Com tantas tragédias pessoais e coletivas sucedendo - seja ao vivo, na tela ou no coração, de repente eu me olhei assustada e ao mesmo tempo aliviada e pensei:
- Escapei de mais essa!!!
Sim, sinto-me como se estivesse sobrevivendo bravamente, segundo a segundo, a todas as dores, perdas, separações, acidentes, imprevistos etc, que vêm acontecendo no mundo - dentro ou fora de mim!
Como qualquer mortal, sei do passado, mas o futuro é uma incógnita e o tempo que realmente me pertence é apenas este instante - exatamente este de cada letra escrita e lida no papel. O tempo da frase seguinte é uma possibilidade e ainda não me pertence... Alguém poderá retrucar:
- Mas, sempre foi assim...
E eu respondo:
- Claro que sempre foi assim! A vida humana é um presente valioso, que não sabemos quando vai quebrar, se vamos perder, se alguém vai nos tirar... Nunca estamos seguros, não possuímos garantias ou visto de permanência.
O que eu quero dizer é que, inconscientemente, pensamos que temos todo o tempo do mundo pela frente, que realizaremos todos os nossos planos, todos os nossos projetos, colheremos seus resultados, veremos nossos filhos crescerem, casarem, terem seus próprios filhos; pensamos que temos todo o tempo que for necessário para demonstrar o amor, para dar um abraço, um beijo, uma força... Mas, isto é uma expectativa, não uma certeza! Aí, de repente o inesperado acontece... levamos um baque, um grande susto... mas, ainda foi com o "outro"! Só que esse “outro” está ficando cada vez mais próximo... Neste momento nos perguntamos internamente, já quase em pânico, quase sem querer saber a resposta:
- Será que isto pode acontecer também comigo?
Infelizmente, ninguém tem esta resposta! Ela está guardada em algum ponto do insondável tempo futuro. Então, melhor não esperar que ele chegue para tomar alguma providência – pode não dar tempo! Melhor fazer agora o que tiver de ser feito – melhor ainda, fazer agora e bem feito, o melhor que for possível! Uma segunda chance pode não acontecer!
Ocorre com freqüência que, pelo fato de acreditarmos que teremos um amanhã, fazemos hoje uma grande parte das coisas mais ou menos, mornamente, sem entusiasmo, sem paixão - seria mais certo dizer que por pura obrigação! E se o amanhã levar a nós ou ao que temos de mais precioso, sem a chance de nos despedirmos, perdoarmos, revelarmos, abraçarmos, amarmos, permitirmos...?
Será que ser intenso a cada dia cansa? Claro que sempre que for oportuno e bem-vindo... sorrir com vontade, amar com vontade, abraçar com vontade, conversar com vontade, trabalhar com vontade etc, ficar “p” da vida com vontade... hum... não, este último melhor não fazer. Porque deixa um ranço ruim nos outros e em nós mesmos... e pode não haver tempo para consertar!
Mas, parece que pensar em viver cada instante como se fosse o último torna-se uma diária sentença de morte... mas, comprove você mesmo - não é!
Antecipe-se ao futuro e faça tudo para amar, atender; para mostrar a importância que os seres queridos têm em sua vida - hoje, agora! Aproveite cada momento, cada instante que passar junto a eles, mesmo que não sejam momentos perfeitos! Armazene um grande estoque de amor durante este tempo de convívio provocado e consciente - ele lhe dará forças para enfrentar quaisquer situações futuras! Sabemos que experimentar arrependimentos tardios é extremamente doloroso! Melhor trabalhar nos fatos, não em suas conseqüências! O fato real é a convivência - minuto a minuto, dia a dia! Por isso, devemos possibilitar que ela seja amorosa, generosa, respeitosa, humana. Relevar conscientemente pequenos deslizes, esquecer ressentimentos bobos, aproveitar o outro enquanto o temos aqui! Revelarmos, sem reservas, nossos melhores e mais belos sentimentos! Porque a morte física é mais dolorida quando não nos antecipamos a ela, mesmo quando isto atenta contra toda a lógica. É necessário aceitar a fragilidade que é intrínseca à própria vida e não continuar a vê-la como uma fortaleza inabalável e um direito adquirido permanentemente! Devemos conviver com o outro doando mais de nós mesmos a cada dia, para que possamos realizar aquilo que realmente importa. Contrário ao que se possa pensar, é isto que garante a nossa sanidade mental e sensível, e principalmente, A FELICIDADE DO PERCURSO, QUALQUER QUE SEJA O DESTINO!!!
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