de acordo com a sofisticação do modelo ou a capacidade do bolso do comprador. Cada um promete quase o impossível, mesmo que não seja possível de se realizar. Se paga mais pela sensação e o insólito da posse, que por sua qualidade. Poucos questionam o quanto vale, mas o quanto faz, o quanto impressiona, o quanto confere de status e de poder a quem o possui.
Fazendo um caminho inverso, a vida humana está valendo cada vez menos, se fizermos uso da mesma bolsa de valores. Alguns morrem de fome, por falta de atendimento médico, enquanto outros morrem por preguiça de andar um pouquinho mais e atravessar em um lugar seguro. Ou morre-se por escolher um lugar seguro para atravessar e o bandido se vale da sua falsa segurança para atacar. Morre-se no trânsito, na calçada, dentro de casa – morre-se por descuido de cuidar. Morre-se por quase nada ou por nada mesmo, como se tudo fosse apenas uma representação e que, ao se encerrar o espetáculo, os personagens simplesmente se levantassem e fossem para  suas casas.
Por outro lado, mata-se por tudo que muito pouco vale. Por um tênis, um celular, um relógio, um carro, uns trocados no bolso. Mata-se por ideologias, mata-se em nome de deus, em nome da cor, em nome do sexo ou pela opção que advém dele. Mata-se porque o amor acabou, porque estava com pressa, porque o outro se descuidou um instante. A tolerância com as diferenças está em torno de zero, como está em zero o amor entre pais e filhos, onde o deus dinheiro entrou na jogada e bagunçou o que era prioridade. Mata-se por impunidade, por cobiça, por frustração. Ou mata-se apenas porque alguém acordou de mau humor...
Neste caos que se espalha pelo mundo, a vida que é vida mesmo está ficando sem espaço e precisa, urgentemente, recuperar o seu real valor...

A Espera...

 
Súbito, a imagem encontrou meus olhos e imediatamente me encantou! Não sei bem se pela beleza ou pelo inusitado da cena. O momento ímpar, captado pela sensibilidade e registrado pela lente atenta do fotógrafo, fez a minha mente divagar! Na esquina de uma rua movimentada, o homem vestido com roupas comuns segurava em uma das mãos um guarda chuva amarelo e na outra um ramalhete de flores coloridas, enquanto a chuva caia torrencialmente à sua volta. Parecia indiferente aos sorrisos e olhares curiosos que despertava, especialmente das mulheres, que talvez desejassem que a atenção e o mimo fossem para cada uma delas. Seu olhar estava fixo numa direção e expressava certa expectativa, como se o objeto de sua espera pudesse surgir a qualquer momento no final da rua.
Com esta imagem congelada na retina, peguei-me conjecturando sobre os fatos que motivaram aquele momento. Seria um pedido de perdão, um pedido de casamento, uma homenagem para alguém especial? Seria apenas uma surpresa ou uma atitude previsível em quem proporcionou? Seria uma despedida? Um reencontro desejado, depois de muitos anos? Que atitudes e sentimentos terão despertado em quem estava sendo esperado? O que sentiu quem esperou? Convivendo num equilíbrio momentâneo, uma atitude única pode se subdividir num leque de possibilidades! Afinal, o que meus olhos veem contém apenas uma pequena parte da realidade completa...
Contudo, algo pode ser aprendido... A espera tem algo de mágico, porque nos prepara para viver o momento do encontro com antecedência e um pouco mais de consciência. Ela nos faz refletir sobre o que a motivou, os sentimentos que despertou a ausência, e o que nos propomos fazer para que o encontro seja real e se perpetue.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Tudo Cresce em Direção à Luz!

 

 
Ao refletir sobre as atitudes de todos os seres humanos, boas e ruins, lembrei-me daquela experiência que todos nós já fizemos algum dia, com as sementes de feijão. Sem querer entrar nos detalhes que todos nós conhecemos, uma das conclusões sempre me chamou a atenção. A plantinha, para crescer, precisava da luz do sol. E se a luz era pouca, o pezinho de feijão crescia em direção a ela.
Tudo que acontece na criação tem um ensinamento correspondente para a vida de cada ser humano. Assim como a luz e o calor do sol são imprescindíveis para o desenvolvimento e a continuidade da vida física, a vida espiritual também precisa da luz do conhecimento para que possa se desenvolver. Contudo, observei que muito mais que uma possibilidade, nesta frase existe uma certeza. Nela está implícita uma mensagem de esperança: tudo cresce em direção ao Sol! Tudo cresce em direção à luz! Por mais que a escuridão mental ainda impere, ainda que a ambição, a sede de poder e a intolerância humana com as diferenças, criem as guerras. Apesar da ignorância de muitos e da maldade de outros, existe um caminho a ser trilhado, mudanças positivas e inevitáveis a serem cumpridas em direção à evolução. O sol é luz, é calor, é vida! Hoje somos plantas humanas que crescem em direção à luz, em busca dos benefícios que ela oferece. Algum dia seremos homens sol, que expressam em suas atitudes, os resultados e benefícios de dignos representantes da civilização da luz!

