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quarta-feira, 14 de julho de 2010

Desnudamento

Era um final de tarde quente e abafado de início de primavera! Descansava o corpo, saboreando um delicioso café. Sem grandes expectativas, deu uma olhada à sua volta, em busca de um rosto conhecido. Foi quando os viu. Acomodados em uma mesa lateral, provavelmente passariam despercebidos para um observador desatento. Eram apenas mais duas figuras, de frente uma para a outra, no outro extremo das instalações do café. Em um primeiro instante, não lhes deu muita importância. Logo, sua intuição captou algo que, de início, não soube definir com clareza! Observou-os mais atentamente. Eles se inclinavam discretamente para a frente, numa animada e interminável conversa. Porém, a distância em que se encontravam não lhe permitia ouvir sobre o que falavam.
A curiosidade primeiro, depois a percepção de uma certa doçura nos olhos que se miravam, instigaram-na a fazer uso de seus poderes. Fechou seus olhos e lançou seu encantamento. Passaram-se alguns milésimos de segundos. Repentinamente, foi tomada por forte emoção! Perplexa surpreendeu, como elemento intruso, a um momento raro e magnífico entre um homem e uma mulher!
Naquele instante, para eles o mundo circundante parecia não existir. Dava para ver que estavam ali, diante de seus olhos, duas almas, uma frente à outra, que se desnudavam. Uma a uma, deixavam cair as peças sociais que as revestiam, como se estivessem a fazer um strip-tease íntimo e sensual. Olhos nos olhos, corações expostos, sentimentos a descoberto... De forma verdadeira, pura e humana, anseios, temores e esperanças se revelavam. Sem ao menos se tocarem, suas almas se misturavam, como no ato físico do amor.
Estupefata e emocionada diante daquele bonito espetáculo, voltou a si mesma! Disfarçou o encantamento que tomara conta dela e muito rapidamente assumiu sua neutralidade de observadora anônima e distante. Achava que o par merecia a intimidade daquele momento, que poderia ser a única oportunidade de suas vidas. Intimamente, achava-se maravilhada pelo que havia presenciado!
Chamou o garçom e pagou o café. Lançou um rápido e último olhar em direção a eles. Como que a despedir-se, mentalmente desejou-lhes felicidades, não importa que caminhos trilhariam a seguir.
Ganhou a rua. Anoitecia! Solitária, foi tragada pelo ar quente e abafado de início de primavera. Porém, intimamente, já não se sentia mais a mesma que tinha entrado naquele café!

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