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terça-feira, 13 de julho de 2010

Uma segunda chance...

Ele olhou mais uma vez para o painel indicativo de partidas e chegadas de voos. Apesar da confirmação de que a aeronave já se encontrava no pátio, estranhamente os passageiros não chegavam até a sala de desembarque. Mas, ele sabia também que essa aparente demora poderia ter outras causas, em função de que seu coração estava tão acelerado, que os segundos pareciam ter se transformado em minutos e esses últimos pareciam se arrastar como horas... Suas mãos estavam geladas, garganta seca, uma vontade que parecia não caber mais dentro do peito. De novo olhou em direção ao local de desembarque. Finalmente avistou os primeiros passageiros chegarem. Aguçou o olhar, tentando identificar alguém em especial, incomodado de repente por uma umidade incômoda que fazia ameaças de turvar seu olhar. Rapidamente passou os dedos pelos olhos, tentando disfarçar sua emoção.

Procurou por mais alguns instantes até que finalmente viu uma mulher aparecer na lateral da sala e se dirigir à esteira rolante para pegar a bagagem. Apesar do tempo que não se viam, imediatamente a reconheceu! Comprovou que a passagem do tempo havia lhe dado um ar mais sereno, o que a tornava ainda mais encantadora aos seus olhos. Foi inevitável que seu coração acelerasse de novo! Era muita emoção para um só dia! Percebeu ela olhar em direção à porta de saída, talvez em busca de uma certa fisionomia para comparar com aquela guardada em suas lembranças. De repente seus olhares se cruzaram e ele viu o dela se iluminar, enquanto seus lábios se abriam num caloroso sorriso de emoção, alegria e reconhecimento. Ela pegou finalmente sua bagagem e começou a caminhar em direção a ele, os pés se movimentando mais devagar que a sua vontade e seu coração aguentavam esperar.

Apesar de hipnotizados pela emoção, logo ele percebeu que algo estranho e ao mesmo tempo fantástico estava a acontecer! A cada passo que ela dava em direção a ele, sua fisionomia aos poucos se modificava. Seu rosto tornava-se mais suave, enquanto seu corpo acentuava as curvas que tanto o atraíram em outros tempos. Em vão ele passou a mão pelos olhos, tentando sair daquele estado de encantamento ou sonho acordado que de repente tomava conta deles. Assim, à medida que mais eles se aproximavam, mais e mais jovem ela ficava. Intrigado, olhou para seu próprio corpo. Constatou, com um certo alívio, que igual processo ocorria em si mesmo, apesar de não entender exatamente como ou porque isto acontecia! De forma aparentemente inexplicável, eles pareciam voltar no tempo...

Quando finalmente ficaram frente à frente, foi impossível conter a emoção! Seus braços naturalmente se acolheram num abraço apertado e demorado, deixando escapar a saudade reprimida e acumulada durante tantos anos de separação. Seus lábios se encontraram num beijo longo e apaixonado, com sabor de lágrimas, de lembranças guardadas, esperanças recuperadas... Riam e choravam com o avivar de emoções antigas e impossíveis de conter! Olhavam para si mesmos encantados e enamorados, ao mesmo tempo constatando o milagre operado em suas fisionomias. Mas, por mais incrível que isto pudesse ser, concordavam que o maior milagre era estarem ali, frente a frente, tocando rostos e corpos, ouvindo as próprias vozes, suspiros e risos de alegria. A vida lhes proporcionar uma segunda chance era o milagre verdadeiro e realmente digno de comemoração!

Diante de tanta emoção, eles procuraram um lugar para se assentar um pouco, acalmar seus corações, recuperar e unir o fio solto de suas vidas. Tinham muito que conversar! A mesinha de canto do restaurante foi providencial. Entre eles as palavras fluíam sem dificuldades, emoções à mostra. Suas mãos tocavam seus rostos, desvendando mistérios e sentindo outra vez a alegria quase infantil da descoberta! Apesar do barulho à volta, para eles o mundo e o tempo pareciam ter parado. Porque, no fundo, “a sensação que experimentavam agora é que nunca haviam realmente se separado; apenas haviam se despedido por algum tempo – um longo tempo – para dar ao destino a alegria de se reencontrarem"...

Quando o tempo, este implacável senhor que escreve nossos destinos, não consegue apagar ou fazer esquecer o querer verdadeiro que um dia foi fixado em nosso coração, é possível afirmar que um milagre começou a acontecer...

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