Você Foi Meu Futuro


 
Sem que eu soubesse ou estivesse pronta para recebê-lo, um dia você apareceu no meu passado, com a promessa de ser o meu futuro. Chegou de mansinho e meu coração, despreparado, não entendeu a mensagem. Acreditou que tinha um tempo infinito pela frente para decidir e escolher quantas vezes fossem desejadas por ele. E adormeceu na pedra do tempo, enquanto a vida passava veloz. Quando finalmente acordou, já se fazia tarde para retomar a história do ponto onde ela parou. E você, que um dia foi meu futuro, se desmaterializou...

Dedicado ao futuro - que mesmo desejado, não aconteceu...

Brincando de fazer História


Fugindo a toda lógica, em certos momentos sinto uma vontade irresistível de mudar o rumo de muitas histórias! Especialmente quando vejo que as peças do quebra-cabeça dos relacionamentos não se encaixam, quando a saudade incomoda além do suportável ou quando o caminho escolhido parece sem graça e sem cor. Queria ter o poder de reescrever trechos, parágrafos, capítulos ou finais, quando eles se mostram bem aquém do que seria a história ideal. Ou pular certos acontecimentos, que não fizeram e ainda não fazem ninguém feliz. Quem sabe, mudar pessoas de lugar ou inverter o relato - começar do que parece o fim e voltar ao começo, quando tudo era bem melhor.
Isto não teria por objetivo livrar a nenhum de nós das lutas – elas são parte inseparável de qualquer história! As decepções também ensinam a rever as escolhas – o que parecia bom antes, hoje pode mostrar-se ruim! Já que a vida não olha para traz e não costuma dizer sim para todas as vontades e sonhos escolhidos, seria alentador encontrar uma maneira de fazer um upgrade nos resultados, especialmente quando eles provocam mais dúvidas que certezas.
Contudo, mesmo que seja possível fazer alguns reajustes pessoais, à medida que as coisas ruins vão acontecendo, concluo que certas decisões estão além da nossa alçada. Afinal, nenhum de nós tem a visão completa dos fatos para atuar com imparcialidade – sempre haverá o risco de cada um querer mudar apenas o que pareça bom para a própria vida, sem avaliar corretamente o que será bom para a vida dos demais. Como jogadores inexperientes, provavelmente ainda iremos correr um bom tempo atrás da bola, sem conseguirmos finalizar a jogada que nos trará reconhecimento. Mas, talvez o que doa mesmo é quando outro jogador passa à nossa frente e rouba de nós o gol da vitória!

Falsos Imortais




Hoje já não somos os mesmos de tempos passados, o que não faz de nós melhores ou piores do que fomos. A vida se encarregou de acrescentar alguns detalhes, suprimir outros e aperfeiçoar tudo que se mostrou aperfeiçoável. O que foi um traço leve do caráter no passado pode ter se tornado um defeito, ou um defeito pode ter sido amenizado pela maturidade.
Se por um lado a experiência de vida traz uma nota de sabedoria, em outros aspectos o tempo faz perder o reflexo rápido, a audição aguçada, a memória incondicional. Simples, previsível..., mas não aceito naturalmente ou por unanimidade! Uma parte de nós continua a exigir imutabilidade de si mesmo e do outro, como se a passagem do tempo pudesse ocorrer de forma não visível e não sentida. Criamos padrões rígidos para a beleza, para a saúde física e mental, para a produtividade - o que estiver fora é rotulado de velho e sem serventia.
Por vezes eu me pergunto se é só por impaciência ou é também o medo de envelhecer o que nos torna tão intolerantes com aqueles que estão na menor, ou na chamada melhor idade. Talvez cada um se veja em um espelho de duas faces, que de um lado mostra o que se foi, e, do outro, o futuro que virá. Como falsos imortais, os dois lados se desentendem, porque ambos conservam a ilusão da eterna juventude cristalizada dentro de si. Rejeitam a ideia de se ver tão velhos ou menos jovens do que se sentem.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Mestra do Infortúnio

 

A adversidade sempre provoca em mim silêncios, que deixam ouvir o que nunca consigo escutar, em meio ao burburinho de falas simultâneas da felicidade. Ela me encerra entre as paredes de meu ser, e, sem mais alternativas, faz-me avaliar minhas atuais condições e reavaliar o que fiz para chegar até aquela situação. Depois, como boa mestra, me ensina os possíveis caminhos para vencer os próximos obstáculos, se realmente quero chegar a um resultado diferente.
No limite da dor e da adversidade aconteceram as maiores transformações de minha vida.  Com elas coloco à prova minha capacidade física e psicológica para persistir na luta ou enxergo quão tolas e falsas são as falas da vaidade, quando alimentam a crença de que “isto nunca vai acontecer comigo”. É no silêncio compulsório da adversidade que identifico minhas fortalezas e debilidades, ambas ignoradas por mim muitas vezes. Ou sinto o despertar de talentos adormecidos, que nem eu sabia ter. Aprendo a enxergar e valorizar pequenos gestos, a identificar o amor de certos olhares. A aceitar, com valentia e humildade, o que em tempos mais felizes acreditava que seria insuportável para mim. Com a adversidade aprendo também a pedir, a ouvir, a aceitar. Especialmente, aprendo a esperar o tempo necessário para ultrapassá-la, com a certeza inabalável que dias melhores vão chegar!

Dentro ou Fora da Interseção?




Foi uma surpresa incômoda sentir-se excluída de um acontecimento que, outrora, estaria garantida a sua inclusão. Naquele gesto não premeditado, viu, num primeiro momento, apenas o que estava fora da interseção: as diferenças, os distanciamentos, a desunião. “Eu pra cá, você pra lá”. Por isso, naquele instante ela sofreu!
Pouco depois seu coração, incomodado com a conclusão precipitada, buscou recordar os momentos de união, os momentos de parceria, as alegrias compartilhadas e tristezas divididas. Lembrou a amizade de longa data, distribuída pelas horas do dia a dia da vida. Lembrou as conversas intermináveis sobre conquistas, descobertas e padecimentos mútuos. Lembrou o sorriso da amiga, a fala alegre, que nem a distância conseguia fazer esquecer.
Quase que de imediato, apagou o falso sofrimento, a dor sem causa, a cobrança de um gesto que poderia ter começado nela, sem esperar a iniciativa partir do outro lado. Naquele momento descobriu que apenas havia enxergado o que estava em desarmonia em si mesma. Fez uma pausa, silenciou o conselheiro suscetível, reconsiderou - e voltou a unir o que a visão distorcida de suas fragilidades havia tentado separar.

Pomar da Vida


 
 
Outro dia ouvi um relato que julguei interessante para uma segunda reflexão. Um homem, ainda jovem, recebeu o diagnóstico de ser portador de um tumor raro e inoperável no cérebro e que lhe restava poucos dias de vida. Sem querer ser mais uma estatística médica e morrer entre as paredes impessoais de um quarto de hospital, decidiu fugir e voltar à sua terra natal, para ficar perto das pessoas que eram importantes para ele. Ao explicar sua decisão para o amigo inconformado e tentar minimizar sua dor e revolta diante daquela realidade, utilizou a maçã que tinha nas mãos para fazer uma analogia. Deu nela uma boa mordida e passou para que o outro também comesse um pedaço, enquanto explicava:
- Esta maçã poderia não estar aqui agora. Poderia ter sido esquecida no pé até um dia cair sobre o solo e ficar ali até apodrecer. Se permanecesse intocável na árvore, ela nunca poderia cumprir com seu objetivo de alimentar. Ao contrário disso, foi colhida e seu fruto agora está sendo dividido e degustado por nós dois. E finalizou. Foi isto o que escolhi para mim, diante da morte inevitável. Quero compartilhar até meu último suspiro com aqueles que fizeram a diferença em minha vida ou eu na deles.
Diante dessa explicação final, pensei que também podemos encontrar os mesmos exemplares de maçãs humanas, no vasto pomar da vida. Alguns nascem e morrem sem se envolverem ou compartilharem suas vidas com os que estão à sua volta – seja na dor ou na felicidade. Fechados em seu egoísmo, passam pela vida indiferentes a todos e a tudo que se passa à sua volta.  Em oposição a estes, existem os que se doam, se dividem, se somam e se multiplicam para ajudar, para amparar, para alimentar de força, de paz, de saúde e de alimento, a todos que têm a felicidade de cruzar o seu caminho.
Em qual categoria eu quero estar? Esta é uma pergunta que sempre devo me fazer, para saber se estou cumprindo com os objetivos da vida e com minha missão como ser humano - independente de doutrinas, filosofias ou religiões. Se eu morrer amanhã, quero ter compartilhado meus dias e minhas ideias com as pessoas que estão ao meu redor. Quero ter a chance de alimentá-las com meus sonhos e, quem sabe, deixar uma marca do que fui em seus corações. Quero ter a capacidade de promover mudanças de rota e de planos, sempre que isto as impulsione a caminhar em direção ao verdadeiro objetivo de suas vidas.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Ramalhete


Planto flores e faço com elas um pequeno jardim, só para alegrar um pouco mais a tua vida. Uso cores e formatos variados para, quem sabe, colocar um brilho novo em teu olhar e agradar até aos gregos e troianos dos tempos atuais. Do passado escolho, entre outras, as delicadas giestas, cujas pequenas flores amarelas coloriram nossos dias de criança. A elas vou acrescentar as roseiras, margaridas e dálias, para dar à imagem uma visão mais completa. Com a fragrância que se espalha no ar, será possível atrair abelhas, beija-flores, borboletas e pessoas especiais, que também gostem do que elas podem lhes proporcionar.
Para as datas especiais, posso reunir algumas flores num delicado ramalhete e com elas enfeitar os espaços da tua casa ou alegrar alguns recantos reservados do teu coração, onde os escolhidos são convidados a ficar. Ou desenhar poemas diante de teus olhos e a eles misturar o perfume e colorido das flores, para suavizar a tua dor de viver, que só o amor maior tem o poder de curar.
Se essas pequenas atenções não forem suficientes para resgatar teu olhar, com o pensamento vou recriar os mais belos lugares – com montanhas, riachos e vales, onde a água cristalina serpenteie por entre a grama verde esmeralda, salpicada de flores com as cores do arco-íris. Por ali caminharemos calmamente de mãos dadas, em longas e intermináveis conversas. Recordaremos outros dias vividos em família, quando o amor de nossos pais era nossa fortaleza e proteção. Prometo esforçar-me para que esqueças as tristezas do mundo, para ficarmos mais próximas do que fomos, do que somos e de Deus. Quem sabe assim eu consiga encantar teus olhos e tranquilizar teu coração, para que os dias futuros sejam um pouco mais felizes que os dias atuais.



Para a minha "Florzinha"...

sexta-feira, 8 de março de 2013

Mulheres!






Penso nas mulheres que somos hoje e em tudo que tivemos que fazer e vencer para chegarmos até aqui, em todos os campos e sentidos da vida. Apesar das conquistas alcançadas, a frase “viver é para os fortes” retrata as lutas que ainda precisamos enfrentar e superar diariamente, para continuarmos na ativa. Esta avaliação nada tem a ver com queixas feministas, menos ainda com auto piedade. Apenas constatação dos fatos. Ainda nos dias atuais, culturas castram meninas, cobrem seus corpos, aprisionam suas mentes e sentimentos pelo medo. Em todo mundo, mulheres são mortas violentamente por seus companheiros por motivos banais. Algumas mais, outras menos, todas nós já enfrentamos discriminação salarial e preconceito, pelo simples fato de termos nascido mulheres. Somos mães, filhas, profissionais, amigas, esposas... Mulheres que vencem e contornam dificuldades, que se multiplicam na essência, quando não é possível na forma. Direitos? Nem todos. Nem sempre. Depende... Será que tem capacidade para isto?

Ainda que seja cada uma por si e Deus por todas, matamos um leão por dia para fazermos frente aos desafios. Os exemplos de competência estão por todos os lados, em todas as áreas. Ainda assim nos denominam de sexo frágil – em que, quando? Somos exigidas, cobradas, criticadas, usadas, comparadas, avaliadas - com TPM ou sem ela. As propagandas exibem mulheres lindas, sempre arrumadas, penteadas, pés e mãos cuidados e perfeitos, maquiadas, sorridentes – impecáveis! Afinal, insistem, toda mulher que se preze deve se cuidar. Deve parecer bonita. Não importa a noite insone com o filho, o cansaço acumulado, o acúmulo de trabalho e de contas, problemas de todas as ordens ou o fato de muitas serem pai e mãe. Convivemos, diariamente, com a soma de atribuições, a divisão financeira, a equação difícil de resolver tudo e conciliar todas as diferenças, de preferência sorridentes!

Depois de tudo isto, num ato de extrema generosidade do mundo, ganhamos um dia no calendário! O marketing sentimentalista nos elogia com palavras de admiração passiva, fazem exaltações à natureza feminina acompanhadas, eventualmente, com algumas flores! Recebemos isto, quando tudo o que realmente queremos é ter nossos direitos reconhecidos e respeitados, nossa capacidade valorizada e um pouco mais de companheirismo, quando as situações exigirem além do nosso limite.

Desabafo pelo "Dia Internacional da Mulher"...